domingo, 18 de janeiro de 2009

Porque não somos somente ESPÍRITAS?

Com esta profusão de manifestos, de questionamentos do porque não se vêem espíritas 'ortodoxos' nos centros, com as famigeradas brigas entre os 'cientificistas' e os 'místicos'(que já vem desde o tempo de Bezerra de Menezes), fico a me perguntar: Porque ninguém se satisfaz somente em ser Espírita?

Kardec deixou claro que se reconhece um espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações, além de que o Espiritismo é uma questão de convicção íntima e não imposição, portanto, a partir do momento em que decido estudar e conformar minha conduta com os preceitos da Doutrina Espírita eu sou espírita.

A razão é a pedra fundamental para o entendimento da vida e da Doutrina Espírita, mas sem o coração disciplinado, acabamos fascinados por qualquer um que fale de amor e caridade, pois sem a disciplina não exercitamos nossa capacidade de analisar, de avaliar, de criticar.

Entretanto, se o coração precisa ser disciplinado, por que não disciplinamos também a razão? Ela não tem supremacia total, embora a sua importância.

E diante disto, fico a pensar: realmente entendemos a proposta espírita?

Não, não acusem os outros. Não apontem os dedos, a não ser para si mesmos.

Autoconhecimento é a capacidade de se analisar e se compreender.

Então, é uma boa dica para compreendermos o porque destas atitudes que de espíritas não tem nada!

O Evangelho segundo o Espiritismo não faz parte da codificação? Porque? Porque em vez de consequências morais, Kardec mencionou religiosas? No fundo, no fundo, não há distinção entre estas duas palavras. A diferença maior são as atitudes que tomamos pela compreensão ou imcompreensão delas.

Por isto, não devemos procurar místicos ou cientificistas num centro, mas ESPÍRITAS somente! Espíritas que vivam e conheçam verdadeiramente, como ansiava Herculano Pires, o Espiritismo.

Ainda questionam a autoridade que teria Kardec ao emitir uma opinião... Meu Deus, não vamos santificá-lo, não é isso que ele queria.

Ele não é nem desejava ser o máximo pontífice do Espiritismo, mas, convenhamos, sua opinião não pode - nem deve - ser descartada levianamente só porque não gostamos de uma ou duas palavras...

Isto é divisionismo, falta de análise, de reflexão.

E isto é o engraçado. Todo mundo, para demonstrar opinião, muitas vezes lança-se a críticas sobre o que, em geral, conhece pouco. E não me eximo este erro.

Uns vivem a criticar o Ramatís, sem ter lido uma página sequer de sua obra. Outros criticam quem o analisa, mesmo tendo lido toda a sua obra.

Alguns aceitam cegamente as obras de Ermance Dufaux, chegando a discutir seus pontos sem analisa-los. Outros aceitam suas obras com ressalvas. Outros, enfim, não as aceitam, por terem analisado seus textos e notado erros graves, uso indevido de nomes de indivíduos espíritas que não ditariam tais textos - como Humberto de Campos -, e nem por isso saem a criar ortodoxismos da vida. Mesmo sendo alvo de críticas pelos primeiros.

Uns pregam a necessidade de críticas, de avaliações, de pesquisas para poder aceitar-se qualquer coisa que venha dos Espíritos. Outros abominam estas atitudes porque não veem motivos para duvidar de nenhum espírito, principalmente se vem através de homens 'santos' como Chico Xavier, pecando por uma idolatria que em Espiritismo não deveria prevalecer.

O respeito pelos indivíduos de conduta reta, digna deve ser mantido. E mantenho o meu pela pessoa de Chico Xavier. Médium de faculdades amplas, de postura digna. Entretanto, mesmo ele sendo uma pessoa de caráter idoneo, isto, em nada, impede que através de sua mediunidade fluam mensagens apócrifas tendo por finalidade estimular nos indivíduos à sua volta e nele mesmo a finalidade de chamar-lhes a atençao para a devida análise criteriosa das mesmas, com todo o rigor possível.

E aí me pergunto novamente: não encontramos estes apontamentos, estas explicações na Codificação?

E porque não as praticamos?

E, após tudo isto, fico a me perguntar, como no início do texto: Porque ninguém se satisfaz somente em ser Espírita?

Nem místico, nem ortodoxo, nem de direita nem de esquerda. Nem Kardecista, nem Divaldista.

Somente ESPÍRITA.

