sexta-feira, 27 de maio de 2011

Faculdade Mediúnica: a geral e a específica

O capítulo XIV de O Livro dos Médiuns, intitulado “Dos Médiuns”, aborda a questão da mediunidade como faculdade natural e inerente ao ser humano e dela como meio de comunicação entre os dois mundos, o material e o espiritual. O objetivo deste artigo é demonstrar que todos somos médiuns e valorizar a mediunidade como ferramenta para o intercâmbio entre o mundo material e o espiritual.

Para entendermos a importância desta diferença precisamos recorrer ao capítulo citado e ver como Kardec, sempre assessorado pelos Espíritos instrutores da codificação, define a questão:

Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva”. [1]

Sabendo que a mediunidade exige um estudo sério da parte de quem quer que veja no Espiritismo uma coisa séria, é necessário dividir esta citação em duas partes e analisá-las separadamente. Com isto constatamos a existência da mediunidade generalizada, natural e que todos os seres humanos possuem e o mediunato, mediunidade de compromisso específica para médiuns investidos de poderes mediúnicos para fins determinados durante a encarnação.

A mediunidade generalizada é segundo José Herculano Pires, uma “disposição natural do espírito para expandir-se, projetar-se e entrar em relação com outros espíritos”. Ainda segundo ele nossa mente funciona como um ativo centro emissor e receptor de pensamentos. E que “estamos sempre conversando sem o perceber. Muitos dos nossos monólogos são diálogos com outras pessoas ou com espíritos”.

Em O Livro dos Espíritos, Kardec elucida este ponto na questão 460 ao perguntar aos Espíritos se os pensamentos que nos ocorrem são nossos e dos Espíritos, ao que eles respondem que “vossa alma é um espírito que pensa; não ignorais que muitos pensamentos vos ocorrem, a um só tempo, sobre o mesmo assunto, e frequentemente bastante contraditórios. Pois bem: nesse conjunto há sempre os vossos e os nossos, e é isso o que vos deixa na incerteza, porque tendes em vós duas ideias que se combatem”.

Esta questão e as que vêm em seguida são o desdobramento da questão 420, onde Kardec pergunta aos Espíritos se eles podem se comunicar estando o corpo desperto, ao que eles respondem que “o Espírito não está encerrado no corpo como numa caixa: ele irradia em todo o seu redor; eis por que pode comunicar-se com outros Espíritos, mesmo no estado de vigília, embora o faça mais dificilmente”.  [Ver também o capítulo III, item 108 de O que é o Espiritismo]

Nesta questão encontramos uma observação interessante: se o Espírito – entendendo-se aqui que Kardec define que a palavra Espírito compreende o ser semimaterial formado do princípio inteligente e do corpo fluídico – irradia ao redor do corpo, então o que muitos ‘videntes’ julgam ver e chamar de ‘aura’ não seria nada mais do que as irradiações do perispírito. Esta constatação leva Kardec a postular, sempre assessorado pelos Espíritos que o orientaram no trabalho de Codificação da Doutrina Espírita, que o fluido perispiritual forma ao redor de cada um de nós uma atmosfera fluídica que nos envolve e nos acompanha durante a vida e que a irradiação dessa atmosfera está na razão direta da nossa vontade, podendo expandi-lo ou retraí-lo quando quisermos. E é esta expansão que coloca o Espírito do encarnado em relação mais direta com os Espíritos livres e também com os encarnados. Esta é uma informação que dificilmente se encontra em algum livro ou artigo espírita, muito menos nestes que trazem opiniões isoladas de espíritos como novidades a serem acatadas como princípios verdadeiros e absolutos.

É de vital importância compreender, pelo que já foi exposto, a realidade de que a todo o momento somos influenciados pelos Espíritos, como tão bem descrevem as questões 459, 460 e 461 de O Livro dos Espíritos. José Herculano Pires nos oferece reflexões importantíssimas sobre este ponto em seu livro Mediunidade:

“Kardec lembra que o fato de o Espírito estar encarnado não o priva de relacionar-se com os Espíritos libertos, da mesma maneira que um cidadão encarcerado pode conversar com um cidadão livre atrás das grades”. [4]

Mais à frente ele complementa os seus raciocínios com alguns exemplos:

“Mensagens de Emmanuel e André Luiz, através de Chico Xavier, referem-se a inquirições mentais que certos Espíritos nos fazem, seja para aliviar nosso estado mental e ajudar-nos a corrigi-lo, seja para fins obsessivos. Um obsessor aproxima de nós e sugere mentalmente o nome ou a figura de uma pessoa. Começamos a pensar nessa pessoa e a desfilar na mente dados que possuímos sobre ela. O obsessor insiste e nós, sem percebermos, vamos lhe dando a ficha da pessoa ou as nossas opiniões sobre ela. Ajudamos o obsessor sem saber. De outras vezes ele pretende saber qual a nossa posição em determinado caso de desentendimento a respeito de um seu amigo. Nós a revelamos e ele passa a envolver-nos num processo obsessivo. Por isso Jesus aconselhou: “Vigiai e orai”. Devemos vigiar nossos pensamentos e orar por aqueles que consideramos em erro. Se fizermos assim certamente nos livraremos de muitas perturbações e muitos aborrecimentos desnecessários. Os solilóquios do homem são sempre observados pelas testemunhas invisíveis, boas e más, que nos cercam”. [4]

Assim sendo a mediunidade generalizada faz parte da nossa natureza, é um elemento essencial da nossa constituição humana. Logo, quando o codificador afirma que são raras as pessoas que não possuem a mediunidade pelo menos em estado rudimentar, ele está usando de uma cautela verdadeiramente científica e do seu já conhecido bom senso. A sua prudência nas afirmações é um exemplo para todos os espíritas!

O mediunato – palavra criada pelos Espíritos e que significa “missão providencial dos médiuns” -, também chamado de mediunidade de compromisso, representa o que Kardec definiu como faculdade mediúnica bem caracterizada, traduzida por efeitos patentes e com certe intensidade. Recorrendo mais uma vez à contribuição do Herculano Pires, sobre este ponto ele informa que “a mediunidade pertence ao campo da comunicação. Desenvolve-se naturalmente nas pessoas de maior sensibilidade para a captação mental e sensorial de coisas e fatos do mundo espiritual que nos cerca e nos afeta com as vibrações psíquicas e afetivas”. [4]

O mediunato é destinado ao auxílio e ao socorro do próximo, decorre de compromissos assumidos no plano espiritual, seja para auxiliar indiscriminadamente os que necessitam de ajuda e orientações, seja para o resgate de dívidas morais do passado com entidades necessitadas, cujo estado inferior se deve, em parte ou totalmente, a ações do médium em vidas anteriores.

“Aquele que dela se serve [da faculdade mediúnica] com um fim útil, para seu próprio adiantamento e dos seus semelhantes, cumpre uma verdadeira missão, da qual terá a recompensa. Aquele que dela abusa e a emprega em coisas fúteis ou no objetivo do interesse material, a desvia do seu fim providencial, suportando disso, cedo ou tarde, as conseqüências, como aquele que faz um mau uso de uma faculdade qualquer”. [3]

Por tudo o que foi exposto, fica claro que a definição de Kardec de que somos todos médiuns é acertada e que é um equívoco pensar que existiriam de fato pessoas que não estivessem em condições de influenciar ou serem influenciadas pelos Espíritos. As questões de O Livro dos Espíritos são muito claras sobre este ponto. Também fica clara a missão daquele que aceita servir de instrumento aos Espíritos, exercendo a faculdade mediúnica. Sua responsabilidade é imensa e cabe a ele não a desviar de seu fim providencial que é o de consolar corações e iluminar consciências com a certeza da imortalidade da alma.

Bom estudo!

Referências bibliográficas:

[1] Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. São Paulo – LAKE, 2004, cap. XIV, item 159, p. 139
[2] _________. O Livro dos Espíritos. 65ª Ed. São Paulo – LAKE, 2006.
[3] _________. O que é o Espiritismo. 71ª Ed. SP, IDE, 2008, item 88, p. 115
[4] Pires, José Herculano. Mediunidade. 9ª Ed. São Paulo – Paidéia, 2005, capítulos 1, 2 e 3. 

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A obra de André Luiz e a Física Quântica – Analisando um Texto

O cuidado que deve ter um adepto do Espiritismo ao emitir uma opinião, seja sobre algum princípio da doutrina, seja sobre alguma pesquisa científica é enorme. Principalmente se este adepto for uma pessoa de destaque no movimento. Na Revista Espírita encontramos uma advertência muito importante:


“Nunca seria demais recomendar aos espíritas que refletissem maduramente antes de agir. Em tais casos manda a prudência não confiar em sua opinião pessoal”. [...] “Crer em sua própria infalibilidade, recusar o conselho da maioria e persistir num caminho que se demonstra mau e comprometedor, não é a atitude de um verdadeiro espírita. Seria dar prova de orgulho, se não de obsessão”1.


