Afirmou
Kardec, em O que é o Espiritismo que “o Espiritismo tem também seus estudiosos”
e que “quem quer se esclarecer não colhe informações numa única fonte; somente
depois do exame e da comparação se poderá tirar uma conclusão“.
Em obediência a estas afirmações, Hermínio
Miranda foi, de fato, um verdadeiro estudioso da Doutrina Espírita e um de seus
principais e mais notáveis pensadores do século XX e XXI.
As suas obras são verdadeiras obras-primas
do pensamento espiritista e se tornam leitura obrigatória para todo aquele que
afirma ser espírita. Elas já eram obrigatórias, contudo, ante o desencarne
deste fantástico pensador, é um dever moral dos espíritas dedicarem-lhes
atenção e um estudo profundo.
Como afirma o Jáder, logo abaixo em
mensagem que ora reproduzimos, a lista de interesses do Hermínio é vasta e
todos os seus livros tem muito a acrescentar em conhecimento e cultura aos
Espíritas.
Livros como A Memória e o Tempo (que já
foi objeto de resenha neste blog), Alquimia da Mente, Diversidade dos Carismas,
Condomínio Espiritual, O Estigma e os Enigmas, Arquivos Psíquicos do Egito, Swedenborg,
uma análise crítica (tão ao gosto do estilo de análise deste blog), O Evangelho
Gnóstico de Tomé, Diálogo com as Sombras, As Sete Vidas de Fénelon,
Cristianismo: a mensagem esquecida, e Autismo, uma leitura espiritual são
alguns dos cerca de 45 livros publicados.
É uma perda enorme a sua
partida, mas, com bem sabemos, a hora de partir é sempre exata. Não há o que
lamentar no desencarne de tão valoroso irmão, a não ser um sentimento de que o
trabalho de Hermínio deve ser objeto de um estudo atento e profundo. Com
certeza nossos irmãos, do lado de lá, estavam ansiosos com o regresso dele.
Vai, Hermínio, que Deus te permita outras oportunidades para voltar entre nós e
nos iluminar com este vasto conhecimento que tu possuis.
O desejo que fica agora é o de
ver a sua vida ser contada em um livro, como foi feito com tantos, como Chico
Xavier, J. Herculano Pires, o próprio Kardec, entre tantos outros. Que a
espiritualidade encontre algum irmão com inspiração e talento suficientes para
contar a vida deste fantástico pensador em um livro. Já que não foi feito
enquanto ele ainda estava encarnado, que seja agora que está na companhia dos
bons espíritos!
Siga em paz querido irmão,
escriba e professor. Enquanto teu espírito retorna á pátria, teu legado segue
conosco nos iluminando!
DESENCARNA HERMÍNIO MIRANDA
Hermínio (05/01/1920 -
08/07/2013)
"O pássaro agora voa liberto. Nós, que não mais podemos vê-lo, já sentimos saudades do seu canto."
Jáder Sampaio
Na década de 80 a União Espírita Mineira, em
associação com a Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, trouxe três
estudiosos do espiritismo para um seminário sobre mediunidade. Jorge Andréa dos
Santos, Suely C. Schubert e Hermínio C. Miranda.
Hermínio estava incomodado com o púlpito. Não era
expositor, dizia, apenas escritor. Assentado, com um maço de páginas nas mãos,
começou a ler seu discurso. E que discurso! Superado o impacto inicial de ouvir
uma leitura, as palavras dele criavam vida após sair do papel. Eram tantas informações
e com tanta elegância, que eu me dividia entre as anotações furiosas que fazia
e a atenção necessária para acompanhar cada nuance, cada expressão, cada frase.
Se ele temia o público, arrisco minha opinião póstuma: ele fez bonito!
Hermínio era reservado, tinha uma personalidade
anglo-saxônica. A esposa completava-lhe o que lhe faltava. Recordo-me dela
expansiva, simpática, calorosa. Os dois formavam um belo casal, cada um
admirado por suas qualidades díspares.
Hermínio já era nonagenário, com extensa
contribuição ao espiritismo e ao movimento espírita. Durante anos manteve uma
coluna no Reformador, chamada "Lendo e Comentando". Ela trouxe aos
trópicos de forma sistemática o que se pesquisava sobre comunicação dos
espíritos e reencarnação nas terras anglófonas. Creio que das páginas do
Reformador saiu o material para a composição dos livros "Sobrevivência e
Comunicabilidade dos Espíritos" e "Reencarnação e Imortalidade".
