“Até a publicação desta obra, os problemas espirituais eram tratados de maneira empírica ou apenas imaginosa. Com ela, o espírito e seus problemas saíram do terreno da abstração, para se tornarem acessíveis à pesquisa experimental. O sobrenatural tornou-se natural. Tudo se reduziu a uma questão de conhecimento das leis que regem o universo”.
(J.Herculano Pires na sua ‘Introdução ao Livro dos Espíritos’, edições LAKE)
A 18 de abril de 1857, numa livraria em Paris, é lançado um livro que traria uma proposta revolucionária para a humanidade. O Livro dos Espíritos, escrito por ordem e sob o ditado dos Espíritos Superiores, é um trabalho vigoroso, um tratado de Filosofia da mais alta magnitude, e nada contém que não seja a expressão dos seus pensamentos.
“O livro começa pela metafísica, passando depois à cosmologia, à psicologia, aos problemas propriamente espíritas da origem e natureza do espírito e suas ligações com o corpo, bem como aos da vida após a morte, para chegar, com as leis morais, à sociologia e à ética, e concluir, no Livro IV, com as considerações de ordem teológica sobre as penas e os gozos futuros e a intervenção de Deus na vida humana. Todo um vasto sistema, numa estrutura livre e dinâmica, em que os problemas são postos em debate (...).
“(...) A simplicidade de “O Livro dos Espíritos” não chega ao ponto de nos obrigar a adaptar sistemas antigos aos nossos princípios, como aconteceu a Santo Agostinho e São Tomaz, em relação a Platão e Aristóteles, para a criação da chamada filosofia cristã”.
“Por outro lado, é curioso notar que “O Livro dos Espíritos” se enquadra numa das formas clássicas e mais fecundamente livres da tradição filosófica: o diálogo”(¹).
Sua primeira edição, que constava de 501 e uma perguntas e respostas, foi reformulada e ampliada, após a segunda edição, para 1 019. As razões o próprio Kardec as dá:
“Na primeira edição desta obra, anunciamos uma parte suplementar. Ela deveria se compor de todas as perguntas que não encontraram ali lugar, onde as circunstâncias ulteriores e novos estudos deveriam dar nascimento; mas como são todas elas relativas, há algumas das partes já tratadas e das quais são o desenvolvimento, sua publicação isolada não apresentaria nenhuma continuidade. Preferimos esperar a reimpressão do livro para fundir todo o conjunto, e nisto aproveitamos para dar, na distribuição das matérias, uma ordem muito mais metódica, ao mesmo tempo que podamos tudo o que tinha duplo emprego. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada como uma obra nova, embora os princípios não hajam sofrido nenhuma mudança, com um número muito pequeno de exceções, que são antes complementos e esclarecimentos que verdadeiras modificações”.(²)
O Livro dos Espíritos, desta forma, não é apenas o marco inicial da Doutrina Espírita, mas, é antes o arcabouço de onde tudo se baseia, se fundamenta, o núcleo de onde as outras obras retiram seu material para o desenvolvimento de suas teses, um núcleo semelhante ao que os ensinos do Cristo representam para o Evangelho.
Dentro de um esquema que tentaremos traçar, inspirados na ‘Introdução ao O Livro dos Espíritos’, de J.Herculano Pires, veremos o seguinte:
1) Podemos encontrar nele mesmo, uma parte que lhe corresponde: são os livros I e II, até o capítulo quinto;
2) ‘O Livro dos Médiuns’, seqüência natural deste livro, que trata especialmente da parte experimental da Doutrina, tem sua fonte no Livro II, a partir do capítulo sexto até o final.
3) ‘O Evangelho segundo o Espiritismo’ é uma decorrência natural do Livro terceiro: As Leis Morais. Tratando-se especialmente da aplicação dos princípios da moral evangélica, bem como dos problemas da adoração, da prece e da prática da caridade.
4) ‘O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo’ decorre do Livro IV, “Esperanças e Consolações”, onde são estudados os problemas referentes às penas e aos gozos terrenos e futuros, as penas eternas, etc.
5) ‘A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo’ relaciona-se aos capítulos II, III e IV do Livro I, e capítulos IX, X e XI do Livro II, assim como as partes dos capítulos do Livro III que tratam dos problemas genésicos e da evolução da Terra.
“Num estudo mais amplo e profundo, seria possível mostrar-se o desenvolvimento de certos temas, que apenas colocados pelo “O Livro dos Espíritos” vão ter a sua solução em obras posteriores. É o que se verifica, por exemplo, com as ligações do Cristianismo e o Espiritismo, que se definem completamente em “O Evangelho”, ou com o problema controvertido da origem do homem, que vai ter a sua explicação definitiva em “A Gênese”, ou ainda as questões mediúnicas, solucionadas no “O Livro dos Médiuns”, e as teológicas e escriturísticas, no “O Céu e o Inferno”.
“Esta rápida apreciação da estrutura de “O Livro dos Espíritos”, em suas ligações com as demais obras da codificação, parece-nos suficiente para mostrar que ele constitui, como dissemos, no início, o arcabouço filosófico do Espiritismo. Contém, segundo Kardec declarou no frontispício, “Os princípios da Doutrina Espírita”. É, portanto, o seu tratado filosófico.
“Por tudo isso, vê-se que Kardec, sem ser o que se pode chamar um filósofo profissional, tinha muita razão ao afirmar, no capítulo VI da “Conclusão”, referindo-se ao Espiritismo: ‘Sua força está na sua filosofia, no apelo que faz à razão e ao bom senso’”.(¹)
Bibliografia:
(1) Pires, J. Herculano, ‘Introdução ao O Livro dos Espíritos, introdução redigida, por ocasião do lançamento especial da LAKE, de sua tradução de “O Livro dos Espíritos”, em comemoração ao seu centenário em 18 de abril de 1957.
(2) Kardec, Allan, Revista Espírita, março de 1860.
Revista Espírita é tudo.
ResponderExcluirO Livro dos Espíritos irá revolucionar o mundo quando for compreendido!
Muito boa a sua explicação sobre o marco inicial do Espiritismo com o livro dos Espíritos.Precisamos estudar mais a respeito desse grande Livro, falo principalmente por mim. Parabéns pelo Blog Anderson.Abração!!!
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