segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Reflexões sobre o ano novo

Cada ano que finda em nossa existência temporária na Terra, é uma fração do
tempo que usamos, bem ou mal, em nosso processo evolutivo. O fim do ano é assim
uma oportunidade para avaliarmos nosso bom ou mau uso do tempo, realizando o
balanço de nossa vida, da mesma maneira porque as empresas comerciais procedem
ao seu balanço anual de atividades, lucros e perdas. É tão errado
pensarmos que o fim do ano nada significa, quanto lhe atribuirmos excessiva
importância. O ano chega ao fim: pensemos o que fizemos durante o seu
transcurso, e vejamos o que podemos fazer de melhor, no novo ano. Mas se
verificarmos que perdemos o ano que finda, não nos deseperemos. Há pela frente
um novo ano, ainda intacto, um presente do Eterno, para o nosso desenvolvimento
na duração.





É sempre assim. Geralmente antes do Natal já começamos a refletir sobre o que foi nossa vida neste ano que finda. Ao embalo das vibrações harmônicas deste período, passamos desde segundos, até minutos ou horas avaliando e reavaliando o que fizemos ou deixamos de fazer neste ano.



No texto citado como epígrafe para minhas reflexões, Herculano Pires tece reflexões sobre o Ano Novo num artigo de nome O Ano Novo.


E sua base é o capítulo Uranografia Geral, psicografado pelo astrônomo e médium Camille Flammarion, constante de A Gênese.



É um capítulo interessante e polêmico, mas dentro do ponto em que tentaremos focar nestas reflexões ele cabe bem. Vejamos esta definição:



"O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias".



Diante disto, o fim do ano, por exemplo, nada mais seria que um limite convecional, sem maiores significações para nossas vidas? E para nós espíritas e espiritualistas, em geral, que conhecem a eternidade da alma, não deveríamos levar em consideração estas medidas relativas? Elas teriam mesmo importância?



Aqui vai um lembrete e uma advertência: parto do princípio de que falo para espíritas ou espiritualistas, como meus leitores. Se você, meu caro leitor ou leitora for ateu, agnóstico ou não admita os pressupostos que utilizo como fundamentação para minhas reflexões, peço-lhe licença para esclarecer que não falo daquilo que 'acho' que é ou deve ser, mas daquilo que é. De algo que com o passar do tempo somente acumula provas e mais provas patentes e irrefutáveis.



Esclarecido isto, continuemos.



Esta medida de tempo que utilizamos nos leva a marcar dias, meses, anos. Herculano afirma que 'embora convencional, esta medida tem, portanto, uma realidade que a fundamenta. Contando os anos, estamos contando a nossa percepção do fluir da duração na eternidade, da mesma maneira porque, contando os quilômetros, estamos contando o fluir da extensão na imensidade".


Interessante, não?



Tudo bem, alguns podem objetar ser esta medida relativa. Sim, sim, assim como nossa percepção de tempo e espaço são, para nós, essenciais para seres que vivem no mundo do relativo, do transitório, das formas fugazes.



Entretanto, não tenciono entrar num complexa discussão sobre o que seria o espaço e o tempo, e sobre a sua realidade ou não.



Quero apenas utilizá-los como fomentadores, como preâmbulo, para poder tocar no ponto essencial da mensagem: seguindo o exemplo das empresas comerciais e seus balanços de fim-de-ano, que tipo de avaliação poderemos dar ao nosso ano que já termina?



Herculano nos dá uma dica para podermos nos avaliarmos com equilíbrio: nem desvalorizá-lo nem supervalorizá-lo.



Não devemos nos desesperar porque não fizemos nada do que havíamos nos prometido, nem devemos passar por ele como se nada representasse.



Ponderemos tudo o que fizemos, admitindo com seriedade e serenidade o que fizemos de errado e buscando fincar os pés no chão quando estivermos preparando uma nova lista de prioridades para o ano novo.



Se não fizemos tudo o que desejávamos, ainda temos um novo ano repleto de possibilidades. Se não alcançamos tudo o que queríamos, temos ainda um novo ano para alcançar a vitória.



Aproveitemos as reflexões que já pudemos fazer no Natal, este período que nos impele a pensar com mais serenidade, com mais carinho e com mais sensibilidade.



Apoveitemos pois o o tempo é uma medida relativa das coisas transitórias, pois se o tempo passa, nós, que somos espíritos, somos eternos. Enquanto nosso corpo envelhece, nós permanecemos os mesmos, só que com mais experiências, mais maturidade.



Busquemos conquistar mais conhecimento, mais serenidade, mais paciência, mas compaixão, doar mais antenção aos nossos companheiros de jornada, mais amor, mais carinho, mais atenção.

Mesmo escrevendo às pressas, com a cabeça cansada, espero ofertar à todos uma reflexão sobre a importância de considerar este período, esta data como importante, como sincera, verdadeira. Com um significado que muitas vezes subestimamos.

Muita paz, luz e harmonia à todos vocês em 2009!

E que venha ele, pois como soldados prontos para a guerra, estaremos de pé esperando que as batalhas cheguem, para, como Júlio César, afirmar: Vim, vi, Venci!

Abraços!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Reflexões natalinas

É natal. Como sempre, esta é uma época que acaba nos impulsionando para um estado reflexivo sobre o que andamos fazendo com nossas vidas, pois junto com o natal vem sempre a apreensão e as expectativas de um ano novo.

Passeando pelas ruas e avenidas de Recife, capital pernambucana, especialmente nesta época, nos deparamos com alguns outdoors estampando mensagens da Assembléia de Deus com dizeres mais ou menos assim: "não troque Jesus por Papai Noel", "neste natal parabenizemos o verdadeiro aniversariante: Jesus", entre outras.

De fato, nesta época em que muitos entram numa busca insana, em muitos casos, numa louca corrida atrás de presentes, como manda a expectativa criada e alimentada por nossa sociedade consumista, esquecemos não só do verdadeiro significado do natal, como do seu aniversariante. Tudo bem, existem alguns que não o valorizam. Outros que questionam a validade da data, afirmando ser ela mais provável em janeiro. Não importa.

O que importa é que, convencionada esta data, e o seu ainversariante, nos sobra a seguinte reflexão: o que estamos fazendo com os ensinos dados por ele? Quando ele afirmou que os 'seus discípulos seriam conhecidos por muito se amarem', entendia ele apenas os judeus, os cristãos, os protestantes, ou a todos os que SÃO os seus irmãos e discípulos?

Diante da diversidade de opiniões e seguidores que se fazem a seu respeito e da sua doutrina, quem estaria certo?

E nesta época de natal, nesta época de reflexões que deveríamos estar fazendo, cabe nos anatematizarmos?

O que estamos fazendo conosco mesmos?

E nós espíritas, que compreedemos, ou deveríamos compreender melhor os seus ensinos agora clareados pela Doutrina Espírita, que andamos fazendo?

Nos embrenhamos em contendas infindáveis sobre o que seja ou não 'doutrinariamente correto', à semelhança dos antigos fariseus, buscando ocultar nosso desejo de ter nossa opinião acatada? Desconhecendo muitas vezes como definir o doutrinariamente correto do incorreto, desconhecendo muitas vezes o que seja o Espiritismo, não damos vazão nestes momento à nossos vícios e torpezas morais?

E quando pregamos o autoconhecimento baseado em obras duvidosas, estamos praticando uma busca sincera pelo verdadeiro conhecimento? O ato de analisar e pesar com todo o rigor obras e opiniões deverá ser adiado infinitamente só porque não achamos que nos conhecemos devidamente? E quando se dará isto? Não será uma desculpa semelhante a que damos quando, não querendo assumir a responsabilidade de um trabalho caritativo ou mediúnico, alegamos ainda termos inúmeras imperfeições?

Quando Jesus solicitou a cooperação dos seus discípulos, escolheu os doutos e santos ou procurou aqueles sinceros e incultos trabalhadores, no geral analfabetos?

Isto foi para nos demonstrar a incrível capacidade que temos de transcender nossos limites quando assim o desejamos, além de confirmar que a inteligência quando largamente distanciada das questões morais se perde em querelas inúteis, em arrogâncias e vaidades.

E retornando ao Natal, nesta noite que antecede a ceia que tradicionalmene fazemos, que reflexões devemos e podemos fazer?

O que andamos fazendo de nossas vidas? Que significado estamos dando e ensinando aos nossos filhos nesta data tão importante?

Estamos ensinando-o a priorizar as 'coisas' do espírito, ou a se ater com o que é transitório? Estamos ensinando-o a entender o natal como uma época de reunião da família, com a intenção de fortalecer os laços, de relembrar as lições morais espírita-cristãs, a importância do amor, da sinceridade, da amizade, de que os presentes dados são apenas lembranças [embora eu adore ganhá-los, ainda prefiro mil vezes ter minha família por perto] e não o ponto mais importante da noite, enfim, que é época de agradecermos a Deus por tudo o que temos e somos, e o melhor, por sabermos que se ainda não somos melhores, não é por que estamos fadados a ser assim pelo destino, mas que podemos sim ser melhores, mais amáveis, mais inteligentes, mais caridosos, mais esperançosos.

Pois é, é natal, e ano novo também, que seja feliz quem souber o que é o bem, canta Simone todo o ano.

Que façamos desta frase, nosso estandarte. Que façamos desta data um diferencial em nossas vidas, como o momento em que decidimos ser melhores, sejamos espíritas, umbandistas, espiritualistas, budistas, flamenguistas, rubro-negros, alvi-rubros, católicos, protestantes, o que seja!

É tempo de mudar, de sermos melhores, de não apontarmos os erros dos outros, de sermos pacientes, tolerantes, indulgentes, semeadores de esperança, de consolo, de conhecimentos, de cultura, de sabedoria.

Kardec enfatizou que Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más, e podemos ampliar para todos os que nesta data se esforçam para compreender o verdadeiro espírito do natal: o amor.

Nisto, tirando o exagero que algumas vezes encontramos em certas denominações cristãs, concordo com a mensagem do outdoor: não substitua Cristo por Papai Noel, se isto significar a troca do Amor, em seu sentido divino pelas bagatelas materiais que nossa sociedade doente se acostumou a comercializar. Não se importe com o tamanho do presente, mas, sim, com o tamanho do amor que você oferta a quem você ama. O presente emociona, mas é transitório, seu efeito passa rápido. O amor é eterno, seus efeitos só se intensificam com o passar do tempo.

E aí, que reflexões você anda fazendo neste dia? Que lições estamos dando aos nossos filhos?

Que Deus nos abençoe e nos faça compreender, realmente, o que seja o AMOR.

Que Deus seja louvado!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sobre o Egoísmo

É fato reconhecido que o egoísmo está na raiz dos diversos males sociais por que passa a humanidade. Os diversos conflitos de interesse, as diversas formas de escravizar o próximo para atingir determinados interesses, mesmo os mais vis, sejam materiais ou morais.

Sendo desta forma, importante ressaltar que o egoísmo, ao qual colocamos a culpa de inúmeros males, é apenas uma faceta de um mal maior, raiz, este sim, de muitas das desgraças já acontecidas à humanidade em todos os tempo: o orgulho, pai do egoísmo.

É justamente o orgulho que dá base maior e mais firme, embora irracional, pois o orgulho tem em si um ar de superioridade, uma certeza de que é melhor que os outros, e que não deve favores a outrem mas, sim, são eles que os devem.