Um de seus trabalhos sistemáticos foi com o
atendimento aos espíritos. Apesar da personalidade reservada, ele mostrava um
senso de percepção incomum e uma capacidade de diálogo transformadora. Como
gravasse seus atendimentos, pode nos oferecer uma quadrilogia de livros
intitulada "Histórias que os espíritos contaram", hoje publicada pela
editora Correio Fraterno. A teoria do seu trabalho diferenciado, no qual
incluiu técnicas dos magnetizadores do século XIX, encontra-se em dois livros:
Diálogo com as sombras (FEB) e Diversidade dos Carismas (Lachâtre).
As incursões pelo magnetismo não se restringiram ao
mundo das sombras, e ele fez sessões de regressão de memória com algumas
pessoas. Luciano dos Anjos foi um sujet pleno de recordações da França
revolucionária, que ele registrou no livro "Eu sou Camille
Desmoulins", publicado em 1989, no bicentenário da revolução francesa, com
uma explicação do autor que assegurava não ter podido publicar antes, e não
estar se aproveitando das comemorações. Para quem agora escreve, seria uma
simetria histórica.
Simetria histórica é um dos conceitos que ele
desenvolveu e que foi empregado em muitos dos seus livros. As Marcas do Cristo
(FEB), é um exemplo deste tipo de trabalho, no qual Hermínio compara a
personalidade e história de Paulo de Tarso com a de Martinho Lutero. Este
conceito seria empregado pela Dra. Nadia Luz, em sua tese de doutoramento em
história, publicada na coleção Espiritismo na Universidade.
As biografias foram também uma de suas paixões. Ele
publicou diversas, recuperando para o movimento espírita personalidades que
passariam despercebidas nos dias de hoje, apesar de sua relevância.
Guerrilheiros da Intolerância (Lachâtre), Hahnnemann, apóstolo da medicina
espiritual (CELD), O pequeno laboratório de Deus (Lachâtre) e Swedenborg, uma
análise crítica, são alguns dos exemplos.
Um de seus interesses era com a psicologia, na sua
interseção com os fenômenos espirituais. Um de seus livros neste campo
tornou-se best seller: Nossos filhos são espíritos (Lachâtre). Autismo, uma
leitura espiritual (Lachâtre) e Condomínio Espiritual (Lachâtre) são alguns dos
trabalhos com este perfil.
Creio que um dos temas que mais o intrigava era a
transformação do cristianismo. Ele contribuiu com Os cátaros e a heresia
católica (Lachâtre), Cristianismo, a mensagem esquecida (Lachâtre), Candeias da
noite escura (FEB) e O evangelho gnóstico de Tomé (Lachâtre).
Das traduções, sua obra prima, é A história triste,
de Patience Worth, que desenterrou do esquecimento juntamente com Memória
Cósmica, cuja tradução está perdida em seu hard-disk.
Os livros do egito, que povoa suas recordações de
além cérebro, o Edwin Drood, o livro de Dickens completado pela mediunidade e
igualmente desenterrado por Hermínio, O processo dos espíritas, que reconta a
injusta perseguição da sociedade francesa a um dos continuadores de Kardec,
Leymarie, e muitos e muitos livros que não vou ficar citando, trazem seu nome e
são frutos das suas horas de trabalho sério.
Voa, meu amigo, voa. Vai conhecer novos mundos,
recordar mais vivências, reviver os tempos do Cristo. Voa bem alto, para que um
dia possa retornar falando das luzes e do futuro.
Fonte: http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/
Parabéns, Anderson, pela singela homenagem ao Hermínio. Tudo que se escreva sobre ele a partir de agora servirá para enaltecer e lembrar aos espíritas o quanto ele foi importante no panorama da genuína cultura espírita.
ResponderExcluirComo eu o admirava e continuo admirando e já que o espírito não morre.
ResponderExcluirQuando seus livros se esgotaram no catálogo da revista Reformador, pois eu já havia comprado todos, fiquei desolada e comentando com a esposa do dirigente do centro que eu frequentava, (lá existia uma pequena livraria), e ela tinha alguns livros de Ermínio (Lachatre), comprei alguns e fui comprando, mas desconhecia outros que acabo´de saber neste na postagem do Anderson.
Foram obras que tive o prazer de ler várias vezes, tamanha era minha admiração pelo grande irmão, pela finesse de suas obras.Lamento sua partida, não com dor, mas com uma saudade de uma viagem, mas que sabemos que um dia nos encontraremos e temos (eu) muito que aprender com este espírito de escol que foi Ermínio C. de Miranda