Tendo isto em vista, a proposta deste artigo é analisar um texto de autoria de Carlos Baccelli, intitulado A obra de André Luiz e a Física quântica 2. Que fique claro que o motivo desta análise não é menosprezar o autor, nem ridicularizá-lo, mas, demonstrar que todos devemos ter muito cuidado com aquilo que falamos ou escrevemos, principalmente se envolver o conhecimento espírita ou científico. E que pelo fato de alguém ser médium e/ou famoso não lhe dá autoridade de falar o que quiser como se fosse verdade e muito menos nos tira a responsabilidade de examinar fria e minuciosamente o que este diz. Até porque existem indivíduos


“convencidos de possuir um conhecimento superior, muito acima da fatuidade da sabedoria igrejeira e da ignorância espiritual dos sábios materialistas, criaturas desprovidas de um mínimo de cultura geral julgam-se aptas a ensinar a Verdade e até mesmo de reformular a doutrina com os dados supostos de suas precárias experiências. Não conseguem sequer assimilar os princípios espíritas, mas porque se tornaram figuras socialmente importantes nos quadros institucionais passam a falar grosso e a semear na seara o joio de suas especulações ilógicas. Nada mais desolador do que esse espetáculo de ignorância enfatuada, não raro dado por indivíduos de formação universitária mal assimilada, que se apóiam em seus títulos para sustentar o seu falso prestígio”2.


Seu primeiro parágrafo diz o seguinte: “A obra de André Luiz, através de Chico Xavier, em complemento à Codificação Kardeciana, em vários aspectos, gradativamente, vem mostrando quanto se antecipa às modernas conquistas da Ciência, mormente no campo da Física quântica”. Aqui, já encontramos um erro grave, pois é impossível que a obra de André Luiz tenha se antecipado a estas “modernas conquistas da Ciência” pelo fato de ter a Física Quântica surgido muito antes de André Luiz pensar em ditar qualquer tipo de mensagem através de Chico Xavier.


Outro equívoco encontrado no texto é o que tenta colocar como a mesma coisa o que Kardec denomina como Mundo Espiritual, André Luiz como Esferas Espirituais e a Física Quântica chama de Hiperespaço. Alexandre Fontes da Fonseca, Físico e escritor espírita, afirma que isso é “um tremendo erro! É uma extrapolação que em Ciência não se faz. A Física Quântica não define a palavra ‘hiperespaço’. Ela representa um conceito de que o Universo possui muitas dimensões, mais que as três que conhecemos. O que existem são teorias baseadas na teoria quântica que pretendem descrever esse universo”.


Sobre o livro chamado ‘Hiperespaço’ de autoria de Michio Kaku, ele informa o seguinte: “Ele (o autor) apresenta duas formas que a Física tem de descrever o universo. Uma forma se baseia na teoria da Relatividade que é uma espécie de teoria geométrica em que os objetos deformam o espaço e essa deformação causa a sensação de que existem forças Essa teoria, como o próprio autor diz, se baseia num princípio físico que é a idéia de ‘hiperespaço’, e de um princípio matemático que é uma teoria de campo. A outra forma de descrever o Universo (atualmente, a mais aceita pelos físicos) é chamada de Teoria Padrão das Partículas, que é baseada na teoria quântica. Ela descreve a matéria como formada de partículas elementares que se combinam para formar a matéria ordinária e outros tipos de matéria. As forças, dentro dessa teoria, decorrem da troca de determinadas partículas”.


Como vemos, não podemos colocar as três teorias como se representassem a mesma coisa. Até porque o Michio Kaku é adepto da teoria que se baseia na Teoria da Relatividade que prevê que o universo é deformado de acordo com os objetos que existem nele.


Portanto, Hiperespaço não pertence à teoria da física quântica em si, mas à física de modo geral. Será que o Baccelli checou a sua fonte antes de escrever o seu texto? Até porque, ninguém pode afirmar que aquilo que os Espíritos chamaram de Mundo Espiritual e André Luiz resolveu cunhar de ‘Esferas Espirituais’ seja a mesma coisa que a Ciência chama hiperespaço ou universos paralelos.