Segundo Kardec "julgando-se com direitos preferenciais, molesta-se por tudo o que, em seu entender, o prejudica. Naturalmente a importância que, por orgulho se atribui, o torna naturalmente egoísta".

O egoísmo e o orgulho tem, há que ressaltar, origem num sentimento natural: o instinto de conservação. E este instinto, como afirmam os Espíritos em O Livro dos Espíritos, procede da Lei de Conservação, Lei Natural.

Sobre este mesmo assunto, Herculano Pires escreveu o seguinte em Curso Dinâmico de Espiritismo: "A mais inútil das coisas e os mais prejudiciais dos seres são necessários. E ser necessário é ser indispensável, é pertencer a um elo da cadeia inimaginável que Kardec nos apresenta nesta frase tantas vezes repetida no Livro dos Espíritos: tudo se encadeia no Universo".

Ele diz isto porque o instinto de conservação, em si mesmo é útil para o desenvolvimento do princípio inteligente no seu processo de individualização e evolução. Seu excesso é que é prejudicial.

E é Kardec, novamente, que explica este ponto: "Este sentimento contido em justos limites é bom em si; a sua exageração é que o torna mau e pernicioso".

Importante isto: o instinto de conservação, enquanto dentro dos seus limites naturais, é essencial para o correto desenvolvimento da do espírito, enquanto ser psicológico (ou espiritual, espírito imortal) e orgânico (enquanto preso a um invólucro carnal, passando pelas fases da infãncia, juventude e madureza). Pois durante os primeiros anos de vida (na fase infantil), esta tendência a ser o centro das atenções no seio familiar é um fator característico.

Sobre este ponto, Herculano Pires nos traz uma valiosa contribuição: "Podemos seguir esse processo no caso humano, em que o ego aparece como pivô da personalidade em formação, desde a infância. A criança é egocêntrica, é um pivô em torno do qual giram as atenções e as afeições da família. Ela se torna, naturalmente, no centro do mundo. Porque esse é o meio de consolidação da sua individualidade".

Até aqui, que luz não é lançada para os pais e os educadores, para compreenderem o processo de desenvolvimento, principalmente, das crianças chamadas 'mais difíceis'.

Não é a aura que observaremos na criança para analisar se ela contém em si a essência de um bom espírito, mas nos seus atos, que desde a infância, podemos avaliar. Crianças que ultrapassam este limite natural traçado pelo instinto de conservação, chegando a ser agressivas, rabugentas, indisciplinadas (como por acaso são chamadas algums crianças da 'nova era'), fogem a este padrão e se enquadram justamente nas que desenvolveram (pelo menos hipoteticamente) mais a inteligência que a moral, pois é inconcebível que espíritos bons e benevolentes, quando encarnados se tornem indisciplinados, egoístas, histéricos e violentos quando não são atendidos, chegando a parecer que têm o 'rei na barriga'...

As crianças da 'nova era', como diz Kardec, em A Gênese, no capítulo 'Os Tempos são Chegados', devem ser desta forma:

"A nova geração, devendo fundar a era do progresso moral, distingue-se por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, unidas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal indubitável de um certo grau de adiantamento anterior".

Interessante notar que o trecho seguinte afirma que esta nova geração não será exclusiva de espíritos superiores, mais ou menos avançados, mas de espíritos diversos, sendo que todos possuem em si os elementos necessários para secundar este movimento regenerador: disciplina, noção mais ampla do que seja o amor, sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas. Isto é apanágio de espíritos indisciplinados, notadamente egoístas e arrogantes?

Bom, como vimos, o instinto de conservação, sendo anterior à sua deterioração, quando se converte em egoísmo, é bom em si, como tudo o que vem de Deus. Nós é que o degeneramos.

E sendo a caridade e a fraternidade o resumo de todas os deveres e condições sociais, reclamando também a existência da abnegação, incompatível se torna a coexistência da liberdade, igualdade e fraternidade ao lado do egoísmo e do orgulho. Eles são antagônicos e na presença de um o outro de destrói.

Mas transformar o egoísmo em amor, em caridade, em idulgência, abnegação não é fácil. E foi por isso que Kardec, no mesmo texto já citado de Obras Póstumas afirma que "se quiserdes que os homens vivam como irmãos na Terra, não basta dar-lhes lições de moral".

A educação não deve ser somente aquela que instrúi, mas, e principalmente, aquela que forma o caráter do indivíduo. Essa a que Kardec se refere em O Evangelho segundo o Espiritismo.

Quantas vezes não educamos nossos filhos dentro dos princípios do egoísmo e nos assustamos com o monstro que criamos? Quando o proibimos de dividir seu brinquedo com um coleguinha da escola, de dividir o lanche, de voltar para casa apanhado, entre outras situações?

E aí entra a missão dos pais na educação dos filhos, respondendo não somente pelo bem que fez e o que o intruiu de fazer, mas acima de tudo, por todo o mal que o ensinou, e principalmente, pela omissão em ensinar algo que sabia ser o certo, ou ao menos alertar quanto ao mà conduta já em andamento.

Mas tem gente que afirma que o egoísmo e o orgulho são impossíveis de serem destruídos por serem inerentes ao homem. Se assim fosse, e o homem estivesse fadado ao atraso, à morrer com o egoísmo, porque vemos hoje tantos movimentos em prol da caridade, da fraternidade, sentimentos antagônicos dos primeiros? Porque observamos hoje uma preocupação maior com a prática de atitudes responsáveis, éticas, morais? Será porque o mal é inerente ao homem, ou porque faz parte do seu desenvolvimento como indivíduo assim como a sua libertação de tudo aquilo que lhe é danoso e lhe atrasa o desenvolvimento moral e intelectual?

Kardec ainda afirma que "a causa do orgulho está na crença, que o homem tem, da sua superioridade individual, e aqui se faz sentir a influência da concentração do pensamento nas coisas da vida terrestre".

E afirma em seguida que "a incredulidade, além de não ter meio para combater o orgulho, estimulá-o e dá-lhe razão, pelo fato de negar a existência de um poder superior à humanidade". E não é assim? O homem que não teme o futuro, por acreditar que nada existe após o túmulo, em que se baseia para ser caridoso? Não seria mais atrativo pensar nos seus desejos e nas suas sensações que ficar a se martirizar por alguém ou uma causa em que abandonará pela morte? Para quê se sacrificar em estudos e trabalhos exaustivos se o destino disto é o nada?

Por isso que, não sendo únicas, a crença em Deus e na vida futura, tal como apregoa o Espiritismo, racionalmente, através de uma séria reflexão, é a condição primeira, mais importante para esta transformação. Pois, além de ter em vista o futuro, deve-se analisar com pesar o passado para se fazer uma justa idéia do que se tem e passa no presente.

E a Reencarnação oferece esta possibilidade. Pois se ele apenas considera a vida no hoje, vê as desigualdades e não as pode explicar. Ao passo que se observa o amanhã, com a correta noção do que foi ontem, as consequências dos seus atos são extremamente outras.

Por isso, "no infinito campo, que o Espiritismo lhes põe aos olhos, a sua importância pessoal anula-se, por que compreende que, sós nada valem e nada podem, que todos precisamos uns dos outros não sendo nenhum mais que o outro; duplo golpe desfechado contra o orgulho e o egoísmo"(Kardec, Obras Póstumas).

Léon Denis afirma a mesma coisa em Depois da Morte: "(...)Antes de tudo, o homem é um ser social. Está destinado a viver com os seus semelhantes; nada pode fazer sem o concurso destes. Abandonado a si mesmo, ficaria impotente para satisfazer suas necessidades, para desenvolver suas qualidades".

Mas só aceitamos esta verdade quando, rebaixado o egoísmo, nos despimos da couraça criada pelo orgulho, couraça esta que só nos traz solidão e tristeza.

Entretanto, esta mudança não ocorre de súbito. Ele não pode transcender vícios e sentimentos de súbito. Muita luz o cega, o deslumbra, em vez de auxiliar. O homem precisa de tempo para assimilar novas idéias, novos sentimentos. Precisa do que Kardec chamou de 'maturidade do senso moral' em O Evangelho segundo o Espiritismo.

Por isto, estava corretíssimo Lao Tsé ao se expressar desta forma: "Aquele que vence o outro é forte, o que vence a si mesmo é invencível; quem conhece o outro é sábio, quem conhece a si mesmo é iluminado". (analise o leitor as questões 919 e 919-a)

Pois é muito fácil analisar e apontar os erros do outro. Difícil mesmo é assumir os nossos. E o egoísmo, aliado ao orgulho, é o sentimento mais difícil de erradicar no homem, em vista das mil desculpas que criamos para alimentá-los. Por isto estava e está correto Lao Tsé: conhecer o outro pode nos tornar sábios, gurus, mas o conhecer a si próprio nos torna iluminados. E olha que existem inúmeros exemplos de que isto é verdade.

Para finalizar, "o Espiritismo é, sem contestação, o elemento mais potente de moralização, porque alui os fundamentos do egoísmo e do orgulho, dando sólido fundamento à moral". E mais adiante acrescenta: "Ele encontrou o homem no meio da vida, no ardor das paixões, na força dos preconceitos, e se em tais condições tem operado prodígios, como não operará quando o tomar no berço, virgem de todas as impressões maléficas, quando lhe der, com o leite, a caridade, e o acalentar com fraternidade, quando, enfim, uma geração inteira vier alimentada por idéias que a razão fortificará em vez de debilitar?"

Várias gerações cresceram com os ensinamentos do Espiritismo mas, porque nós não vemos de maneira precisa, a realização desta previsão de Kardec?

Porque, embora não admitamos, estava certo Herculano Pires ao afirmar que "todos falam de Espiritismo bem ou mal. Mas ninguém o conhece. (...) Na verdade os seus próprios adeptos não o conhecem. Quem se diz espírita arrisca-se a ser procurado pra fazer macumba, despachos contra inimigos ou curas milagrosas de doenças incuráveis. Grandes instituições espíritas, geralmente fundadas por pessoas sérias, tornam-se as vezes verdadeiras fontes de confusão a respeito do sentidi e da natureza da doutrina".

Embora hoje, com o andar do movimento espírita brasileiro e mundial, esta realidade esteja sendo retrabalhada, modificada, ainda impera, principalmente aqui no Barasil, esta confusão, este desconhecimento.

E por isso, e por nossa covardia em abraçar um ideal, com medo de perder os 'favores mudanos', de abandonar velhos vícios é que não vemos esta realidade mudar. Não podemos ainda ver com alegria uma geração realmente imbuída dos princípios do Espiritismo, e por que não, das noções mais elementares das Leis Divinas que este ensina e propaga.

Entretanto, esta é uma realidade que se ainda não a vemos, temos a certeza e a fé que, traalhando todos unidos, de maneira séria e perseverante, poderemos, ao desencarnar, vislumbrar um pouco daquilo que será a Humanidade quando as crenças espíritas, seus princípios mais elementares estiverem disseminados em nossa sociedade, provocando uma renovação social, uma transformação real no dia-a-dia de cada um de nós. Aí poderemos sorrir satisfeitos por termos feito nossa parte, sabendo que os Espíritos continuarão, como sempre estiveram, fazendo a parte deles, ensinando o amor, destruindo o egoísmo e o orgulho, assim como todos os vícios inerentes a eles. Aí veremos a Era do Espírito brilhar!

Pensemos nisso!

Bons estudos e até a próxima!


