sábado, 13 de outubro de 2012

ANALISANDO O TEXTO “É IMPRESSIONANTE!!!”


“Cada um (dos Espíritos) diz o que pensa e o que falam quase sempre é opinião pessoal; eis por que não é para acreditar cegamente em tudo o que dizem os Espíritos” – Kardec [2]

            Já comentamos, em outras oportunidades, sobre o cuidado que devemos ter ao realizarmos a leitura de comunicações mediúnicas. Se com textos de autores encarnados, espíritas ou não, o nosso senso crítico deve estar sempre ativo, com as comunicações do além este cuidado deve ser redobrado. E não será a primeira vez que o texto do Espírito Inácio Ferreira será analisado.
            Seu primeiro texto analisado foi “A Obra de André Luiz e a Física Quântica” onde ele se equivoca ao afirmar que André Luiz teria antecipado as conquistas atuais da física, notadamente da física quântica. O texto-resposta foi escrito em parceria com Alexandre Fontes da Fonseca. No segundo texto, “Emmanuelismo”, Inácio assume a incumbência de defender o Emmanuel de ataques que ele considera “pessoais”. Depois tenta vender a ideia de que o Emmanuel, Espírito-guia do Chico, seria o mesmo que possui uma mensagem publicada em O Evangelho segundo o Espiritismo. O texto foi amplamente analisado e vale a leitura.
            E muitos outros textos ainda poderiam ser analisados. Entretanto, escolhemos este [1], por, mais uma vez, comprovar o acerto de Kardec ao nos aconselhar a termos muita prudência com toda e qualquer informação que venha quer do mundo espiritual. Eles falam o que pensam e nós não precisamos assinar embaixo em tudo o que vem deles. Neste texto, à semelhança daquele sobre Emmanuel ele pretende sair em defesa de Chico Xavier denunciando os desmandos doutrinários cometidos – ele também chega a afirmar serem desonestidades – contra o médium mineiro.
            Primeiro o Inácio o defende contra as opiniões de que ele teria errado “ao dizer isto, ao escrever aquilo, tornando pública uma situação de lesa-Doutrina”, pelo fato de ter tido, o Chico, uma vida irretocável em todos os aspectos. Creio não precisar afirmar que este tipo de opinião é completamente ingênua, pelo simples fato de que uma análise fria da biografia do Chico nos demonstrará os inúmeros momentos em que ele errou e precisou retificar o seu erro.
            Chico não foi um santo, foi um homem e como homem estava sujeito a erros! Este é um ponto que não canso de reafirmar, quando posso, devido às absurdas tentativas de santificação do Chico. Já não bastassem as romarias ao cemitério onde o seu corpo foi sepultado e ao museu que foi criado na casa onde ele viveu? Agora tudo o que ele escreveu ou psicografou deve ser considerado intocável? Isso sim é impressionante, pois nos leva a perguntar se somos espíritas mesmo. Posso afirmar sem medo que a falta de um aprofundamento doutrinário durante boa parte de sua vida foi o que permitiu que ele psicografasse e publicasse algumas [poucas] obras de conteúdo duvidoso. Para bom entendedor o Inácio realmente exagera ao transformar um pingo em uma letra distorcida. E o absurdo maior é insinuar que ele tem olhos e que a “terra” do lado de lá irá comê-los (no mundo espiritual existe Terra? E a questão dos inexistentes órgãos físicos no perispírito não já deveria estar superada por não ter sustentação ante os informes dos Espíritos da Codificação em todas as obras publicadas por Kardec? Além do mais, supõe o Espírito – ou ele quer reformular o Espiritismo? – que o perispírito é perecível? Ver o item 254 e 257 de O Livro dos Espíritos [3]).
             Cometendo tantos equívocos [que duvido serem mesmo equívocos] como tentar sustentar que são os outros que querem induzir algo nas pessoas? Não posso dizer que o Chico copiava, ou plagiava, pois, conscientemente, não vejo motivos para isto. Aliás, discordo deste expediente. Entretanto, não posso concordar com este espírito ao levantar novamente o problema da suposta revelação andreluizina de mais de 40 anos atrás. Isso sim é sutileza maquiavélica! Será que ele não exagerou mesmo? Vale muito a pena verificar o que J. Herculano Pires tem a dizer sobre as obras de André Luiz e seu lugar diante da revelação espírita:

A obra de André Luiz é ilustrativa da revelação espírita e não propriamente complementar, no sentido de superação que o articulista propõe. É uma grande e bela contribuição nos estudos espíritas, mas sua pedra de toque é a codificação” [4].

