Ultimamente tenho andado um pouco
afastado da atividade de palestrante, de escritor e de blogueiro devido aos
meus estudos universitários. Pois, para mim, não é porque estou em uma
faculdade particular que ficarei limitado pelas facilidades proporcionadas pelo
fato de estudar em uma instituição privada. Além de ser isto algo que não admito em um
aluno, em qualquer nível em que ele esteja não é algo que consigo aceitar em
mim mesmo. Não consigo ficar sem pesquisar outras fontes. Isto é algo que
aprendi nos estudos espíritas e que muito me facilita o dia a dia de estudante
universitário que não deseja ser só mais um na estatística deste nosso Brasil.
E por isto, o tempo que já é escasso, fica ainda menor. Daí minha dificuldade
em escrever.
Bom, esta
digressão é apenas uma forma de querer informar às pessoas que leem este blog o
motivo de estar tão ausente. Pois minha última postagem, com um texto meu data
de outubro do ano passado. E não foi por falta de vontade, mas, infelizmente,
tudo tem o seu tempo e momento. E por falar em momento, é justamente por causa
de um texto que recebi por e-mail que acabei escrevendo estas linhas. Ele me
foi enviado esta semana e a assinatura diz ser do Orson Peter Carrara,
escritor, palestrante e editor de livros espíritas. Ele me fez parar pra
pensar. O texto tem o título sugestivo: Clássicos de Emmanuel.
O objetivo
do texto é fazer uma propaganda de cinco obras psicografadas pelo Chico Xavier
e assinadas pelo Espírito Emmanuel. As obras são: Há dois mil anos, Cinquenta
anos depois, Ave, Cristo!, Renúncia e Paulo e Estêvão. Bom, com exceção de Ave,
Cristo!, todos os outros livros eu li e também recomendo a leitura para quem
ainda não se permitiu a aventura de passear por suas páginas. Entretanto,
estranhei, de fato, a atitude do amigo Orson de preocupar-se em apenas destacar
a importância da leitura destes livros, e deixar de estimular as obras de
diversos outros trabalhadores da seara, tanto de encarnados quanto de
desencarnados. Pois se ele se assustou ao perceber que os neófitos em Espiritismo
não haviam lido ainda estes romances, imagina se ele perguntasse se alguém, entre
estes mesmos neófitos, já tinha lido ou ouvido falar de obras como O Céu e o Inferno, A Gênese e as Revistas
Espíritas, para citar os livros da codificação? Imagina se ele fosse
perguntar se alguém já leu ao menos UMA obra do importantíssimo escriba chamado
Hermínio C. Miranda? E do não menos importante J. Herculano Pires? Não ouso
citar nem o Gabriel Delanne. Uma importantíssima obra dele foi publicada pela
primeira vez em português e, mesmo já tendo a adquirido, ainda não pude
estudá-la, somente folhear suas páginas: Pesquisas
sobre Mediunidade. Uma obra contendo material riquíssimo para as reflexões,
principalmente, dos estudantes e profissionais das áreas de Psicologia e
Psiquiatria, mas que não é divulgada.
Outra
importante obra nesta área e que também não é sequer mencionada em lugar algum,
muito menos em eventos intitulados de científicos, em termos de Espiritismo
são: Condomínio Espiritual e Os Estigmas e os Enigmas, de Hermínio Miranda. Aqui
um detalhe importante: me refiro aqui aos eventos e artigos com os quais tive
contato. Podem até ter trabalhado estes conceitos, entretanto falo dos que
conheço ou li sobre. São obras de um conteúdo riquíssimo e que também deveriam
ser constantemente lembradas. Até Leon Denis, o grande sucessor de Kardec em solo
francês [claro que sem compará-lo à grandeza intelectual do Delanne, comparação
assaz injusta devido à diferença de estilos e de objetivos nos estudos de
ambos], não é constantemente lembrado nem em artigos nem em palestras. Diante
disto, ficarei apenas lembrando e estimulando a leitura de romances por parte
dos neófitos? Não. Da mesma forma
que na escola, desde a alfabetização, eu preciso estimular na criança o
interesse por compreender a interrelação entre as palavras, as frases, os
períodos, os parágrafos e a coerência e coesão do texto como um todo,
apreendendo o seu conteúdo e aprendendo a analisá-lo criticamente, como esqueço
de fazer o mesmo em Espiritismo? Não digo que esta seja a atitude do colega
escritor e palestrante, pois seria de uma leviandade sem tamanho, pelo simples
fato de conhecê-lo muito pouco para querer supor algo em suas atitudes ou
palavras.