Nota: este texto nasceu do estudo e preparação de uma palestra que proferi no C.E. Paz, Luz e Harmonia ao qual sou associado, no dia 02/12/2008 sobre o mesmo tema.

domingo, 23 de novembro de 2008

Convite à reflexão



Olá meu caros leitores e, por que não dizer, amigos!

Estou de volta após longos 25 dias, para escrever sobre um livro que estou terminando de ler e que resolvi indicar a todos que se interessem por boa leitura.

Este livro é de autoria de Deolindo Amorim, conhecido escritor e divulgador da Doutrina Espírita, e que agora como espírito vêm nos trazer, aliado aos seus conhecimentos adquiridos, um ponto de vista mais amplo, consentâneo com o que a vida espiritual pode lhe proporcionar quando temos olhos de ver.

Segundo Pedro Camilo, que escreveu o texto de apresentação do livro: Convite è reflexão é um livro que fala por si mesmo. Suas palavras hão de calar bem fundo no coração e na mente de muita gente. Espero que toda essa gente possa se despir de preconceitos, receios e ressentimentos, a fim de se debruçar, com espírito de isenção, sobre suas páginas eloquentes, delas extraindo os verdadeiros "gritos de alerta" que as lições de Deolindo trazem para todos.


Neste livro, o autor aborda assuntos como a relação dos espíritas com a doutrina, problemas familiares e educação, livros e editoras espíritas, mediunidade e ciência, ciência espírita, globalização e tolerância entre outros.


Fragmentos:

" O Espiritismo não se resume aos fatos mediúnicos: há um imenso corpo filosófico de orientação para a vida, uma visão de mundo capaz de fornecer elementos para a vida individual e a vida coletiva, preparando o homem, no seu amadurecimento espiritual, para atingir mais altos níveis de existência. Entretanto, é justo compreender que a mediunidade ofereceu a base de apoio com a qual a doutrina se constituiu como revelação divina em benefício do homem (...).

Não se pode, em razão disto, descuidar do aperfeiçoamento da instrumentação mediúnica, como, aliás, ocorre em toda ciência (...).

A mediunidade é a ponte que possibilita a progressividade da doutrina ao permitir o intercâmbio entre os habitantes de duas regiões da vida, gerando a oportunidade de crescimento individual e coletivo(...).

Sem dúvida, o contínuo exercício mediúnico é fator preponderante: um dilatado relacionamento no tempo com os espíritos em geral, ou com determinado espírito em particular, facilita a formação de campos magnéticos úteis para a comunicação, tanto mais necessários quanto maior é a elevação do espírito, obrigado, no processo mediúnico, a adaptar-se às qualidades do intermediário que deseja utilizar no intercâmbio(...).

Não basta, porém, o simples exercicio para conferir ao medium a possibilidade de comunicar-se com determinados espiritos (...). Destarte, quando os espíritos pertencem a categorias mais avançadas, é necessário que o médium ainda mais se aperfeiçoe moralmente (...). Médium mais aperfeiçoado é sinônimo de médium mais evangelizado (...).

A mediunidade, no que se refere à qualidade do produto, ao conteúdo da mensagem, depende indiscutivelmente da moral do médium, porque sua conduta é o ímã que atrairá os espíritos bons(...).

O médium, sobretudo quando se mostre incapaz de avaliar o trabalho recepcionado, deve submetê-lo a pessoas mais competentes, mesmo que não sejam espíritas, facilitando, com as críticas e os esclarecimentos, a aquisição da segurança necessária e desejada.

O médium deve precaver-se de tudo aquilo que o coloque em destaque e coinsiderar-se apenas um trabalhador como os outros em determinada tarefa específica, porém não a única de impotância dentro do movimento doutrinário".

(Trechos do capítulo 13, intrumentação mediúnica, páginas 79 a 84)


É um livro de alta qualidade e que eu recomendo a todos!

Boa leitura e bons estudos!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Uma pausa para um descanso....

Muitas vezes, no ritmo frenético que nossa sociedade consumista e atulhada de informações, sem o devido tempo para digerí-las, nos impõe, não conseguimos sequer realizar uma prece decente no dia-a-dia, quiçá acompanhar o crescimento dos filhos...

Para quem estranhou este início de postagem, eu explico: minha vida ultimamente (ultrapassando uma média de 8 horas trabalhadas) anda tão corrida, que as vezes me pego sem nem ter parado para fazer uma prece (decente), dar uma bom dia (decente) para quem amo, ou brincar e me divertir à exaustão com meu enteado, ou melhor, meu filho do coração.

E desta forma, não só vou seguindo sem tempo para quem tanto precisa de mim, como também acabo não tendo tempo para mim mesmo, para minhas reflexões (mesmo sendo poucas....), para meus divertimentos, para minhas leituras (há que saudades de poder passar uma tarde lendo um bom livro!), para uma boa música, ou para vadiar apenas, buscando um tal ócio criativo....

Mesmo sendo espírita, estudando (ou tentando estudar constantemente), fazendo parte de trabalhos mediúnicos quando o tempo me permite (e lá se vão 3 meses de intermitências nestes trabalhos), e mesmo assim, engolfado por esta mesma rotina que vai minando as energias de milhões de brasileiros, as vezes pareço me esquecer que sou um Espírito imortal, que nesta terra de meu Deus tudo é transitório, é passageiro, fulgás, e por isto mesmo tenho que me apegar ao que é valioso, verdadeiro, realmente importante; esqueço que somos seres individuais, pensantes, dotados de livre-arbítrio, mas mesmo assim, influênciaveis; somos seres gregários, ou seja, não vivemos sozinhos, sempre buscamos alguém, um outro; também por ser espírita, as vezes esqueço, conforme nos lembra a questão 459 de O Livro dos Espíritos, que mais do que supomos, tão grande é a influência dos espíritos sobre nós que geralmente são eles que nos dirigem; enfim, esqueço a dinâmica da própria vida, ou, ao menos não me permito apreendê-la devidamente!

Passamos pela vida, geralmente, quase que em um estado letágico, pois o que vemos, não é bem o que vemos, ou deveríamos ver; o que ouvímos, geralmente sofre a influência de um terceiro (encarnado ou desencarnado), que tende a nos estimular a focar um ponto da mensagem que geralmente seria por nós, em estado "desperto" um dos últimos, causando assim sérias, ou pequenas, desavenças; o que pensamos, de ordinário, representa, num processo doentio de um parasitismo espiritual, os desejos e vontades de outrem, ou outrens, e não os nossos, ou só nossos, ou, no mínimo, não são os mais corretos desejos e vontades que deveríamos ter.

Passamos sonolentos pela vida, sem tentar levantar um dedo sequer (por preguiça? por falta de quem nos estimule?) para tentar sermos, quando o bem compreendemos, livres, senhores de nós mesmos, autores de nossa própria história. Donos de nossas próprias vidas e com reais capacidades de amar e sermos felizes!

Não praticamos o bem, por o acharmos dispendioso. Não praticamos a tolerância por acharmos que temos razão em brigar, em forçar alguém à acordar para nossas idéias, em buscar o nosso espaço "custe o que custar". Ou, falar a verdade, sempre, mesmo em horas inconvenientes. Não somos pacientes, ou não tentamos ser. Nao admitimos erros ou falhas de nossos cônjugues, ou namorados (as), ou noivas (os), pois idealizamos (com auxílio de outras mentes) a mulher (ou homem) perfeitos.

Enfim, muitas vezes, realmente vivemos a vida de um outro que não somos nós, definitivamente!

E desta forma, somos arrastados pelo turbilhão que é nossa sociedade contemporânea, com gostos, tendências e celebridades tão efêmeros, tão fugidios quanto o próprio tempo!

E desta forma, refeltindo assim, e de tantas outras formas, foi que me vi parado, observando a vida passar por entre meus olhos, sendo quase arrastado pelas "necessidades" da vida cotidiana, sem tempo para mim, para minha vida, para meus afazeres, minhas refelxões, minhas paixões, para Deus!

E também desta forma, tão repentina quanto a vontade de escrever este texto, divido com vocês o meu desejo de que possamos realmente assimilar a mensagem trazida para nós por todos os Espíritos que formaram o grupo de Codificadores Espirituais da Doutrina dos Espíritos. Sem esquecer da figura importante que é o Espírito Verdade, que vem, como outrora, cuidar das ovelhas desgarradas que precisam de auxílio.

A força da Doutrina Espírita, não por acaso, como bem definiu Kardec, na sua conclusão ao O Livrio dos Espíritos, está na sua Filosofia, no apelo que faz à razão, na sua capacidade de despertar, educar e fortalecer o ser em sua/para sua caminhada evolutiva, em busca da felicidade, do amor, da paz, da sabedoria.

E fico agora, pensando se a pausa a que me propus, foi de descanso ou desabafo? Eh! Bem, independente disto, o recado está dado: todos nós precisamos de uma pausa para descansar, para aproveitar a vida, nossa família, nossos amores (grandes e pequenos...=]), para nos lembrarmos, que somos espíritos, que somos imortais, que já vivemos, já sofremos e que precisamos sair deste cículo vicioso, de depender de outras mentes, de aceitar suas influências perniciosas.

Pensemos nisto!

A todos bons estudos, boas reflexões.

sábado, 11 de outubro de 2008

Palavra do Herculano

Vez por outra, tentarei trazer para cá alguns trechos relevantes de obras de autores espíritas que mereçam ser apresentadas ou relembradas.

Quem vem abrir esta sequência é alguém que me ensinou (e ensina ainda) muito através de suas obras, que deu um belíssimo exemplo de vida, que defendeu a Doutrina Espírita como poucos, enfim, alguém que fez sua inteligência brilhar em muitos campos onde pousou sua pena: J. Herculano Pires.

E o trecho pinçando é do prefácio da obra Diáletica e Metapsíquica de uma outra figura importantíssima: Humberto Mariotti.

Uma nova civilização

Se não houver, neste momento, a ação da alavanca da Filosofia Espírita, salvando o Espiritismo da "ingenuidade popular" e transformando-o, não mais em simples crença, mas em conhecimento, o processo natural desse entrosamento pode ser desvirtuado, pelo trabalho de sapa das forças contrárias.

Aos espíritas, portanto, cabe o dever indeclinável de lutar para que esse entrosamento se realize. A bibliografia espírita, quiçá insuperável pela de qualquer outro movimento filosófico, deve descer das estantes e penetrar nas massas, para não se submeter à "ingenuidade" destas, mas para orientá-las no sentido da sua libertação moral, espiritual, intelectual e social. Para tanto, é necessário um novo trabalho de elaboração, de aglutinação, de sistematização do conhecimento espírita, na forma de compêndios culturais e de manuais populares.

O aspecto religioso ou "ingênuo" do Espiritismo salvou-o da indiferença e da hostilidade conjugada de todas as forças dominantes do século 19 e do século 20, escondendo-o no coração do povo, onde ele viveu e progrediu em silêncio, e permitindo, ao mesmo tempo, o trabalho cultural dos intelectuais espíritas. Temos hoje uma população espírita no mundo, e temos uma cultura espírita.

Mas não temos a sociedade nem a civilização espíritas e nem mesmo a necessária e prévia ligação entre as massas espírita e a cultura espírita, para a criação daquelas. Estamos, porém, no caminho dialético do desenvolvimento de uma nova civilização, e se compreenderms isso, lutando para alcançar o futuro, chegaremos lá.

