Como vimos na primeira parte, os Espíritos se comunicam pelo pensamento e a necessidade de vesti-los com palavras é nossa. Além disso, a depender do grau de desmaterialização do Espírito ele pode achar que do outro lado ainda precisa 'verbalizar' seu pensamento para ser entendido, o que não acontece com os que compreendem o mundo em que estão. Quanto à palavra passividade, esta também deve ser entendida conforme a explicação dada, além de ter a questão da influência do médium, que deve ser mais bem entendida.
Depreendemos de tudo o que foi dito que a responsabilidade do médium e o seu envolvimento no processo da comunicação são enormes, pois é ele quem “veste” o pensamento dos Espíritos e os converte em sinais ou códigos lingüísticos que permitam um perfeito entendimento da mensagem que se deseja passar. É por isso, também, que apesar de diversos Espíritos se comunicarem através de um médium, os ditados recebidos terão sempre o cunho pessoal dele, tanto na forma quanto no estilo.
E quando se trata de enfatizar a importância de uma mente bem arrumada e bem-provida de conhecimentos que resulte em facilidade para a comunicação, os Espíritos informam que:
“[...] segundo já foi dito em anterior instrução, vosso cérebro está frequentemente numa desordem inextricável, sendo para nós tão difícil quanto penoso mover-nos no Dédalo dos vossos pensamentos”. [2]
É justamente por este fato que quando os Espíritos encontram médiuns cujo cérebro está cheio de conhecimentos adquiridos em sua atual encarnação, e os seus arquivos mentais repletos de conhecimentos anteriores, latentes, e próprios a facilitar as comunicações, é óbvio concluir que preferirão servir-se dele, cujo processo de comunicação será mais fácil, do que servir-se de um de inteligência limitada e com conhecimentos anteriores escassos.
Nesse caso, encontram os Espíritos no cérebro do médium as palavras adequadas e que correspondem precisamente ao pensamento deles, independente dele ser intuitivo, semimecânico ou mecânico. Depreende-se daí que eles possuem maior preferência por médiuns flexíveis e experimentados. Até porque, o perispírito deles agindo sobre o de quem mediunizam, nada mais terão a fazer que impulsionar a mão para escrever, ou o centro nervoso correspondente ao órgão que deseje manipular.
Quando são obrigados a se servirem de médiuns pouco adiantados a transmissão do pensamento se torna demorada, pois precisam recorrer a formas imperfeitas de expressão, decompondo seus pensamentos e ditando palavra, por palavra, em um trabalho bastante penoso. É um trabalho semelhante ao de comunicar-se por meio de pancadas, onde indicam letra por letra até formarem as frases que traduzem o pensamento que desejam transmitir.
Recorremos neste ponto ao texto do Hermínio Miranda quando nos convida a refletir se já pensamos “em ditar um texto em inglês, por exemplo, a uma pessoa inculta, que mal fale português e que, ainda por cima, seja analfabeta”? Esta é, nestes casos, a dificuldade dos Espíritos. [7]
Essa a razão da felicidade deles quando encontram médiuns suficientemente aparelhados, “munidos de elementos mentais” que podem ser prontamente utilizados. E por este mesmo motivo explica-se a preferência por médiuns experimentados, que, além do conhecimento prático possuam os conhecimentos necessários para vestir seus pensamentos. O codificador justifica esta preferência quando diz que “se o médium não souber ler nem escrever, não dispõe nem mesmo das letras em seu cérebro. É então necessário que o Espírito lhe conduza a mão, como se faria a uma criança. Nesse caso há uma dificuldade material ainda maior a ser vencida”. [3]
Esclarecem os Espíritos, também, que embora o pensamento não seja em absoluto do médium, que o assunto não esteja presente em suas preocupações habituais, que o que eles falem não venha dele de forma alguma, o médium não deixará de exercer sua influência na forma, dando qualidades e propriedades características da sua individualidade.
Resulta de tudo o que dissemos, salvo raras exceções, que tanto do médium quanto dos meios que dispõem para transmitir o pensamento dos Espíritos, este pensamento ressente-se da imperfeição destes meios. É assim que o homem inculto ou o ex-escravo, mesmo analfabeto, poderão dizer as mais belas coisas, exprimir os mais elevados pensamentos filosóficos, científicos ou morais, falando como ex-escravo, pois, como sabemos para os Espíritos o pensamento está acima de tudo.
Dentro deste processo de captação, processamento e conversão da comunicação mediúnica, desde o pensamento do Espírito comunicante até o conhecimento do destinatário encarnado, é fácil perceber que o médium é o elo fraco da corrente.