Outro detalhe importante: o conceito de universos paralelos, citado no texto do Baccelli, surge de uma teoria inicialmente formulada por Hugh Everett no fim da década de 50, nos últimos anos revista e apoiada por Stephen Hawking e que ficou conhecida como ‘interpretação de muitos mundos’. Ao contrário do que vários espíritas e espiritualistas pensam, esta é uma teoria materialista por completo! Segundo o Alexandre Fonseca:


“Essa teoria diz que existem vários universos de acordo com as possibilidades quânticas de uma função de onda universal, onde cada universo existe de modo independente do outro. Cada universo desses seria um universo material, com coisas materiais e não formado por Espíritos desencarnados!


Uma pausa na citação. Alguém prestou atenção ao trecho negritado? Estes universos paralelos, que muitos espíritas se gabam e afirmam ser a mesma coisa que entendemos por ‘mundo espiritual’ não tem nada a ver! É, na verdade, uma teoria que propõe vários universos paralelos, onde poderiam existir vários de nós, cada um vivendo uma vida específica e de modo paralelo. Onde a similitude com o nosso mundo espiritual? Continuando a citação, ela também diz o seguinte:


“Em cada universo, existiria uma cópia de nós mesmos com alguma diferença pequena ou grande. Os tais ‘buracos’ que supostamente ligariam esses universos são coisas do tamanho da ordem de partículas subatômicas e jamais serviriam para comunicação entre seres materiais de universos diferentes (esta é uma referência a transcrição feita no texto do Baccelli que diz o seguinte: ‘em raras ocasiões, no entanto, os planos podem se cruzar e, por um breve momento, rasgar o próprio tecido do espaço, o que abre um buraco – ou passagem – entre esses dois universos’). Isso não tem nada a ver com o mundo espiritual que segundo O Livro dos Espíritos está tão próximo de nós que nos influencia muito mais do que imaginamos” (ver a questão 459).


Após citar um trecho do livro Voltei do Irmão Jacob, psicografado por Chico Xavier e uma carta de Emmanuel constante do livro “Um amor – Muitas vidas” de Jorge Damas Martins, Baccelli ousadamente afirma que “a vasta obra que Emmanuel e André Luiz realizaram através de Chico Xavier, em complemento ao Pentateuco, estão a requisitar de nós, espíritas, uma releitura, à luz das modernas conquistas da Ciência, para que possamos mais bem assimilar as inúmeras informações que contêm, muitas vezes em textos que necessitam ser cotejados entre si, à espera que disponhamos de maturidade espiritual a fim de compreendê-los em sua profundidade reveladora”.


Em primeiro lugar, as obras de André Luiz e Emmanuel não podem ser consideradas ‘complementos do Pentateuco’ pelo fato de não atenderem à sua estrutura metodológica de pesquisa e por não possuir o duplo caráter de uma revelação, conforme exposto por Kardec em A Gênese, capítulo I, item 13. Este capítulo é leitura obrigatória de todo aquele que se diz espírita. Conforme expôs Alexandre F. Fonseca:


“A obra mediúnica de Chico Xavier, mesmo diante de todo o seu valor moral, literário e até científico, apenas possui o caráter da revelação divina ou religiosa, pois o seu conteúdo não foi fruto da observação, investigação e pesquisa de nenhum encarnado. Chico foi o intermediário dos bons Espíritos para aprofundamento das verdades espirituais, todas elas de acordo com o Espiritismo e embasadas no mesmo. Isoladamente, as obras do Chico jamais constituiriam uma doutrina com o mesmo valor e caráter que o Espiritismo possui, simplesmente por não satisfazer o caráter científico de uma revelação”4.


Embora eu discorde do ponto em que afirma que todas as obras psicografadas estão de acordo com o Espiritismo, pelo simples fato de haverem obras como ‘Cartas de Uma Morta’ e ‘Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho’ que possuem equívocos evidentes, não posso discordar do valor de uma afirmativa como esta. Qualquer pessoa que tenha estudado de maneira séria e metódica a Doutrina Espírita, notadamente o capítulo II da Introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo e o capítulo I de A Gênese não discordará desta afirmação.


Sobre este ponto, ainda podemos invocar a opinião de José Herculano Pires quando afirma que “as próprias obras mediúnicas, psicografadas, que descrevem com excesso de minúcias a vida no plano espiritual devem ser encaradas com reserva pelos espíritas estudiosos”3.