Encerro aqui este tópico de abertura, que se houver necessidade faço uma análise deste texto para melhor o compreendermos.

No mais, deixo um algo para pensarmos:

Excessos de gentileza
Em O Centro Espírita
O Espiritismo é natural e exige naturalidade dos que pretendem vivê-lo no dia-a-dia, em relação simples com o próximo. Os maneirismos, as modulações artificiais da voz, os excessos de gentileza mundana e tudo quanto representa artifício de refinamento social, deformando a natureza humana e a pretexto de aprimorá-la, não encontram aceitação nos meios verdadeiramente espíritas. O que o Espiritismo objetiva é a transformação interior das criaturas.

Boas reflexões e bons estudos!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um rápido olhar sobre a XVII Mostra Espírita de Pernambuco

Nos dias 27 e 28 de Outubro deste ano, entre os horários de 08:30 as 18:30, foi realizada a XVII Mostra Espírita organizada pela Federação Espírita Pernambucana em homenagem à uma obra de valor inigualável: A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo.

Um evento deste porte é sempre digno de ser lembrado e comentado. E é isto o que desejo fazer aqui. Louvar pois o movimento espírita pernambucano, embora esteja dando mostras de tentar de se organizar melhor, ainda sofre com a falta de eventos que promovam e proponham projetos e objetivos que viabilizem e fortaleçam o Espiritismo em nossas terras. Não em questão de quantidade, que decerto se ampliaria. Mas em questão de qualidade, com Espíritas [com 'e' maiúsculo mesmo] mais conscientes, mais moralizados, mais ativos, mais pensantes.

Pois, certa vez, organizando uma palestra sobre a juventude e o trabalho espírita, lembro que em um dos muitos artigos que li [desculpem-me a falha da memória...] havia um comentário sobre como um movimento 'religioso' [ou doutrinário, filosófico, para os mais 'invocados'...] que muitas vezes, entre efetivos e temporários, conta, somente em nosso estado, num palpite, com algo em torno de 18 mil trabalhadores consegue obter resultados ainda tão pífios, embora sejamos, senão os primeiros, pelo menos entre os primeiros grupos religiosos-filosóficos-doutrinário-filantropos, que mais se dediquem à causa voluntária. Embora a boa vontade da imensa maioria dos trabalhadores, ainda há uma expressiva ausência de conhecimentos específicos sobre o que se faz, e... enfim, para não fugir do assunto, embora tudo o que tentei ressaltar acima, eventos que reunam adeptos para estudo, que aprofundem cada um dos ramos fecundos da Doutrina Espírita, ainda são meio escassos em nosso território.

Pequenos eventos, em localidades diversas existem, mas congressos, fóruns de debates onde todos debatam mesmo, onde haja a formentação, ainda são poucos.

Entretanto, retornando à Mostra Espírita, fiquei muito feliz por ter participado, principalmente por ser a primeira vez a que me dava ao 'luxo' de tal tentame. O tema deste evento foi o que mais me entusiasmou. A Gênese!

Que raciocínios, propostas, reflexões, e debates não se podem obter analisando esta obra? Desde uma melhor orgaização e fundamentação sobre a teoria que vai 'do átomo ao arcanjo' [q. 540 do LE*], até as criações fluídicas, as idas e vindas de espíritos, em todos os tempos, como lei natural, desmistificando uma onda 'modísitca' sobre certas crianças, uma melhor abordagem sobre o que de fato seja a revelação espírita e como ela se dá, enfim, são inúmeras as reflexões e propostas que podemos retirar de um estudo sobre esta obra. E nem se fale no papel da ciência neste quesito! Kardec também fez o favor de analisar este assunto.

Entretanto, verdade seja dita, embora tudo o que ressaltei sobre o evento, sobre aquilo que formentava as idéias em minha cabeça, grande também foi minha surpresa ao ver que aquilo que eu esperava não aconteceu.

Objetividade! Foi uma palavra que faltou para alguns palestrantes. Não que sejam ruins, que não saibam apresentar o assunto, ou qualquer outra idéia que passe na sua cabeça, caro leitor, não foi nada disso. E minha intenção não é denegrir nem os expositores nem o evento, que, REPITO, me deixou feliz, embora que com gosto de quero mais, por faltar o assunto principal em certos momentos. Mas....bem....retomando o assunto, a objetividade foi algo que em alguns momentos faltou e o que poderia ser melhor analisado, melhor apresentado, novas idéias, novas reflexões, um trecho escondido que nos abra a cabeça para uma outra ordem de assuntos, paralelos com as pesquisas da Ciência de nosso tempo sobre o mesmo assunto...Enfim, algo que sabemos que vai sendo corrigido com o tempo.

Embora que, como citei mais acima, às vezes, este retorno às bases, com uma melhor capacitação do trabalhador espírita, com a formentação de grupos de estudos nos diversos centros, grupos de ESDE, ESTEM, EADE, ou qualquer outro grupo que estude a Doutrina dos Espíritos tendo como base do edifício a CODIFICAÇÃO [ não apenas o pentateuco, que desculpem alguns, êta palavra infeliz, pois nos faz ter a falsa idéia de que a Revista Espírita, o livro O Que é o Espiritismo e todas as outras obras escritas por Kardec são secundárias, sem muita importância, o que diga-se de passagem é justamente o contrário....qualquer dúvida, atente-se para o item 35 de O Livro dos Médiuns.], enfim, que desta forma, isto facilitaria uma melhor organização dos expositores sobre a profundidade do tema que irá abordar. Ou seja, sobre se vai ao âmago da questão e traz à tona pensamentos mais complexos, ou se só come pelas beiradas. Eu fiquei com a sensação de que foi assim que eles se sentiram...

Para resumir e encerrar esta resenha sobre o evento, já que falei sobre um monte de coisas, cutuquei onça com vara curta, já que tem gente que não irá gostar do que escrevi, o que não posso fazer nada, pois é apenas minha opinião, sincera, franca, de quem deseja que esta árvore frutifique mais e mais, o evento, embora esta falta de objetividade de alguns, foi bom; principalmente para uma primeira análise de minha parte que não tenho parâmetros para comparar com outros anos, com outros expositores, com outros assuntos....

Para quem não pôde, ou não quis ir, um conselho: não perca o próximo! Você perdeu uma ótima chance de sair de lá com um algo mais dentro de si, pois se não saiu [como eu] satisfeito plenamente com a abordagem do tema feita pelos expositores, ao menos sairia tocado fundamente na alma com as últimas palavras de Ana Guimarães, umas das participantes....

Bons estudos [reitero a dica do item 35] e boas reflexões!

Nota importante: mesmo com um surto de falta de tempo, tentarei programar a publicação de alguns artigos sobre assuntos como Perispírito, Magnetismo e Passes, Sonambulismo, entre outros assuntos. Que Deus me abençoe e os bons espíritos me inspirem a escrever nem que seja desdobrado!

sábado, 20 de setembro de 2008

Da Reencarnação

“Quando se fizer, no futuro, um levantamento dos grandes equívocos do pensamento humano, um deles avultará de maneira singular, entre os maiores: o abandono da doutrina da reencarnação. Creio não exagerar ao dizer que larga parte das mazelas que assolam a civilização moderna se deve ao desconhecimento dessa idéia tão simples e de tão importantes conseqüências morais para o ser humano”. (Hermínio Miranda, in Reencarnação e Imortalidade, capítulo 2)

Todos os estudantes de Espiritismo bem sabem que a Reencarnação, embora sendo um dos seus pilares, não é invenção sua muito menos novidade para a humanidade. Conquanto alguns poucos pensadores, a despeito de sua influência, pensem o contrário, grandes pensadores, cientistas, educadores e filósofos já abraçaram esta doutrina de forma oculta ou pública.

Desta forma, não sendo invenção de espíritas, rápido se percebe ser ela o pilar das mais antigas tradições religiosas do mundo, sejam orientais, sejam ocidentais.

Só para constar, apesar da intensa perseguição que sofre, ela aparece e reaparece no mundo, às vezes com outras roupagens, mas sempre a mesma idéia. Se não, vejamos:

Na Índia, tantos nos Vedas, os documentos religiosos mais antigos da história humana (datam em torno de 10 000 a.C.), e os Upanishades, seus textos complementares, fazem diversas citações sobre o retorno do ser humano (Espírito) em outro corpo físico.

No Jainismo, doutrina que data do século VI a.C., é uma rica e influente derivação do Hinduísmo, constando em sua filosofia o seguinte: “Nossa vida presente nada mais é do que um elo da grande cadeia do círculo transmigratório”; ou seja, da reencarnação.

No Budismo e em sistemas filosóficos diversos ela é a mola mestra.

Pitágoras, Hermes Trimegisto, Sócrates, Platão, Ovídio, Vígilio, Orígenes no passado foram alguns dos seus ilustres defensores.

Na Idade Média, pela força da Igreja Católica, o medo do inferno e da fogueira mantiveram a reencarnação como ensino oculto. Mesmo assim, poucos não foram queimados na fogueira por apresentarem indícios de faculdades mediúnicas, conhecimentos vastos sobre o poder curativos das plantas, ou por acreditarem na reencarnação, contrariando assim, a santíssima Igreja.

Nos séculos seguintes, importantes figuras do cenário científico, literário e filosófico mundial a professaram publicamente: Balzac, Victor Hugo, Théophile Gautier, Benjamim Franklin, Pascal, Goethe, Henri Ford, Gandhi, William Crookes, Schrenk-Notzing, Charles Richet, Alfred Russel Wallace, Monteiro Lobato, Bezerra de Menezes foram alguns dos muitos que ousaram colocar sua reputação e credibilidade em risco por aceitarem, não cegamente nem por imposição, mas por fatos incontestáveis, insofismáveis, a realidade espiritual do ser, do Espírito Imortal.

Pela pesquisa, estudo e experimentação com todo o rigor científico que lhes foi possível, é que suas consciências se sentiram inclinadas, forçadas mesmo, a aceitar a reencarnação.

Também conhecida como Palingenesia (do grego Pali: de novo e genesis: nascimento) ou Doutrina das Vidas Sucessivas, ela é hoje, mais do que nunca, malgrado os céticos e descrentes, a única resposta satisfatória que resolve os problemas do mundo, do ser humano, do seu progresso, das desigualdades sociais, das deficiências morais e físicas, enfim, que dá um alicerce firme para socorrer a dignidade humana.

Trazendo respostas para as clássicas perguntas: de onde sou? Porque aqui estou? Para onde vou? E ampliando ao infinito a responsabilidade dele para consigo, para com o outro e para com a natureza como um todo, na busca de uma adequação aos valores que antes não lhe tocavam as mais profundas fibras da alma; na capacidade de tornar palpável e compreensível o seu presente, passado e futuro; de tornar inabaláveis os laços que nos unem aos seres que amamos, com quem convivemos dez, vinte, trinta anos de nossas vidas e a quem aprendemos a respeitar, amar e querer bem; nos demonstra que o que aprendemos não é sem fundamento pois, sejam os conhecimentos vividos no cotidiano, sejam os conhecimentos acadêmicos, eles não se perdem, antes se avolumam, se aprimoram, dando-nos a capacidade de, se não hoje, amanhã, domina-los.

Mas como há quem a ache um móvel para que possamos desafogar nosso desespero ante a certeza do nada. Como uma desculpa ‘inscrita’ no nosso DNA numa tentativa ridícula, para seres que mal sabiam articular idéias mais complexas e abstratas, como éramos no passado, de tentar minimizar o terror que a idéia do nada nos infundia.