Mas, o que
de fato desejo ressaltar, é que devemos estimular a leitura de TODA a
literatura espírita, e não apenas de romances, mesmo que sejam os psicografados
por Chico e de autoria de Emmanuel ou André Luiz. Tesouro muito mais valioso eu
considero a Codificação, e nós nos esquecemos [intencionalmente?] de estudar e
divulgar suas páginas para estudo. Imagina estes livros? Copiando descaradamente
um trecho do texto do Orson, e dedicando às obras por mim já citadas [de
Kardec, Hermínio, Delanne, Denis e Herculano], concordo quando ele diz que
“São livros para serem
lidos e relidos continuamente, tal a preciosidade de suas páginas. Interessante
porque, à medida que amadurecemos na idade, na experiência de vida e mesmo no
conhecimento espírita, mais esses livros crescem em importância ao nosso
sentimento e ao nosso raciocínio. Portanto,
se você não leu, não perca essa oportunidade de muito aprender”.
Realmente, são ESTAS as obras que
devem TAMBÉM, e muito mais, serem lidas e relidas, estudas e esmiuçadas
continuamente, por sua capacidade nos fazerem crescer não só intelectualmente,
mas, também emocionalmente.
E
principalmente para nós, que somos oradores, escritores, comentadores de tudo o
que receba o título de espírita é que fica
o compromisso de não esquecer que uma formação doutrinária eficaz e coerente
começa e continua sempre da Codificação pra frente, tendo os neófitos de
aprenderem desde o momento em que adentram a casa espírita a compreender que é
pela base que se começa o estudo da doutrina e não por obras que visam elaborar
pensamentos tendo esta base por fundamento para reflexão. Não devemos olhar
estes romances com os olhos já acostumados com outras perspectivas, mas,
aprender e ser verdadeiramente estimulados a ler estes livros da mesma forma
que Kardec se predispunha a ler os romances psicógrafos de sua época. E esta
maneira de se olhar só pode ser aprendida e ensinada tendo-se a Codificação
[com as Revistas Espíritas incluídas] como “a bússola” e não mero detalhe não
tão atrativo.
Que fique
claro que não desejamos diminuir o valor que estes livros possam ter,
entretanto, não posso querer atribuir a eles um valor que eu, enquanto
indivíduo participante do movimento espírita, não posso racionalmente
atribuir-lhes porque não possuo recursos nem intelectuais nem doutrinários
suficientemente maduros para avaliar e poder examinar criticamente, sem me
deixar levar pelas opiniões alheias, justas ou injustas, embasadas ou não. E é
isto o que mais me fez refletir. E entenda-se este texto, não como uma crítica
ao que o Orson escreveu, mas, e acima de tudo, estas palavras são no sentido de
complementar a advertência feita por ele, mas, sem perder a característica de
análise crítica.
Enfim, que
possamos estimular a leitura destes romances, mas, que possamos estimular,
acima de tudo, uma eficiente e efetiva movimentação em prol de uma correta
formação doutrinária do adepto do Espiritismo. Estimulando-o a amadurecer como
indivíduo e a ter condições de estudar tanto os belos romances psicografadas,
de um modo geral, mesmo sabendo que não são muitos, quanto os de conteúdo mais
denso e que exigem um poder de concentração maior por parte do leitor. Até
porque, o contrário seria formar uma classe que por si só já é abominável em
qualquer lugar, imagine-se no Espiritismo: a de espíritas não praticantes.
Aqueles que se contentam somente em ler os romances e a ir ao centro pra tomar
passe, beber a água fluidificada e a ouvir a palestra [ou seria o sermão] do
dia...