O último parágrafo do texto em análise pretende convencer o leitor de que pelo fato de possuir o Espiritismo um caráter progressivo deve-se aceitar esse tipo de análise superficial e completamente errada. Para maior transparência, segue o parágrafo: “porque permanecem na superfície da palavra, sem visão mais ampla desta ou daquela abordagem, muitos não conseguem atinar com o caráter progressivo da Doutrina, opondo-se, de maneira sistemática, ao que, por outros autores, encarnados ou desencarnados, lhes soa como novidade ou mesmo contrário aos princípios básicos da Terceira Revelação”.


É de vital importância entender que o referido caráter progressivo do Espiritismo afirma que só devemos aceitar ou absorver algo que for demonstrado como verdadeiro pela Ciência. Segundo Kardec “O Espiritismo não estabelece, portanto, como princípio absoluto, senão aquilo que está demonstrado com evidência, ou que ressalta logicamente da observação”. Ainda dentro deste ponto, nos valemos mais uma vez das importantes observações do Alexandre Fonseca:


“Esse texto não é uma demonstração científica de que os conceitos da Física tem relação com os conceitos presentes em certas obras mediúnicas. Uma demonstração científica requer que se aplique rigores e critérios da Física que de longe não foram levados em conta pelo autor do texto, possivelmente por não conhecer isso. No fundo, não é culpa do autor que deve estar bem intencionado, mas isso não torna o texto correto e é nosso dever alertar os leitores do erro. Em geral, somente quem trabalha com pesquisa científica é que tem noção segura dos critérios necessários para satisfazer o rigor de uma verdade científica. Minha recomendação é que não nos preocupemos com a Física Quântica e, pelo contrário, tomemos cuidado com esse novo ‘misticismo científico’ que tem surgido no meio espírita e espiritualista: querer justificar conceitos espíritas usando conceitos científicos que não se conhece bem, nem sua origem e nem seus limites de validade. Para esses conceitos vale a regra de ouro de Erasto, dita em O Livro dos Médiuns, item 230 do capítulo XX: ‘Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea’”.


Antes de se pensar na releitura da obra de Emmanuel e André Luiz, como propõe Carlos Baccelli, é necessário frisar a importância da releitura das primeiras obras do movimento espírita, como a obra de Kardec, as instruções de Erasto e Timóteo, de Sócrates, do Espírito da Verdade. Seria interessante abolir o uso da palavra “Pentateuco” como referência as cinco obras denominadas básicas (O Evangelho segundo o Espiritismo, O livro dos Espíritos, O livro dos Médiuns, Céu e Inferno, A gênese), visto que elas não são mais importantes que a Viagem Espírita em 1862, que o livro O que é o Espiritismo, nem muito menos as Revistas Espíritas, cujo rico material de informações constitui o verdadeiro laboratório de Kardec.

Ao invés de “Pentateuco”, pode-se chamá-las de “básicas”, porque constituem uma verdadeira síntese de todo o material já publicado nas Revistas e colhido nas reuniões mediúnicas da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, bem como daquilo que ele recebeu de outras dezenas de centros espíritas espalhados pelo mundo. Mas, acima de tudo devemos fazer uma verdadeira releitura da Codificação por ser ela


“A bússola em que podemos confiar. Ela é a pedra de toque que podemos usar para aferir a legitimidade ou não das pedras aparentemente preciosas que os garimpeiros de novidades nos querem vender. Essa obra repousa na experiência de Kardec e na sabedoria do Espírito da Verdade. Se não confiamos nela é melhor abandonarmos o Espiritismo”3.


Finalizando, não é porque tem a assinatura de fulano que se deve aceitar um texto ou uma opinião sem raciocinar, sem analisar, sem questionar. Até porque muitos indivíduos hoje tendem a querer explicar os fenômenos espíritas pelas teorias da Física Quântica que em geral desconhecem. Um bom exemplo é a confusão criada em torno da teoria sobre os universos paralelos, como visto mais acima. Como se pode observar deve-se ter muita cautela ao falar ou escrever sobre um determinado assunto. E muito mais quando se é uma pessoa de destaque.


Bom estudo!


Bibliografia utilizada:

1. KARDEC, Allan. Revista Espírita. 3ª Ed. Rio de Janeiro – FEB, 2009, março de 1863, p. 110

2. Artigo extraído do site: http://www.baccelli.com.br/artigos.htm

3. PIRES, José Herculano. Curso Dinâmico de Espiritismo. Paideia, 4ª Ed. 2000, p. 23, 24

4. _________. Mediunidade. 9ª Ed. São Paulo – Paidéia, 2005, capítulo 3, p. 25 e 26

5. Da FONSECA, Alexandre F. Reformador. Abril de 2011, nº 2.185, p. 38.