Entre estes que se opõem e os que são a favor, quanta distância, a começar nos discursos.

Enquanto uns apenas teorizam, com poucos e fracos indícios a favor de suas teses, aqueles que defendem a doutrina da reencarnação não só apresentam um corpo teórico muito mais abundante, rico e coerente, como tem em apoio a suas deduções (pois se está na Natureza não é criação do homem) provas e fatos os mais diversos, irrecusáveis, insofismáveis. Quem duvidar que se ponha a pesquisar sobre o assunto.

Aproveitando o ensejo, para quem quiser algumas fontes, no fim do texto iremos dispor de algumas obras que versem sobre o assunto.

Atualmente, há uma crescente retomada nas pesquisas acerca dos assuntos relacionados com a Espiritualidade do ser, com a existência de Deus e com a imortalidade da alma.

Ian Stevenson, Brian Weiss, Amit Goswami, no exterior, são alguns dos nomes que podem ser usados como referências.

No Brasil, a lista é enorme, e toda ela, ou quase, relacionada a estudiosos, pesquisadores e escritores espíritas. Poucos são os que, não citando os Espiritualistas iniciados nestes conhecimentos, se aventuram a tentar compreender e proclamar abertamente suas crenças.

Enfim, de tudo o que foi escrito, sei que foi pouco, pois não tenho a pretensão de ultrapassar, neste texto, os limites de uma resenha; como ia escrevendo, fica-nos a certeza de que não ‘cremos’ em algo que foi moldado em nosso DNA, como dizem alguns geneticistas céticos, mas compreendemos algo que faz parte da Natureza, como uma de suas Leis, que nos faz progredir, melhorar, transcendermos nossos limites. Compreensão essa baseada em amplos, profundos e diversos estudos e fatos!

E lembrando a citação inicial, sobre a surpresa ao elencarmos os nossos maiores equívocos, de que o esquecimento (voluntário?) da doutrina da reencarnação seria, de longe, o maior erro já cometido: certo estava o Hermínio!

Bons estudos!


Bibliografia para pesquisa:
Imortalidade e Reencarnação, Hermínio Miranda.
Vidas Sucessivas, Albert de Rochas.
Muitas Vidas, Muitos Mestres, Brian Weiss.
A Física da Alma, Amit Goswami.
Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação, Ian Stevenson,
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.
O Espírito e o Tempo, J. Herculano Pires.
O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Leon Denis.


Nota: este texto nasceu após eu preparar, em rascunho, uma palestra sobre este mesmo assunto no Centro Espírita a que sou filiado, com base nas questões 168, 169 e 170 de O Livro dos Espíritos. Ressalto também que nem de longe era minha intenção fazer um primoroso e, por que não, volumoso trabalho sobre o assunto. Quis tão somente dar umas pinceladas sobre o assunto da melhor forma possível.

* Artigo publicado na edição de fevereiro da Revista Internacional de Espiritismo.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Recomeços Necessários

A lei dos renascimentos rege a vida universal.

Com alguma atenção poderíamos ler em toda a natureza, como em um livro, o mistério da morte e da ressurreição.

As estações sucedem-se no seu ritmo imponente.O inverno é o sono das coisas.

A primavera é o acordar.

O dia alterna com a noite.

Ao descanso segue-se a atividade.

O espírito deixa o corpo físico e adentra as esferas espirituais, para retornar e continuar com forças novas a tarefa interrompida.

As transformações da planta e do animal não são menos significativas.

A planta morre para renascer, cada vez que a seiva volta. Murcha para reflorir.

A larva, a crisálida e a borboleta são outros tantos exemplos que reproduzem, com mais ou menos fidelidade, as fases alternadas da vida imortal.

Como seria possível que só o homem ficasse fora do alcance desta lei?

Se tudo está ligado por laços numerosos e fortes, como admitir que nossa vida seja como um ponto atirado, sem ligação, para os turbilhões do tempo e do espaço?

Nada antes, nada depois!?

Não.O homem, como todas as coisas, está sujeito à lei eterna.

A natureza não nos dá a morte senão para nos dar a vida.

A sucessão das existências se apresenta para todos nós como uma obra de capitalização e aperfeiçoamento.

Depois de cada existência terrestre a alma ceifa e recolhe as experiências e os frutos dela decorridos.

Todos os seus progressos ficam registrados em sua essência.

Assim, o ser, em todas as fases de sua ascensão, encontra-se tal qual a si mesmo se fez.

Nenhuma aspiração nobre é estéril.

Nenhum sacrifício é vão.

A alma deve conquistar, um por um, todos os elementos, todos os atributos de sua grandeza.

Para isso precisa de obstáculos que possam lhe oferecer lições, provocando seus esforços e formando suas experiências.

É indispensável a luta para tornar possível o triunfo e fazer surgir o herói.

Só se conhecem e se apreciam os bens que se adquirem com os próprios esforços.

E assim, nessas contínuas peregrinações, segue à procura das perfeições divinas.

Somente quando alcançar as regiões superiores, estará livre da lei dos renascimentos, porque, então, o corpo físico não será mais para ele uma necessidade.

Pense nisso!

A doutrina da reencarnação explica a desigualdade das condições, a variedade das aptidões e dos caracteres.

Dissipa os mistérios perturbadores e as contradições da vida e resolve o problema do mal.

Aproxima os homens, dizendo que entre eles não há deserdados nem favorecidos.

Esclarece que cada um é filho de suas próprias obras, senhor do seu próprio destino.

A justiça deixa de ser transferida para um domínio distante e desconhecido.

E assim, não há como ignorar que a vontade ativa de cada ser gera efeitos, imediatos ou não, bons ou maus, que recaem sobre o seu responsável, formando a trama de seu próprio destino.

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no capítulo XVIII do livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor, de Léon Denis.

Pensemos nisto!

terça-feira, 15 de julho de 2008

Mediunidade - Algumas breves observações do Profº. J. Herculano Pires

Sessão mediúnica - Doutrinação



"No tocante à mediunidade é necessário o mais rigoroso critério Kardecista, baseado nos livros específicos de Kardec: 'Instruções Práticas sobre manifestações Espíritas' e 'O Livro dos Médiuns'. Essa é a base necessária e insubstituível do estudo e do ensino da mediunidade. Livros como 'No invisível' de Leon Denis, e os livros de orientação mediúnica de Emmanuel e André Luiz podem também ser usados como subsidiários, mas jamais colocados como obras básica s da doutrina. Sem esse critério, muitos Centros e Grupos e até mesmo grandes instituições, caíram num plano de misticismo igrejeiro e de autoritarismo.



Precisamos compreender que lidamos com uma doutrina revolucionária, que deve modificar a rotina espiritual da Terra, abrindo-lhe as perspectivas de uma nova concepção do Espírito.

( A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Há alguma regra para a execução do trabalho mediúnico ?



Não há regras específicas e formais para a realização das sessões espíritas. Entre a prece de abertura e a de encerramento desenvolvem-se as manifestações mediúnicas, sob a orientação e muitas vezes a interferência de espíritos dirigentes.



O sistema autoritário, em que o presidente determina aos médiuns receberem as comunicações, uma de cada vez, provém da recomendação do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto. Nas reuniões de Kardec, mesmo nas psicográficas, havia ampla liberdade, permitindo as conversações entre espíritos comunicantes, às vezes através de vários médiuns. Léon Denis usava também de liberdade em suas sessões.



Cabe aos espíritos protetores determinar quais os espíritos que devem comunicar-se e quais os médiuns em condições de recebê-los.



O dirigente humano da sessão tem a função de mantê-la equilibrada, orientar o decorrer dos trabalhos e intervir, quando necessário, nas doutrinações e no reajustamento da concentração.

( A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Comunicações Simultâneas



Se há muitos médiuns à mesa, há naturalmente a possibilidade de se atender a número maior de espíritos comunicantes através de vários doutrinadores. O que importa na doutrinação não é o muito falar, mas o falar com propriedade e com amor, procurando-se atingir a consciência e o sentimento do espírito.



Uma sessão espírita é um ato de amor. Não é uma cerimônia destinada à finalidade egoísta de nos livrar de espíritos-parasitas, por nós mesmos atraídos e alimentados, mas o objetivo de levar ajuda espiritual aos que padecem. O Espiritismo nos ensina , como ensinou Jesus, que somos todos irmãos e companheiros, criados por Deus para o mesmo destino de transcendência, de elevação espiritual. Esse é o pensamento central da compreensão espírita e precisamos dar-lhe eficácia, traduzi-lo em ação.

(A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Críticas a os Trabalhos públicos.



Há que discorde desses trabalhos públicos, alegando as exigências de Kardec na Sociedade Parisience , quando não permitia a presença nas sessões de pessoas que não tivessem algum conhecimento doutrinários.



A maioria absoluta das pessoas que procuram as sessões é necessitada, tratando-se geralmente de médiuns em franco desenvolvimento de suas faculdades. Negar-lhes acesso às sessões seria como negar a um sedento acesso a uma fonte. A mediunidade não se desenvolve por acaso e muito menos sob o poder mágico da vara de Moisés, que tirou água da rocha. Em geral, o desenvolvimento mediúnico começa por diversas perturbações e não raro por processos obsessivos. Não se pode querer que uma pessoa em estado de alteração psíquica á primeiro estudar uma doutrina através de cursos demorados para depois submeter-se aos métodos de cura.

( A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Conjugação de vários trabalhos com a Doutrinação



As sessões mediúnicas normais não se restringem à pratica mediúnica.. iniciam-se os trabalhos com leitura e preleção evangélicas, de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo' . A seguir, há uma exposição doutrinária que prepara os freqüentadores para os trabalhos práticos. Os médiuns em desenvolvimento recebem a mensagem evangélica e os ensino doutrinários em dosagens apropriadas e , a seguir, participam do trabalho mediúnico. Isso concorre par uma compreensão simultânea da doutrina, de sua natureza cristã, de sua moral evangélica e das sessões . mas é evidente que a preparação das matérias permite reduzira parte oral aos limites necessários. Além desse processo sinérgico ou gestáltico, em que o iniciante adquire desde logo uma visão global da doutrina e da sua prática, o Centro pode manter, quando possível, um curso especial de doutrina em outro dia e horário.



Quando possível, é conveniente entercalar os passes entre a parte evangélica e a doutrinária. Se isso prolongar demais a sessão , pode-se estabelecer uma sessão especial para os passes, sempre iniciada com uma exposição sobre o assunto.



A vantagem de se fazer tudo em seqüência, numa única sessão , é a de se dar ao iniciante, em doses apropriadas e na seqüência natural do tempo, na prática, a compreensão da unidade do problema Espírita. Essa compreensão, infelizmente, falta até mesmo a veteranos do trabalho espírita, em virtude da dispersão e até mesmo da restrição das práticas tradicionais apenas a um aspecto da doutrina.



Tratamos aqui da sessão mediúnica comum, não da sessão específica de desobsessão. Para isso, os Centros bem orientados dispõe de sessões especiais, privativas, com médiuns e doutrinadores capacitados, e, sempre que possível coma participação de médicos espíritas conhecidos por seu desinteresse profissional em casos de ordem doutrinária.



Quando o sistema é bem aplicado, contando com elementos humanos dedicados, os resultados são sempre surpreendentes. Não se trata de uma inovação, mas apenas de uma conjugação de práticas tradicionais que, reunidas e articuladas , produzem mais e melhor.