            Depois, elenca três observações contestáveis desde a primeira vez que foram publicadas. A primeira afirmação temerária é a de que Chico teria sido a reencarnação de Kardec. Não sei o por que desta insistência neste ponto, já que quando vamos realizar uma análise da biografia de ambos, buscando suas semelhanças e, se assim podemos chamar, ‘projetos reencarnatórios’, não encontramos pontos de contato, a não ser seu envolvimento com o movimento espiritista. Para muitos o “argumento” mais forte seria a previsão feita por Kardec e os Espíritos de que sua nova reencarnação se daria provavelmente no início do século XX. Entretanto, bem sabemos que isto não serve de confirmação pra nada. Sabe, para quem tem muitas dúvidas sobre este assunto, aconselho a estudar os livros de Hermínio Miranda, contidos na série “Mecanismos Secretos da História”, onde ele faz uma análise profunda, detalhada e criteriosa com a finalidade de demonstrar que as semelhanças de destino e a identidade de personalidade entre figuras como Hipácia, Giordano Bruno e Annie Besant, por exemplo, são encarnações de um mesmo espírito. Mas, Miranda não faz considerações apressadas, superficiais e nem baseadas em apenas uma “previsão” como a contida em Obras Póstumas.          
            Quem tiver dúvidas, pode pesquisar dois livros em específico: Guerrilheiros da Intolerância e As Várias Vidas de Fénelon. Perceberão os leitores, a dificuldade que envolve tal trabalho, mas, acima de tudo, terão a oportunidade de compreender porque Chico não é a reencarnação de Kardec. E aceitarão que afirmações como estas do Espírito Inácio são irresponsáveis, por querer se fundamentar em certa vantagem que teria o Espírito só por estar morto e ter “acesso aos arquivos espirituais” que contariam a estória verdadeira. Observemos bem que ele pede apenas para crermos no que ele diz, sem provar que o que diz está certo fundamentado em uma pseudoautoridade que poderia ter só por estar morto e do outro lado da vida...
            A sua segunda observação insere-se no contexto da primeira no que podemos chamar de afirmação temerária e sem fundamento. E lembrando a opinião de Herculano Pires, conquanto seja interessantíssima e muito importante para os estudos espíritas, a obra de André Luiz, não se configura como ensino universitário diante do Jardim da Infância que seriam as obras de Swendenborg, Dale Owen [chamado por Ferreira de Vale] e Stainton Moses, e, porque não, da própria Codificação. Pois é isto o que este espírito quer dizer, insinuando-se desta forma. E o dirá claramente ao final do seu texto. Mas, repetimos que a obra de André Luiz por mais importante que seja só tem valor real quando tocada pela pedra de toque da Codificação. E não o contrário. Até porque muitas informações dadas por André Luiz não condizem com os princípios espíritas, se não forem alvo de uma análise acurada. Exemplo: sabendo que não podemos compreender as necessidades dos Espíritos baseando-nos nas nossas, pelo simples fato de não terem os Espíritos órgãos físicos e sentidos sensoriais como os nossos, como poderiam eles dormir e comer no mundo espiritual? Qualquer dúvida é só olhar aqueles dois itens de O Livro dos Espíritos para início de conversa. Só isto evidencia que não podemos ser levianos e apressados na leitura e divulgação de qualquer informação mediúnica.
            A terceira observação se insere neste movimento reflexivo que estamos fazendo. Para o Inácio, no fim, querem apenas reduzir Chico a um mediunzinho qualquer. Eu discordo. Excetuando-se aqueles que só conseguem denegrir, os demais, em sua imensa maioria, querem apenas que Chico seja o que foi, nem mais, nem menos. Alguns médiuns, palestrantes, adeptos do Espiritismo e Espíritos desencarnados é que querem pôr lenha na fogueira e transformar o Chico em um santo!! Ignoram que Kardec nunca pôs um médium sequer em evidência, pois, na opinião de Kardec

“Os nomes dos médiuns não acrescentariam, aliás, nenhum valor à obra dos Espíritos. Sua citação seria apenas uma satisfação do amor-próprio, pelo qual os médiuns verdadeiramente sérios não se interessam. Eles compreendem que, sendo puramente passivo seu papel, o valor das comunicações não aumenta em nada o seu mérito pessoal, e que seria pueril envaidecerem-se de um trabalho intelectual a que prestam apenas o seu concurso mecânico” [5].