Ou, no mínimo, algo parecido com o Homem de Bem que encontramos descrito tanto no ESE quanto no LE.

Deixemos de ilusões de divisionismos, com estes movimentos que ambicionam reconstruir o Espiritismo no Brasil, sem as gangas que são os nossos defeitos.

Pois foi Kardec que afirmou que:

"Não confiando a um único espírito o encargo de promulgar a Doutrina, o mais pequenino, como o maior, tanto entre os Espíritos, quanto entre os homens, traz a sua pedra para o edifício, a fim de estabelecer entre eles um laço de solidariedade cooperativa, que faltou a todas as doutrinas decorrentes de um tronco único". [A Gênese]

Será que há uma busca por esta solidariedade ao se tentar colocar mais uma pedra neste grandioso edifício?

Será que se busca, ao se divulgar uma idéia, inteira concordância com os princípios gerais, com as leis elementares da Doutrina Espírita, seja ela de origem de um espírito encarnado, seja de um desencarnado? E quando vem deste último, tomam-se todas as precauções para evitar uma mistificação, ou para atestar sua verdade?

Estamos exercitando, de verdade, aquilo que os Espíritos definiram como o verdadeiro espírita?

E afinal, não basta ser somente espírita?





Obs: texto escrito tendo por base discussões na comunidade orkuteana Espiritismo sobre manifestos ortodoxos, ausência de ortodoxos nos centros espíritas, prevalência de princípios entranhos ao Espiritismo quando estes é que deveriam prevalecer numa comunidade espírita.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

As muitas vidas de Chico Xavier

Olá pessoal. Feliz ano novo!

Retorno novamente para continuar com minha saga de relatar fatos que tenham relação com o Espiritismo ou pensamentos meus sobre meus estudos espíritas e, por que não, não-espíritas.

O motivo que me faz escrever estas linhas é o objetivo de dividir com vocês algumas impressões que tive ao ler o livro "As Vidas de Chico Xavier", escrito por Marcel Souto Maior.

Adianto, antes de mais nada, que estas linhas serão breves e são apenas para expressar o que senti e pensei ao terminar a leitura deste livro.

Primeiramente, ao pegar este livro para ler, o que me moveu foi o interesse em conhecer um pouco mais sobre esta grande figura que buscou em seus 92 anos se fazer pequeno, como pequeno deve ser todo aquele que busca crescer espiritualmente. E conhecer, fundamentalmente, um pouco mais sobre sua produção psicográfica prodigiosa.

O escritor consegue imprimir à sua narrativa um ritmo agradável que nos permite saborear bem o livro. Consegue ir e vir passeando pelos anos, pulando datas e retornando a elas para, linearmente ou não, contar a história sob o seu ponto de vista: o do jornalista.

É assim que começando pela morte do Chico, ele consegue contar sua infância. Seus problemas com sua madrinha, que pelo fato do garoto ver espíritos, lhe furava constantemente com um garfo na tentativa de puní-lo. As primeiras confusões a que foi lançado, principalmente quando recebeu menção honrosa após participar de um concurso de redações para alunos da quarta série primária, promovido pela Secretaria de Educação de Minas Gerais.

Entretanto, mesmo com todos os percalços que enfrentou na infãncia, nenhum deles seria maior que o gerado pelo livro "Parnaso de Além-Túmulo", no qual cerca de 59 poetas dariam alí o testemunho de que somos imortais.

Críticas voaram, mas elogios também. E Humberto de Campos foi um dos que, mesmo não acreditando na existência dos Espíritos, afirmava que não sendo os Espíritos os autores da obra, e ele tendo 'imitado' os estilos de cada poeta, ainda assim deveria ser admitido como o mais novo gênio literário, pois só sendo um verdadeiro gênio para obter tal proeza!

É desta forma que o autor do livro, o Marcel Souto, vai contando contos e causos do mineiro do século, as dificuldades que encontrou em sua família quando da aceitação de seu mediunato, de sua indeclinável vontade de não usufruir de um centavo sequer dos milhões que suas obras geravam, das doações [muitas bastante suntuosas] que lhe chegavam às mãos, da imcompreensão de muitos espíritas, que o criticavam, de milhares de pessoas que o idolatravam, de gente que mesmo com todos os livros, com os exemplos, com as súplicas mesmo do próprio Chico, achava mais fácil tentar ver se ele 'adivinhava' algo sobre a sua vida ou de algum ente desencarnado que praticar as lições que constavam nos livros que Chico mais divulgava: O Livro dos Espíritos e O Evangelho segundo o Espiritismo.