(A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Sessões de Doutrinação (Abertas)



Precedidas sempre de uma prece, realizam-se à meia luz, para facilitar a concentração mental dos participantes. Essas características levam os adversários do Espiritismo a classificá-las como reuniões de magia ou de misticismo inferior. Na verdade são as mais úteis e necessárias, controladas por Espíritos caridosos que promovem a comunicação de entidades sofredoras e perturbadoras. Sua finalidade é esclarecer essas entidades e libertar as sua vítimas das perturbações que lhes causam. Não se evocam espíritos.



As comunicações ficam a cargo do mundo espiritual. Há dois tipos fundamentais: o das sessões livres ou abertas, em que muitos espíritos se comunicam ao mesmo tempo e são doutrinados por vários doutrinadores.



O ambiente parece tumultuado e muitas pessoas sistemáticas condenam esse sistema. É o mais eficiente, produtivo, o mais conveniente numa faz de transição como a nossa, em que os problemas de obsessão se multiplicam. São consideradas de pronto socorro espiritual, em que dezenas de doentes são socorridos ao mesmo tempo. O dirigente controla a ação dos médiuns e os Espíritos agem de duas maneiras, controlando o acesso dos espíritos necessitados e ajudando muitas vezes na doutrinação dos casos mais difíceis.



Há barulho, muita gente falando ao mesmo tempo, mas não há desordem. Os espíritos mais rebeldes são controlados pelos médiuns devidamente instruídos pela assistência espiritual. Não se submetem os médiuns a urso complicados e longos, mas a instruções práticas e objetivas, que são de grande eficiência. O volume de pessoas atendidas é de espíritos beneficiados é grande, mas vai diminuindo na proporção em que o tempo do trabalho se esgota. São encerradas com uma prece de agradecimento, às vezes precedidas de breves explicações sobre os casos mais difíceis, já então num ambiente de absoluta tranqüilidade.

(Livro O Espírito e o Tempo – IV Parte – Pesquisa Científica da Mediunidade – Item 03 - a)



Sessões de Doutrinação (Fechadas)



O outro tipo, de sessões fechadas ou autoritárias, é dirigido pelo presidente os trabalhos, que submete as comunicações ao seu controle absoluto. As comunicações são reduzidas ao mínimo. Os médiuns não se deixam envolver pelas entidades sem que o presidente os autorize. Se ocorre uma comunicação demorada, vários médiuns permanecem inativos, à espera de sua vez. Não têm o sentido dinâmico de atendimento simultâneo num Pronto-socorro. Parece-se mais a consultórios médico em que os clientes têm hora marcada. Não obstante, produzem os seus resultados. Muitas entidades são doutrinadas indiretamente assistindo a doutrinação de outros.

Quando não se dispõe de médiuns e doutrinadores em número suficiente, esse sistema de controle fechado dá mais segurança ao presidente. Mas há a grande desvantagem de se colocar o presidente numa posição que lhe excita a vaidade e o autoritarismo. Os adeptos desse sistema apoiam-se nas instruções do Apóstolo Paulo em sua epístola aos Coríntios. Paulo , de formação judaica, aconselhava o uso controlado dos dons espirituais, cada médium falando por sua vez. Acontece que são bem diferentes as condições do tempo apostólico e as de hoje.

As sessões livres ou abertas atendem melhor às necessidades atuais. Kardec, num país em que o analfabetismo não contava, dedicou maior interesse às sessões de psicografia. Mesmo porque essas sessões correspondiam às exigências de documentação de suas experiências. Em todo o mundo a psicografia ainda se mantém como uma forma mais eficiente de comunicação, pois permite a permanência dos textos para exames e comparações posteriores.

Mesmo entre nós a psicografia tem um papel importante no desenvolvimento da doutrina, como se vê pelas contribuições de vários médiuns e particularmente da obra imensa e altamente significativa de Francisco Cândido Xavier. Mas nos centros e grupos espíritas populares, onde o analfabetismo está presente nos dois lados, com a manifestação de espíritos inferiores na maioria analfabetos, a psicografia se torna quase sempre impraticável.

Essa a razão pela qual a preferência pelas sessões de comunicação oral se impôs.Por outro lado, nas sessões de doutrinação e desobsessão a comunicação oral é mais valiosa, permitindo expressão mais completa do estado emocional e até mesmo patológico do espírito comunicante. Também a identificação do espírito se torna mais fácil, em geral com a evidência da voz, da mímica, dos modismos característicos da criatura que deixou o plano físico e no entanto retorna com todas as modalidades, tiques e trejeitos do seu corpo carnal desaparecido, o que comprova a identidade teórica do corpo somático com o corpo espiritual.

Essa identidade não é constante, pois o espírito evolui no plano espiritual, mas a flexibilidade extrema da estrutura do perispírito permite a este voltar às condições anteriores numa comunicação com pessoas íntimas, seja pela vontade do espírito comunicante ou involuntariamente, pelas simples emoções desencadeadas no ato de aproximação do médium ou no ato de transmissão da comunicação.As pessoas que não conhecem a doutrina e não dispõe de experiência na prática mediúnica sentem-se intrigadas com esses problemas.

Como aconselhava Kardec, é conveniente não participarem de sessões sem terem lido obras esclarecedoras ou pelo menos recebido explicações de pessoa competente. Mas exigir que pessoas obsedadas ou médiuns em franco desenvolvimento tenham de freqüentar cursos de vários anos para poderem freqüentar as sessões de que necessitam, como fazem algumas instituições, é simplesmente um absurdo que raia pela falta de caridade.

(Livro O Espírito e o Tempo – IV Parte – Pesquisa Científica da Mediunidade – Item 03 - a)



Sessões de Desobsessão


Kardec classificou as obsessões em três tipos, segundo o grau de atuação do espírito e submissão da vítima: obsessão simples, fascinação e subjugação.

A obsessão simples pode ser tratada em sessões de doutrinação, sem maiores complicações. O obsedado é geralmente um médium em desenvolvimento, mas não sempre. Em muitos casos, uma vez esclarecido o espírito e o paciente se dedicando ao estudo e prática da doutrina, liberta-se e converte o obsessor em seu amigo e colaborador. É o que Jesus ensinava: “Acerta-te com o teu adversário enquanto estás a caminho com ele”. O obsedado não se transforma em médium, mas em doutrinador ou dedicado auxiliar em campos diversos da atividade doutrinária. Mas a fascinação e a subjugação exigem tratamento mais intenso e restrito a pequeno grupo de trabalho, integrado por médiuns conscientes da responsabilidade e das dificuldades do serviço e dirigido por pessoas competentes e estudiosas.

A cura pode se obtida em poucos dias ou levar meses e até anos, com fases intermitentes de melhora e recaída. Só a insistência no trabalho desobsessivo e a vontade ativa do paciente no sentido de libertar-se podem apresentar os resultados. A dificuldade maior está sempre na falta de vontade do paciente, acostumado a ligação obsessiva, numa situação ambivalente, em que ao mesmo tempo quer libertar-se mas continua apegado ao obsessor, sentindo sua falta quando ele se afasta e invocando-o inconscientemente. Há obsessores que se consideram , com razão ,obsedados pela sua vítima .Idéias, hábitos, tendências alimentadas pelo obsedado constituem elementos de atração para o obsessor. Nesses casos, o trabalho maior da desobsessão é com a própria vítima.

Os dirigentes do trabalho precisam esta atentos, vigilantes quanto ao comportamento do obsedado, ajudando-o constantemente a reagir contra as influências do espírito e contra as suas próprias tendências e hábitos mentais. A mente do obsedado, nesses casos, é o pivô do processo. Ensinar-lhe a controlar e dominar sua mente pela vontade, com apoio no esclarecimento doutrinário, é o que mais importa.

Do domínio da mente decorre naturalmente o domínio das emoções e do sentimentos, que são por assim dizer os elementos de atração do espírito obsessor. Nenhuma atitude exorcista, na tentativa de afastar o obsessor pela força ou através de ameaças dá resultados. A doutrinação é um trabalho paciente de amor. Deve-se compreender que estamos diante de casos de reconciliação de antigos desafetos, carregados de ódio e de cumplicidade-mútua em atividades negativas. Todo e qualquer elemento material que se queira empregar – passes complicados, preces insistentes e demoradas, uso de objetos ou coisas semelhantes – tudo isso só servirá para prolongar o processo obsessivo. O importante é a persuasão amorosa, o esclarecimento constante de obsedado e obsessor. O doutrinador é sempre auxiliado pela ação dos Espíritos sobre obsessor e obsedado.

Todas as prescrições de medidas prévias a serem tomadas pelos membros da equipe de médiuns, como abstenção de carne, repouso antes do trabalho, abstenção de fumo e álcool, comportamento angélico durante o dia e assim por diante, não passam de prescrições secundárias. Os médiuns têm naturalmente o seu comportamento normal regidos por princípios orais e espirituais. Se não o tiverem, de nada valerão esses improvisações de santidade. Se o tiverem, não necessitam desses artifícios. Como Kardec explica, a única autoridade que se pode

Ter sobre os espíritos é a de ordem moral, e o que vale no socorro espiritual não são medidas de última hora, mas a intenção pura de médiuns e doutrinadores, pois que : “ O Espiritismo é uma questão de fundo e não de forma”. As medidas que se devem tomar, quando médiuns e doutrinadores não forem suficientemente, esclarecidos, são apenas as precauções que o bom-senso indica: não exceder-se na alimentação, na bebida, nos falatórios impróprios e maldosos no dia do trabalho.

É necessário afasta os artifícios do religiosismo místico e as pretensões de importância pessoal no ato de doutrinar. Médiuns e doutrinadores são apenas instrumentos – conscientes, é claro – mas instrumentos dos Espíritos benevolentes que deles se servem a hora do trabalho. O mérito individual de cada um está apenas na boa intenção e amor que realmente os anime no serviço fraterno.É natural a tendência mística na prática mediúnica, proveniente do sentimento religioso do homem e dos resíduos do fanatismo religioso do passado, em que fomos cevados no medo ao sobrenatural e no anseio de salvação pessoal através de sacramentos e atitudes piegas. Mas temos de combate e eliminar de nós esses resíduos farisaicos e egoístas, tomando uma atitude racional e consciente nas relações com os espíritos, que ainda ontem em nossos companheiros na existência terrena e que a morte não transformou em santos ou anjos.

O meio espírita está cheio de pregadores de voz untuosa e expressões místicas, tanto encarnados como desencarnados, mas a doutrina não nos indica o caminho do artifício i do fingimento e sim o das atitudes e posições naturais, sinceras e positivas, que não nos levem a cobrir com peles de ovelha nosso pêlo grosso de lobos.



O povo se deixa atrair facilmente pelo maravilhoso, pelos milagres e milagreiros, mas os espíritos, que nos vêem por dentro, não se iludem com as farsas dos santarrões. A criatura humana é o que é e traz em si mesma os germes do seu aperfeiçoamento, não segundo as convenções formais da sociedade ou das instituições de santificação, mas segundo as suas disposições internas. Uma criatura espontânea, natural, aberta, choca-se com os artifícios, as manhas e os dengos de pessoas modeladas pelos figurinos da falsidade. Os espíritos, mais do que nós, sentem logo o cheiro de perfume barato e ardido desses anjinhos de procissão, cujas asas se derretem com os pingos da chuva.