            É exatamente isto o que fazem os médiuns hoje em dia? Ocultam-se e deixam a obra dos Espíritos falarem por si mesmas? Ou vangloriam-se eles e autografam livros que NÃO FORAM obra de sua inteligência nem do seu esforço como se seus fossem? Quantos não buscam apenas isto: a satisfação do seu amor-próprio e não a defesa da causa espírita? Seria isto que Inácio queria fazer com o Chico ao não querer reduzi-lo a um mediunzinho qualquer? E a opinião de Kardec neste ponto deve ser considerada ultrapassada também?
            Entretanto, a sua ousadia não para por aí. Valendo-se apenas de sua “autoridade de espírito desencarnado e cheio de vícios” ele afirma que “Não fosse a Obra Mediúnica de Chico Xavier, com toda a nossa reverência a Kardec, a sua seria uma obra de mais de 150 anos atrás!” Ou seja, Kardec está ultrapassado e as obras psicografadas por Chico são a sua atualização excepcional... Será que preciso mesmo refutar opinião tão bem fundamentada e criteriosa? Será que o Inácio simplesmente esqueceu que a obra não é de Chico, mas dos Espíritos? E que qualquer erro contido nelas não pode ser atribuído ao Chico e sim a eles, os Espíritos? Aqui vale citar a opinião de Alexandre F. Fonseca sobre a obra psicografada por Chico de autoria dos Espíritos:

“A obra mediúnica de Chico Xavier, mesmo diante de todo o seu valor moral, literário e até científico, apenas possui o caráter da revelação divina ou religiosa, pois o seu conteúdo não foi fruto da observação, investigação e pesquisa de nenhum encarnado. Chico foi o intermediário dos bons Espíritos para aprofundamento das verdades espirituais, todas elas de acordo com o Espiritismo e embasadas no mesmo. Isoladamente, as obras do Chico jamais constituiriam uma doutrina com o mesmo valor e caráter que o Espiritismo possui, simplesmente por não satisfazer o caráter científico de uma revelação” [6].

            Por tudo o que já escrevemos nos artigos anteriores, só podemos lamentar que opiniões equivocadas e maquiavélicas como estas estejam sendo publicadas. Chamo de maquiavélicas porque não pecam pela ingenuidade, mas, pela perversidade em querer impor uma opinião sem fundamentos nem argumentos lógicos e coerentes, apenas uma suposta pseudoautoridade que teria este Espírito só por ser Espírito... Dê ele os pinotes que quiser, essa é que é a pura verdade!
            Por fim, respeitar a memória do Chico é também não transformá-lo naquilo em que ele nunca cogitou. Seria uma honra ele ser a reencarnação de Kardec, entretanto, ele não é. E isto não o diminui como ser humano nem como médium. E não sou eu, apenas, que penso assim. Richard Simonetti, J. Raul Teixeira e Dora Incontri, para citar três personalidades que já analisaram e opinaram sobre o tema. Chico não precisa [e nem pode] ser Kardec para que o respeitemos, admiremos e respeitemos. Nem Kardec dá pra ter reencarnado como Chico, pois a única semelhança aceitável entre ambos seria a participação no movimento espírita, e só. Querer mais é ignorar os princípios espíritas e agir mais por idolatria [ao Chico] do que racionalmente [como Kardec]. E mais uma vez, muito cuidado com o que lê na internet, caro leitor, principalmente se foi psicografado [ou psicodigitado] por algum espírito.

Referências:

[1] O texto “É Impressionante!!!” pode ser lido clicando neste link: http://inacioferreira-baccelli.zip.net/arch2012-08-01_2012-08-31.html, em postagem do dia 20 de agosto.
[2] A citação de abertura do texto pode ser lida aqui: PIRES, J. Herculano. Introdução ao Espiritismo. 1ª Ed. SP – Ed. Paidéia, 2009, p. 145.
[3] A questão [e as dúvidas] sobre a materialidade do perispírito e da existência de órgãos materiais nele já deveria estar superada. Kardec foi explícito o suficiente sobre o tema e as questões 254 e 257 de O Livro dos Espíritos não esgotam o tema. Vale uma pesquisa por toda a codificação, especialmente nas Revistas Espíritas para uma mais profunda compreensão do tema.
[4] RIZZINI, Jorge. J. Herculano Pires – O Apóstolo de Kardec. 1ª Ed. SP – Ed. Paidéia, 2001, p. 245.
[5] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 63ª Ed. SP, LAKE, 2007, p. 15.

·         Nota: Seguem os links com as opiniões de Raul Teixeira e Dora Incontri sobre a questão do Chico não ser Kardec para que o leitor possa ler na íntegra as suas opiniões.