sábado, 26 de março de 2011

Educação para a Morte


Nascido em 25 de setembro de 1914, José Herculano Pires, jornalista, filósofo, escritor e professor alcançou grande notoriedade dentro e fora do movimento espírita. Com vasta produção literária, incluindo obras filosóficas, manteve durante muitos anos, no jornal Diário de São Paulo uma coluna de crônicas espíritas na qual abordava assuntos de interesse geral relacionados à Doutrina Espírita.

Sua vida foi dedicada ao estudo e divulgação da Doutrina Espírita, procurando entendê-la em profundidade, defendendo-a dos ataques venenosos dos adversários do Espiritismo, e, principalmente, dos muitos que se diziam espíritas para lucrarem algo com ela, seja este lucro financeiro ou não.

Tinha uma maneira muito peculiar de se expressar, e, como bom filósofo poeta, sua fala e sua escrita eram vibrantes, com muitas imagens e bastante sonoridade. Seus textos são riquíssima fonte de estudos, pelo fato de desejar entender em profundidade não só o 'pensamento kardequiano', mas, acima de tudo, os ensinos dos Espíritos. Livros como Os Filósofos, O Espírito e o Tempo, Mediunidade, Curso Dinâmico de Espiritismo, A Pedra e o Joio, Arigó, Introdução à Filosofia Espírita, Revisão do Cristianismo, Agonia das Religiões, O Centro Espírita e Educação para a Morte são alguns dos mais de oitenta livros escritos e publicados por ele e seus familiares.

Até hoje, a sua tradução das obras da codificação é uma referência, pela qualidade e pelo desejo de tentar converter os pensamentos de Kardec e dos Espíritos da língua francesa para a nossa com a maior fidelidade possível. Particularmente, e com imenso respeito aos trabalhos de tradução feitos por tradutores espíritas, e publicados em diversas editoras, a do Herculano é de longe a minha preferida. Tanto por conter uma linguagem ao mesmo tempo limpa, objetiva, quanto pelas inúmeras notas de rodapé que auxiliam na compreensão de diversas passagens das obras codificadas. E deixo aqui a minha sugestão para quem quiser e puder adquirir as obras básicas traduzidas por ele, normalmente publicadas pela editora LAKE.

Não é à toa que Emannuel, Espírito-guia de Chico Xavier, afirmou ser ele "o melhor metro que mediu Kardec". Não à toa, também que, quando a morte o alcançou, ficou no ar uma certeza: o Espiritismo perdia um dos seus maiores intérpretes, e Kardec, o seu 'apóstolo', como carinhosamente o chamou Jorge Rizzini ao intitular a biografia que fez do Herculano.

Coincidentemente, ou não, às vésperas de iniciar a grande viagem, que aconteceu no dia 9 de março de 1979, ele reuniu diversas experiências positivas ou frustradas da experiência humana para afirmar a necessidade de instituir-se na Terra a Educação para a Morte.

Este é um livro muito interessante e que aborda este fenômeno tão natural quanto respirar, mas, que, devido a séculos de educação deformada, o encaramos como aterrador, desesperador, como a nadificação do ser, o seu aniquilamento total. Mesmo muitos que se dizem espíritas, hoje, ainda tem medo da morte. Coisa inconcebível essa, pois são os que têm mais motivos para viverem tranquilos, serenos, destmidos ante a partida própria, seja a de alguém, sendo este um familiar ou um amigo, pois sabem, quando estudam e adiquirem uma convicção verdadeira, uma real fé raciocinada, e veem nas reuniões mediúnicas, as provas, mais do que suficientes desta realidade, que é a vida espiritual a verdadeira vida, nossa verdadeira morada.

Até porque "preparar para a vida é educar para a morte. Porque a vida é uma espera constante da morte. Todos sabemos que temos de morrer e que a morte pode sobrevir a qualquer instante. Essa certeza absoluta e irrevogável não pode ser colocada à margem da vida".

Deve ser debatida, exposta, para que desde jovens possamos ser estimulados a refletir sobre o viver e o morrer, sobre a vida imortal, e para que possamos encarar este momento decisivo com desassombro. "A educação para a morte é, afirma Herculano, portanto, a preparação do homem durante a sua existência, para a libertação do seu condicionamento, o homem se reintegra na sua natureza espiritual, torna-se espírito, na plenitude de sua essência divina".

Herculano também afirma que "somos aquilo que fazemos em nós e por nós no lugar que nos compete". Para continuar afirmando que "a morte marca o limite da tarefa que nos foi confiada e nos transfere para o plano de avaliação de nós mesmos e do que fizemos. O renascimento resulta desse balanço final de uma existência e nos prepara para a seguinte. Os méritos e deméritos de tudo quanto fizermos é exclusivamente nosso, pois o objetivo do Todo é a formação de todos e de cada um para as atividades futuras no desenvolvimento de toda a perfectibilidade possível em tudo, em todos e no Todo".

Enfim, "a Educação para a Morte não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu. É um processo educacional que tende a ajustar os educandos à realidade da vida, que não consiste apenas no viver, mas também no existir e no transcender", é “um curso de bem viver para bem morrer, com plena consciência do sentido e da significação da morte e de sua importância para a vida", e só por isso é necessária.

Espero que estes trechos escolhidos entre tantos outros de igual qualidade, possam despertar o seu desejo de adquirir o livro, ou pegar emprestado na biblioteca do centro ou de um amigo, ou baixar na internet para refletir com J. Herculano Pires sobre o fenômeno da morte e a importância de uma educação voltada para uma melhor e maior compreensão sobre este momento tão fatídico quanto natural para o ser humano, e, que, acima de tudo, não é nada mais que a porta para a liberdade, para a verdadeira vida. E mais do que somente lido, este livro deve ser meditado!

Boa leitura!

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Obs: todas as citações foram retiradas do livro Educação para a Morte.