O Espiritismo não veio para nos dar novas escolas de farisaísmo, mas para nos despertar o gosto da autenticidade humana. Sabemos muito bem que nada valem as maneiras suaves, a voz macia e empostada, os gestos de ternura dramática, senão formos por dentro o que mostramos por fora. E é uma ilusão estúpida pensarmos que essa disciplina exterior atinge o nosso íntimo. Nosso esquema interior de evolução não cede aos modismos e às afetações do fingimento.

A moral não é produto do meio social, mas da consciência. Seus princípios fundamentais estão em nosso íntimo e não fora de nós. A moral exógena (exterior) vem de costumes, mas a moral endógena (interior) nasce das exigências da nossa consciência. A idéia de Deus no homem é a fonte dessa moral interna que supera o moralismo superficial da sociedade. Nas sessões de desobsessão o que vale não é o falso moralismo dos homens, mas a moral legítima do homem. Essa busca do natural, do legítimo, do humano, é a constante fundamental do Espiritismo ."

(Livro O Espírito e o Tempo – IV Parte – Pesquisa Científica da Mediunidade – Item 03 – b )

terça-feira, 27 de maio de 2008

O Livro dos Espíritos e a Educação

A primeira característica de O Livro dos Espíritos, nem sempre percebida, é a sua forma didática. Não fosse Kardec um pedagogo, habituado à disciplina pestalozziana, e os Espíritos do Senhor não teriam conseguido na Terra um tão puro reflexo dos seus pensamentos. Mas a didática de Kardec nessa obra não se limita à técnica de ensinar. E uma didática transcendente insuflada pelo espírito, que mais se aproxima da Didática Magna de Comenius do que dos manuais técnicos dos nossos dias.

A Educação Espírita brota desse livro como água da fonte: espontânea e necessária. Logo na Introdução temos um exemplo disso. Não se trata apenas de introdução à obra, mas à Doutrina Espírita. Ao invés de uma justificativa e uma explicação do livro, temos uma abertura para a compreensão de todo o seu conteúdo e até mesmo da posição do Espiritismo no vasto panorama da cultura terrena, abrangendo as áreas até então conflitivas do Conhecimento e estabelecendo entre elas as ligações indispensáveis. Sim, indispensáveis porque o conflito entre as áreas culturais era o maior obstáculo à compreensão global do homem que o Espiritismo trazia.

Ainda agora, em nossos dias (década de 70), o Prof. Rhine assinalou a existência de várias concepções antropológicas conflitivas: a religiosa ou teológica, a científica ou materialista, a filosófica materialista ou espiritualista e assim por diante. (Ver O Novo Mundo da Mente, de J. B. Rhine.) O que a Parapsicologia se propõe a fazer, mais de cem anos depois, Kardec já realizara com O Livro dos Espíritos. Se os cientistas não perceberam isso, os espíritas por todo o mundo se beneficiaram com a nova concepção gestáltica e se incumbiram de propagá-la.

Bastaria isso para mostrar e provar que a didática de Kardec nessa obra transcendeu os limites puramente didáticos para atingir dimensões pedagógicas. Não poderíamos dizer que O Livros dos Espíritos é um tratado de Pedagogia, pois o seu objetivo específico não é a Pedagogia. Mas é evidente que se trata de um verdadeiro manual de Educação, no mais amplo e elevado sentido do termo. Seu objetivo explicito é ensinar e educar. O ensino ressalta desde as primeiras linhas e se desenvolve até as últimas, sem solução de continuidade. Mas esse ensino não se limita à transmissão de dados técnicos de informações culturais objetivas. Pelo contrário, projeta-se além desses dados e leva o estudante ao campo pedagógico da formação moral e espiritual. Ao terminar a sua leitura o estudante atento e perspicaz adquiriu novos conhecimentos, mas conquistou principalmente uma nova concepção do homem, da vida e do Universo. E mais do que isso, realizou o desígnio da sua própria existência, que é a sintonia do seu ser com o Ser Supremo: Deus.

O Sr. Sanson, materialista, lendo esse livro volta ao espiritualismo e se reencontra com Deus. Os caminhos da fé lhe eram vedados pela barreira do ilogismo religioso, mas O Livro dos Espíritos lhe demonstrou que entre os caminhos para Deus o da razão era o mais seguro. Este exemplo concreto e histórico, referido pelo próprio Kardec, mostra-nos a ligação das áreas culturais. Sanson ilustra essa ligação, como tantos outros o fariam mais tarde, ao atingir a fé pela razão.

Podemos dizer que, na Educação, segundo a conhecida proposição de Kerchensteiner¹, a Didática é o campo da cultura objetiva e a Pedagogia, que abrange naturalmente aquela, é o campo da cultura subjetiva. Mais de cem anos antes de Kerchensteiner fazer essa proposição Kardec já a havia utilizado com êxito na elaboração de O Livro dos Espíritos.

Pode-se alegar que essa não foi uma realização de Kardec, e sim dos Espíritos. Convém lembrar que a organização do livro, e até mesmo a sua fatura na produção do texto, através das perguntas que provocaram as respostas espirituais, estiveram a cargo de Kardec. Nessa prodigiosa elaboração os Espíritos contribuíram com a matéria-prima, mas Kardec foi o artesão paciente e lúcido, esclarecido e capaz.A preocupação de Kardec com as palavras, por exemplo, revela o cuidado do professor terreno que tem de aplicar os termos com exatidão para se fazer compreender. Os Espíritos não se importavam com isso, como muitas vezes disseram ao mestre, pois o que lhes interessava era o pensamento e seu significado intrínseco, sua substância. Mas Kardec estava encarnado — era o homem no mundo — e por isso mesmo atento aos problemas do mundo. Vemos na Introdução como ele, logo de início procura e consegue definir com clareza os termos para que "a ambigüidade das palavras" não leve o leitor a confusões perigosas ou os possíveis exegetas a interpretações deturpadoras.

O Resumo da Doutrina dos Espíritos, que encontramos na Introdução, é outra prova do trabalho pessoal de Kardec e da maneira por que ele sabia colocar a Didática em função da Educação, entrosando-a na Pedagogia não só como instrumento de ensino, mas sobretudo como função pedagógica. A leitura atenta e meditada desse resumo seria suficiente para esclarecer um leitor realmente interessado no assunto e predispô-lo à renovação interior. Nesse sentido, podemos dizer que Kardec realizou o sonho de Pestalozzi: deu ao mundo uma forma viva de ensino que ao mesmo tempo informa e forma, instrui e moraliza.

A dinâmica pedagógica de O Livro dos Espíritos teria impedido o desvirtuamento da Educação através do pragmatismo educacional, se porventura os pedagogos do século XX o tivessem encarado com isenção de ânimo e os cientistas, na sua maioria, não se tivessem deixado embriagar pelas teorias materialistas.

[Fonte: Pedagogia Espírita, José Herculano Pires. ]


¹ - Quem foi Georg Kerschenteiner citado por Herculano no artigo acima?

Kerschensteiner ensinou em todos os níveis de ensino e exerceu funções públicas de conselheiro escolar da cidade de Munique e real comissário das escolas bávaras. Na Universidade de Munique, foi professor de Teoria da Educação. As suas maiores influências pedagógicas foram Pestalozzi e Dewey, embora também tenha tido grandes afinidades com Eduard Spranger.

"Em Kerschensteiner a teoria brota naturalmente da prática, ou melhor, uma e outra estão em intercâmbio permanente. Sustentava, como o seu mestre Pestalozzi, que todo o ensino deve adaptar-se aos graus de desenvolvimento do espírito, pois a educação verdadeira só se realiza mediante o encontro fecundo de um espírito receptivo com os bens culturais de acordo com o dito espírito".

>>> http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/ebook_hist_idpedag/Cap%2035%20Georg%20Kershensteiner.pdf
>>> http://www.espirito.org.br/portal/artigos/ednilsom-comunicacao/dij-fep/nasc.html
>>> http://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Kerschensteiner

Existem mais artigos, mas por serem ou em língua estrangeira, ou super resumido, preferi deixar estes, que servem como informativo.

Abraços e bom estudo!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O Livro dos Espíritos

Até a publicação desta obra, os problemas espirituais eram tratados de maneira empírica ou apenas imaginosa. Com ela, o espírito e seus problemas saíram do terreno da abstração, para se tornarem acessíveis à pesquisa experimental. O sobrenatural tornou-se natural. Tudo se reduziu a uma questão de conhecimento das leis que regem o universo”.
(J.Herculano Pires na sua ‘Introdução ao Livro dos Espíritos’, edições LAKE)


A 18 de abril de 1857, numa livraria em Paris, é lançado um livro que traria uma proposta revolucionária para a humanidade. O Livro dos Espíritos, escrito por ordem e sob o ditado dos Espíritos Superiores, é um trabalho vigoroso, um tratado de Filosofia da mais alta magnitude, e nada contém que não seja a expressão dos seus pensamentos.

“O livro começa pela metafísica, passando depois à cosmologia, à psicologia, aos problemas propriamente espíritas da origem e natureza do espírito e suas ligações com o corpo, bem como aos da vida após a morte, para chegar, com as leis morais, à sociologia e à ética, e concluir, no Livro IV, com as considerações de ordem teológica sobre as penas e os gozos futuros e a intervenção de Deus na vida humana. Todo um vasto sistema, numa estrutura livre e dinâmica, em que os problemas são postos em debate (...).

“(...) A simplicidade de “O Livro dos Espíritos” não chega ao ponto de nos obrigar a adaptar sistemas antigos aos nossos princípios, como aconteceu a Santo Agostinho e São Tomaz, em relação a Platão e Aristóteles, para a criação da chamada filosofia cristã”.

“Por outro lado, é curioso notar que “O Livro dos Espíritos” se enquadra numa das formas clássicas e mais fecundamente livres da tradição filosófica: o diálogo”(¹).

Sua primeira edição, que constava de 501 e uma perguntas e respostas, foi reformulada e ampliada, após a segunda edição, para 1 019. As razões o próprio Kardec as dá:

“Na primeira edição desta obra, anunciamos uma parte suplementar. Ela deveria se compor de todas as perguntas que não encontraram ali lugar, onde as circunstâncias ulteriores e novos estudos deveriam dar nascimento; mas como são todas elas relativas, há algumas das partes já tratadas e das quais são o desenvolvimento, sua publicação isolada não apresentaria nenhuma continuidade. Preferimos esperar a reimpressão do livro para fundir todo o conjunto, e nisto aproveitamos para dar, na distribuição das matérias, uma ordem muito mais metódica, ao mesmo tempo que podamos tudo o que tinha duplo emprego. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada como uma obra nova, embora os princípios não hajam sofrido nenhuma mudança, com um número muito pequeno de exceções, que são antes complementos e esclarecimentos que verdadeiras modificações”.(²)


O Livro dos Espíritos, desta forma, não é apenas o marco inicial da Doutrina Espírita, mas, é antes o arcabouço de onde tudo se baseia, se fundamenta, o núcleo de onde as outras obras retiram seu material para o desenvolvimento de suas teses, um núcleo semelhante ao que os ensinos do Cristo representam para o Evangelho.