E é assim que vemos sua vida passar por nossos olhos a cada vez que trocamos de páginas.

Entretanto, sempre, aqui ou acolá, distante da pesquisa mais aprofundada que o autor do livro poderia fazer, percebemos presentes termos e palavras que destoam dos fatos mesmo que ele relata. É algo como: 'e Chico se perdia na noite com seus fantasmas'; 'Histórias mirabolantes', atos e efeitos semelhantes ao de um mágico' (ao se referir à fenômenos de materialização levados à efeito por Peixotinho), entre outros termos que destoam, e parecem revelar um riso irônico de alguém ainda muito cético que não acredita (talvez muito pouco) naquilo que presenciou, pesquisou e decidiu relatar.

Isto de longe torna o livro fastidioso, cansativo ou agressivo, dando mostras de ser escrito por alguém quase que obrigado. Não, longe disto. O livro é muito bom, mas poderia ser melhor se fosse, bem, melhor pesquisado e avaliado. Entretanto esta é apenas uma impressão que me ficou, e que espero não façam com que você leitor não desita de lê-lo.

É interessante compreender como aconteceu o primeiro Pinga-Fogo, a participação de Chico, a repercussão, a participação de Herculano Pires no debate. As reações de Padres e Bispos àquela desinformação causada pela divulgação do Espiritismo por um médium espírita a que permitia a Tv Tupi.

Como sucedeu o segundo Pinga-Fogo, as dificuldades de saúde de Chico durante toda a sua vida, sua luta interminável contra a idolatria que o seguiria por toda a sua vida, com gente se ajoelhando aos seus pés para beijá-lo, gente que pagava caro só para tirar uma foto com ele, que brigava, xingava, esperneava quando ele, cansado, com dores fortes causadas pelas suas doenças, tinha que interromper o atendimento ao público para descansar. As tentativas diversas de assasinato contra ele, as dificuldades e mentiras causados por quem desejava interromper sua missão, o desgaste causado pelas noites mal-dormidas, pelas frutrações com companheiros que se perdiam no exagero da crítica sem conhecimento de causa ou daqueles que se deixavam levar pelo interesse nos $$$ que o médium poderia proporcionar ao atender ricos e famosos.

Não ficou de fora a velha discussão sobre ser Chico a reencarnação de Kardec ou não. E aqui vai uma advertência: lembra o leitor quano mais acima levantamos a opinião sobre ter tido o autor pouco embasamento para elaborar a obra e fazer citações sobre textos espíritas? Nesta delicada questão, à qual Chico não quis se envolver, por motivos óbvios, o autor do livro afirma ser uma das coincidências o nascimento dos dois na mesma data: 2 de abril.

Vejamos apenas esta citação, pela sua importância:

Chico teria voltado ao planeta para pôr em prática as idéias defendidas
nos livros escritos por ele como Kardec. Algumas coincidências reforçaram a
tese defendida pela maioria dos amigosdo autor do Parnaso.
Chico nasceu em 2 de abril, mesmo dia da morte de Kardec. Em Obras
Póstumas, Kardec previa a própria volta para o fim do século passado ou início
deste. Chico nasceu em 1910.

Só uma coisa torna este relato incorreto: Kardec desencarnou no dia 31 de março 1869, e não no dia 2 de abril como o texto afirma. Observemos que pode ser somente um erro de data, algo que qualquer mortal como nós pode cometer. Ou pode ser uma desatenção de alguém que se incumbiu o dever de escrever uma biografia que deve pecar pela exatidão. Entretanto, este pequeno deslize também não diminui a obra. Do contrário, reforça em nós, o desejo de estarmos sempre alertas, prontos a exercer a análise e buscar comparar as fontes.

O livro caminha, assim, citando as confusões em que ele se meteu por começar a psicografar relatos de jovens mortos que eximiam seus colegas, amigos ou conhecidos da respectiva culpa por assassinato a que eram réus. Uma absolvição realmente do outro mundo!

Fatos como estes e outros são contados no livro e fazem valer o reais que se gastam para comprá-lo. E indico este livro a todos que desejem conhecer um pouco mais daquele que se auto-intitulava um 'Cisco' no mundo, alguém menor que um verme.

Boa leitura e bons estudos!