domingo, 16 de janeiro de 2011

Analisando O Livro dos Médiuns



Lançado em janeiro de 1861, O Livro dos Médiuns é, conforme informa o Codificador na introdução desta obra, o complemento de O Livro dos Espíritos. Enquanto este apresenta o aspecto filosófico da Ciência Espírita, aquele apresenta a sua parte prática para todos os que desejarem ocupar-se das manifestações, seja pessoalmente, seja pela observação das experiências alheias. Segundo Kardec, estas duas obras embora se completem, são, até certo ponto, independentes uma da outra.

Consolidado O Livro dos Espíritos, o codificador sente a imperiosa necessidade de estruturar uma sociedade onde possa dar prosseguimento aos seus estudos espíritas e contar com a participação e o apoio de pesquisadores, médiuns e estudiosos sérios. É assim que em 1858 funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e, neste mesmo ano, lança a Revista Espírita e o livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas.

Esta obra, embora tenha sido lançada com um objetivo sério, não foi reimpressa após sua primeira edição, por não atender à “necessidade de esclarecimento completo das dificuldades que podem ser encontradas” na prática espírita. Kardec preferiu substituí-la por O Livro dos Médiuns, obra em que reuniu todos os dados de uma longa experiência e de um estudo consciencioso, com o desejo de que ela contribuísse para apresentar o caráter sério do Espiritismo, que é a sua essência, e para afastar a idéia de frivolidade e divertimento. Isto foi conseguido principalmente após a sua segunda edição, já que ela “[...] foi corrigida com especial cuidado pelos Espíritos, que lhe acrescentaram grande número de observações e instruções do mais alto interesse. Como eles reviram tudo, aprovando ou modificando à vontade, podemos dizer que ela é, em grande parte, obra deles. [...]”


O Livro dos Médiuns deve ser encarado, segundo J. Herculano Pires, “como um tratado superior de fenomenologia paranormal, cujas fases metapsíquica e parapsicológica de pesquisa material estão superadas. Ele apresenta a solução dos problemas em que ainda se enredam as pesquisas atuais e convida os estudiosos a avançarem além. Mas tudo isso com critério e métodos científicos [...]”. E diz mais:


“Kardec e os Espíritos insistem numa posição ainda pouco compreendida pelos próprios espíritas: a Ciência Espírita teve como vestíbulo as manifestações físicas, mas sua finalidade é moral e suas pesquisas devem desenvolver-se nesse sentido. Provada a sobrevivência espiritual e a comunicabilidade, o Espiritismo deve se aprofundar na investigação dos processos de comunicação, da situação dos Espíritos após a morte, das leis que regulam as relações permanentes entre os Espíritos e os homens e suas conseqüências nesta vida, e assim por diante”.


Entretanto, para que se possa compreender bem a obra e tirarmos proveito dela, é necessário identificar o seu planejamento e o objetivo de cada parte. Ela possui uma Introdução, Primeira Parte e Segunda Parte, onde cada qual tem detalhes e informações valiosas que precisam ser identificadas e estudadas com muito critério, método e seriedade.


Na introdução, encontra-se o objetivo do livro e o seu público alvo:


1- “[...] indicar os meios de desenvolvimento da faculdade mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições de cada um, e, sobretudo, dirigir-lhe o emprego de modo útil, quando ela exista. [...]”
2- “[...] Como repositório de instrução prática [...] a nossa obra não se destina exclusivamente aos médiuns, mas a todos os que estejam em condições de ver e observar os fenômenos espíritas”.


A primeira parte deste livro caracteriza-se como uma defesa do Espiritismo, na qual se encontram 4 capítulos:


1) Existem Espíritos? - Kardec dialoga sobre a existência dos Espíritos;
2) O Maravilhoso e o sobrenatural – Kardec apresenta argumentos e contra-argumentos capazes de provar a existência dos fenômenos espíritas;
3) Método - Kardec apresenta regras e normas eficazes para a propaganda, difusão e estudo metódico do Espiritismo. Este capítulo deve ser lido com muita atenção por todos os Espíritas.
4) Sistemas – Kardec nos apresenta as interpretações a que deram lugar os fenômenos espíritas, resultando numa lista de 13 sistemas.


A segunda parte, além de mais extensa, mostra maior variedade de temas. São 32 capítulos que apresentam a parte experimental propriamente dita do Espiritismo. É possível identificar 5 núcleos específicos em sua estrutura:


1º Núcleo: Os Fenômenos e a Teoria dos Fenômenos. Abrange os capítulos de I a XIII, começando pelo estudo Da Ação dos Espíritos Sobre a Matéria e terminando com o Da Psicografia.
Esse núcleo objetiva a explicação de todos os fenômenos, com destaque para os de efeitos físicos, já que podem ser percebidos de forma objetiva e porque foi por onde começou o Espiritismo. Deve ser lido com extrema atenção e não deve ser desdenhado, pois, muito do que é ali ensinado, aplica-se à maioria dos fenômenos de uma forma geral e não somente aos de efeitos físicos.
2º Núcleo: O Estudo da Mediunidade. Aborda um amplo estudo acerca da mediunidade, seu conceito e sua classificação, abrangendo os capítulos XIV, Os Médiuns, XV, Médiuns Psicógrafos, e XVI, Médiuns Especiais. Pode-se estudar nestes capítulos o gênero, o tipo mais comum e suas especificidades.
3º Núcleo: Do Exercício Mediúnico. Desde o capítulo XVII, Formação dos Médiuns, até o capítulo XXIII, Da Obsessão, Kardec aborda a questão dos inconvenientes e perigos da mediunidade, o papel do médium nas comunicações, a influência moral do médium e a influência do meio,
4º Núcleo: Da Análise da Produção Mediúnica. Núcleo de grande importância que vai do capítulo XXIV,Identidade dos Espíritos, ao XXVIII, Charlatanismo e Prestidigitação, e termina com o XXXII, Vocabulário Espírita. É neste núcleo que será compreendida, de forma mais profunda, a importância da análise crítica de tudo o que vem dos Espíritos, mesmo daqueles em quem confiamos. Cabe destacar aqui o capítulo XXV, Das Evocações, no qual Kardec orienta sobre como podemos utilizar esta valiosa ferramenta para pesquisa e validação das informações provenientes das comunicações espontâneas, como as milhares que são publicadas nos dias atuais. Tanto que no capítulo XXVI, Perguntas que Se Podem Fazer encontra-se esta informação importantíssima:


“Algumas pessoas pensam que é preferível não fazer perguntas, convindo esperar o ensinamento dos Espíritos, sem o provocar. Isso é um erro. Não há dúvida que os Espíritos dão instruções espontâneas de elevado alcance que não podemos desprezar, mas há explicações que teríamos de esperar por muito tempo se não solicitássemos. Sem as nossas perguntas, O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns ainda estariam por fazer ou pelo menos seriam muito mais incompletos: numerosos problemas de grande importância estariam ainda por resolver”.


5º Núcleo: Da Organização e Direção das Reuniões e Sociedades Espíritas. Abrangem os capítulos XXIX, Reuniões e Sociedades e XXX, Regulamento. Nestes dois capítulos encontramos um estudo sobre a importância das reuniões e sociedades espíritas, seus tipos, os assuntos de estudos, as rivalidades entre as sociedades, e encerra com o regulamento da SPEE que serve como exemplo para que todas as sociedades pudessem ter um modelo na hora de criarem um regulamento próprio. Este é um núcleo básico para todo aquele que tem sobre si a responsabilidade de dirigir tanto uma sociedade espírita como uma reunião mediúnica.


Como podemos observar, esta apresentação didática tem por fim demonstrar a importância de O Livro dos Médiuns ao completar 150 anos. Até porque, nota-se nos dias atuais que da maioria dos que se ocupam com a prática mediúnica, poucos o estudam ou consultam e muitos até confessam não terem interesse de investir tempo e esforço na compreensão teórica de fenômenos e informações como as contidas nele. Entretanto, e para finalizar, afirma Herculano Pires que:


O Livro dos Médiuns é atualíssimo. Nenhuma outra obra, espírita ou não, sobre a fenomenologia mediúnica, conseguiu superá-lo. É um tratado que tem por fundamento a pesquisa científica e a experiência, além da contribuição teórica dos Espíritos na explicação de vários problemas ainda inacessíveis à pesquisa científica.”


Salve O Livro dos Médiuns!


E bons estudos!

Texto publicado na Revista Internacional de Espiritismo na edição de fevereiro de 2011.

7 comentários:

  1. Muito oportuno este seu artigo. Nesse mês de comemoração do lançamento do Livro dos Médiuns é de grande ajuda um resumo bem elaborado como o seu. Parabéns! Indicarei sua leitura para vários amigos.
    Abraço e paz

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  2. O ESTUDO,A BUSCA DO SABER VAI NOS AGIGANTANDO CADA VEZ MAIS PARA LIBERTAÇAO DAS TREVAS DA IGNORANCIA. OTIMA MATERIA.

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  3. Muito bem detalhado seu texto.

    150 anos...E tão atual...Essa obra é incrivel!!

    Abraços

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  4. Oi, Anderson!Parabens pela iniciativa de escrever sobre o livro dos Médiuns. É um livro que aborda o mecanismo da mediunidade de forma simples e complexa ao mesmo tempo e vejo que não se dá o devido mérito a esta obra, em comparação as outras da codificação. Um abração, Barsa!

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  5. Maravilha, Anderson!

    Muito bem explicado! Parabéns!

    Abraço!

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  6. Enquanto vaidosos alucinados, mas endinheirados, impingem a adeptos desavisados as supostas superações da prática mediúnica kardeciana, é essencial lembrar da maestria insuperável de O Livro dos Médiuns! Parabéns, Anderson.

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  7. Muito esclarecedor o seu artigo explica de forma clara o conteúdo.

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