Dentro de um esquema que tentaremos traçar, inspirados na ‘Introdução ao O Livro dos Espíritos’, de J.Herculano Pires, veremos o seguinte:

1) Podemos encontrar nele mesmo, uma parte que lhe corresponde: são os livros I e II, até o capítulo quinto;
2) ‘O Livro dos Médiuns’, seqüência natural deste livro, que trata especialmente da parte experimental da Doutrina, tem sua fonte no Livro II, a partir do capítulo sexto até o final.
3) ‘O Evangelho segundo o Espiritismo’ é uma decorrência natural do Livro terceiro: As Leis Morais. Tratando-se especialmente da aplicação dos princípios da moral evangélica, bem como dos problemas da adoração, da prece e da prática da caridade.
4) ‘O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo’ decorre do Livro IV, “Esperanças e Consolações”, onde são estudados os problemas referentes às penas e aos gozos terrenos e futuros, as penas eternas, etc.
5) ‘A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo’ relaciona-se aos capítulos II, III e IV do Livro I, e capítulos IX, X e XI do Livro II, assim como as partes dos capítulos do Livro III que tratam dos problemas genésicos e da evolução da Terra.

“Num estudo mais amplo e profundo, seria possível mostrar-se o desenvolvimento de certos temas, que apenas colocados pelo “O Livro dos Espíritos” vão ter a sua solução em obras posteriores. É o que se verifica, por exemplo, com as ligações do Cristianismo e o Espiritismo, que se definem completamente em “O Evangelho”, ou com o problema controvertido da origem do homem, que vai ter a sua explicação definitiva em “A Gênese”, ou ainda as questões mediúnicas, solucionadas no “O Livro dos Médiuns”, e as teológicas e escriturísticas, no “O Céu e o Inferno”.

“Esta rápida apreciação da estrutura de “O Livro dos Espíritos”, em suas ligações com as demais obras da codificação, parece-nos suficiente para mostrar que ele constitui, como dissemos, no início, o arcabouço filosófico do Espiritismo. Contém, segundo Kardec declarou no frontispício, “Os princípios da Doutrina Espírita”. É, portanto, o seu tratado filosófico.

“Por tudo isso, vê-se que Kardec, sem ser o que se pode chamar um filósofo profissional, tinha muita razão ao afirmar, no capítulo VI da “Conclusão”, referindo-se ao Espiritismo: ‘Sua força está na sua filosofia, no apelo que faz à razão e ao bom senso’”.(¹)


Bibliografia:

(1) Pires, J. Herculano, ‘Introdução ao O Livro dos Espíritos, introdução redigida, por ocasião do lançamento especial da LAKE, de sua tradução de “O Livro dos Espíritos”, em comemoração ao seu centenário em 18 de abril de 1957.

(2) Kardec, Allan, Revista Espírita, março de 1860.

Espiritismo e Espiritualismo

por Allan Kardec, em 1857

Para as coisas novas necessitamos de palavras novas, pois assim o exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão inerente aos múltiplos sentidos dos próprios vocábulos. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm uma significação bem definida; dar-lhes outra, para aplica-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já tão numerosas da anfibologia.

Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem quer que acredite haver em si mesmo alguma coisa além da matéria é espiritualista; mas não se segue dai que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível.

Em lugar das palavras espiritual e espiritualismo, empregaremos, para designar esta última crença, as palavras espírita e espiritismo, nas quais a forma lembra a origem e o sentido radical e que por isso mesmo têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando para espiritualismo a sua significação própria.

Diremos, portanto, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se o quiserem, os espiritistas.

(Fonte: O Livro dos Espíritos, Introdução, item I)
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Comentário:

No dicionário Aurélio, encontramos o seguinte:

§ Es.pi.ri.tua:lis.mo. sm. Doutrina cuja base é a prioridade do espírito com relação às condições materiais. § es.pi.ri.tua:lis.ta adj2g.s2g.

Ou seja, é uma doutrina [ou várias] cuja finalidade é despertar em nós a importância da espiritualização, em relação ao apego aos bens materiais que nutrimos durante nossa vida. É desta forma, oposto ao materialismo. E sendo assim, todo espírita é por natureza espiritualista.

Mas uma observação de Kardec em O Que é o Espiritismo vem nos socorrer de uma provável confusão que possamos fazer:

"Todo espírita é necessariamente espiritualista, mas nem todos os espiritualistas são espíritas".

Pois que podemos acreditar numa vida espiritual sem acreditar nos espíritos e suas manifestações, sem acreditar na reencarnação, entre outros motivos.

Esta diferenciação ainda se faz imperiosa por dois motivos:

1) A necessidade básica que a Ciência Espírita exigiu desde seu nascimento: clareza. Pois não tem como ser objetiva e precisa se não for clara, transparente em seus conceitos e princípios, além de que, sendo uma ciência, tal qual as demais, precisava ela também de termos claros que se adequassem às idéias e conceitos ali concernentes. Portanto, clareza, objetividade, precisão e uma nomenclatura adequada são características estas inerentes à sua natureza científica.

2) Sendo o Espiritualismo extremamente diversificado, qualquer crítica aos espíritas geraria uma tremenda confusão, por não saber ao certo a quem se estava dirigindo, pois seriam todos espiritualistas.


***
Kardec é quem explica e afirma, na obra já citada, que sem estes termos, veríamos a produção de enorme confusão se fossem dirigidos ao Espiritualismo e aos Espiritualistas, as críticas endereçadas aos espíritas, em específico.

E a crítica, que por vezes se faz a estes termos, provém, em muito, de pessoas afeitas a tudo criticar e pouco analisar. Alegar, como o fazem muitos, com o argumento de que sendo apenas um rótulo, e como tal se faz desnecessário porque passageiro, temporário, apenas confirma, como explicitou Kardec, que "prender-se a semelhantes bagatelas é provar que se tem pouco de boas razões".

Enfim, "eles [os termos] ocupam o vértice da coluna da nova ciência; para exprimir fenômenos especiais dessa ciência, tínhamos necessidade de termos especiais" e "ainda que os espíritos fossem uma quimera, havia utilidade em adotar termos especiais para designar o que a eles se refere; porque as falsas idéias, como as verdadeiras, devem s expressas por termos próprios".

"O Espiritismo possui hoje a sua nomenclatura, tal qual a Química".



Um forte abraço e bons estudos!


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Anexo: o texto contido em O Que é o Espiritismo e que elucida, de forma clara e lógica, algumas questões referentes a estes problemas. Está contido no segundo diálogo, O Céptico:

Visitante. Eu vos perguntaria, primeiro, que necessidade haveria de criar as palavras novas de espírita, Espiritismo para substituir as de Espiritualismo, espiritualista, que estão na linguagem popular e compreendidas por todo o mundo? Já ouvi alguém tratar essas palavras de barbarismos.

Allan Kardec . A palavra espiritualista, desde muito tempo, tem uma significação bem definida; é a Academia que no-la dá: ESPIRITUALISTA é aquele ou aquela cuja doutrina é oposta ao materialismo.

Todas as religiões, necessariamente, estão baseadas no Espiritualismo. Quem crê haver em nós outra coisa além da matéria, é espiritualista, o que não implica na crença nos Espíritos e nas suas manifestações. Como vós o distinguiríeis daquele que o crê? Precisar-se-ia, pois, empregar uma perífrase e dizer: é um espiritualista que crê, ou não crê, nos Espíritos.

Para as coisas novas, é preciso palavras novas, se se quer evitar equívocos. Se eu tivesse dado à minha Revista a qualificação de Espiritualista, não lhe teria de, modo algum, especificado o objeto, porque, sem faltar ao meu título, poderia não dizer uma palavra sobre os Espíritos e mesmo combatê-los.

Eu li, há algum tempo em um jornal, a propósito de uma obra filosófica, um artigo onde se dizia que o autor o havia escrito sob o ponto de vista espiritualista. Ora, os partidários dos Espíritos ficariam singularmente desapontados se, na confiança dessa indicação, tivessem acreditado nela encontrar a menor concordância com suas idéias.

Portanto, se adotei as palavras Espírita e Espiritismo, é porque elas exprimem, sem equívoco, as idéias relativas aos Espíritos.

Todo espírita é, necessariamente, espiritualista, sem que todos os espiritualistas sejam espíritas.

Fossem os Espíritos uma quimera e seria ainda útil existirem termos especiais para aquilo que lhes concerne, porque são necessárias palavras para as idéias falsas como para as idéias
verdadeiras.

Essas palavras não são, aliás, mais bárbaras que todas aquelas que as ciências, as artes e a indústria criam cada dia. Elas não o são, seguramente, mais que as que Gall¹ imaginou para sua nomenclatura das faculdades, tais como: Secretividade, alimentividade, afecionividade, etc.

Há pessoas que, por espírito de contradição, criticam tudo que não provém delas e desejam aparentar oposição; aqueles que levantam tão miseráveis contestações capciosas, não provam senão uma coisa: a pequenez de suas idéias. Prender-se a semelhantes bagatelas é provar que se tem pouco de boas razões.

Espiritualismo, espiritualista, são as palavras inglesas empregadas nos Estados Unidos desde o início das manifestações: delas se serviu, primeiro, por algum tempo, na França. Mas, desde que apareceram as palavras Espírita e Espiritismo, compreendeu-se tão bem sua utilidade, que foram imediatamente aceitas pelo público.

Hoje o uso delas é de tal modo consagrado, que os próprios adversários, os que primeiro as apregoaram de barbarismo, não empregam outras. Os sermões e as pastorais que fulminam contra o Espiritismo e os espíritas, não poderiam, sem confundir as idéias, lançar anátema sobre o Espiritualismo e os espiritualistas.


Bárbaras ou não, essas palavras doravante passaram para a linguagem popular e em todas as línguas da Europa. Só elas são empregadas em todas as publicações, pró ou contra, feitas em todos os países. Elas formaram o sustentáculo da nomenclatura da nova ciência; para exprimir os fenômenos especiais dessa ciência, foram precisos termos especiais. O Espiritismo tem, de hoje em diante, sua nomenclatura, como a química tem a sua².

As palavras Espiritualismo e espiritualista, aplicadas às manifestaçõesdos Espíritos, não são mais empregadas hoje, senão pelos adeptos daescola dita americana.
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(1)Franz Joseph Gall (1758-1828): Franz Joseph Gall nasceu em Baden, Alemanha, em 9 de março de 1758.
Gall estudou medicina em Viena, e se tornou um renomado neuroanatomista e fisiologista. Ele foi pioneiro no estudo da localização das funções mentais no cérebro. Por volta de 1800, ele desenvolveu a "cranioscopia", um método para adivinhar a personalidade e desenvolvimentos das faculdades mentais e morais com base na forma externa do crânio. Cranioscopia (cranium=crânio, scopos=visão) foi posteriormente renomeada como frenologia (phrenos=mente, logos=estudo) por seus seguidores. [ http://www.cerebromente.org.br/n01/frenolog/frengall_port.htm ] (nota minha)



(2) Essas palavras, aliás, hoje têm direito de burguesia, pois estão no suplemento do Petit Dictionnaire des Dictionnaires Français, extraído de Napoleón Landais, obra que se tira em vinte mil exemplares. Nela se encontra a definição e a etimologia das palavras: erraticidade, medianímico, médium, mediunidade, perispírito, pneumatografia, pneumatofonia, psicográfico, psicografia, psicofonia, reencarnação, sematologia, espírita, Espiritismo, estereorito, tiptologia. Elas se encontram igualmente, com todo o desenvolvimento que comportam, na nova edição do Dictionnaire Universel de Maurice Lachâtre. (nota da Ed. IDE)