Ressalte-se que é justamente através do mecanismo da comunicação mediúnica que perceberemos que a educação do médium não é exatamente como médium, mas como ser humano. Pois antes de ser um bom médium ele deve procurar ser uma boa pessoa. É exatamente isto o que encontramos na questão proposta por Kardec, sobre se o desenvolvimento da mediunidade anda de mãos dadas com o progresso moral do médium, ao que os Espíritos respondem:
“Não. A faculdade propriamente dita é orgânica, e portanto independente da moral. Mas já não acontece o mesmo com o seu uso, que pode ser bom ou mal, segundo as qualidades do médium”. [4]
Neste ponto observa-se a importância da influência moral do médium nas comunicações. Como ressalta Erasto, os médiuns somente atraem Espíritos da mesma natureza: se são sérios atrairão Espíritos sérios, se são levianos atrairão levianos. “Por isso é que [quando não são sérios] suas comunicações se mostram cheias de banalidades, frivolidades, idéias truncadas e, não raro, muito heterodoxas, espiriticamente falando”. [5] E quando o médium não é sério, ou é dado misticismos e superstições, um exame severo e escrupuloso se faz indispensável pelo simples fato de que em meio a coisas aproveitáveis, Espíritos hipócritas, sagazes, pseudossábios mesmo, insinuam com calculada perfídia e assustadora habilidade, fatos inventados, comentários mentirosos a fim de iludir a boa-fé daqueles que se dignam a dar-lhes atenção.
Entretanto, Erasto reafirma que “[...] onde, porém, a influência moral do médium se faz realmente sentir, é quando ele substitui, pelas que lhe são pessoais, as idéias que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir e também quando tira da sua imaginação teorias fantásticas que, de boa-fé, julga resultarem de uma comunicação intuitiva”. [6]
Este é o objetivo maior da ‘educação mediúnica’, para ajudar o médium iniciante ou não, a analisar com clareza aquilo que é seu e aquilo que é do comunicante, e, principalmente, para permitir que ele expresse com o máximo de fidelidade o pensamento alheio. Ajunto a isto, também, aquilo que afirmei no meu texto Sobre o Estudo Comparado das Comunicações dos Espíritos.
O que fica de tudo o que foi escrito, é que a responsabilidade do médium é imensa, e que, como verdadeiro intérprete dos Espíritos, seu papel não deve ser passivo, em momento algum. E é justamente pelo fato de os Espíritos possuírem somente a linguagem do pensamento, e não a articulada, por meio de palavras, que transmitem aos médiuns seus pensamentos e deixam a cargo destes vesti-los corretamente, não substituindo, os médiuns, as ideias dos Espíritos pelas suas, evitando, assim, a desnaturação da mensagem. E mesmo compreendendo que a mediunidade independe da inteligência ou condição moral, o mesmo não se dá com o seu uso, podendo ser bom ou mau, de acordo com as qualidades dos médiuns.
Até porque, nestes tempos de renovação social, a sua missão é especial: eles são como árvores que devem distribuir o alimento espiritual aos seus irmãos, e por isso multiplicam-se, permitindo que o alimento seja abundante. Ao espalhar-se por toda a parte, em todos os países e classes sociais, além de não permitirem que haja deserdados ainda provam, aos homens, que todos são chamados. [1]
Bons estudos!
Referências:
[1] Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de J. Herculano Pires, 61ª edição. São Paulo – LAKE, 2006, cap. XIX, item 10, p. 247.
[2] _____________. O Livro dos Médiuns. Tradução da 2ª edição francesa por J. Herculano Pires. São Paulo – LAKE, 2004, cap. XIX, Item 225, p. 196.
[3] Idem, ibidem. Cap. XIX, p. 198.
[4] Idem, ibidem. Cap. XX, item 226, p. 199.
[5] ______________. Revista Espírita. FEB, agosto de 1861, p. 356.
[6] Idem, ibidem. p. 357
[7] Miranda, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. 4ª Ed. São Paulo, SP – Lachâtre, 2006, Cap. XVI, p. 389.
Depreendemos de tudo o que foi dito que a responsabilidade do médium e o seu envolvimento no processo da comunicação são enormes, pois é ele quem “veste” o pensamento dos Espíritos e os converte em sinais ou códigos lingüísticos que permitam um perfeito entendimento da mensagem que se deseja passar. É por isso, também, que apesar de diversos Espíritos se comunicarem através de um médium, os ditados recebidos terão sempre o cunho pessoal dele, tanto na forma quanto no estilo.
E quando se trata de enfatizar a importância de uma mente bem arrumada e bem-provida de conhecimentos que resulte em facilidade para a comunicação, os Espíritos informam que:
“[...] segundo já foi dito em anterior instrução, vosso cérebro está frequentemente numa desordem inextricável, sendo para nós tão difícil quanto penoso mover-nos no Dédalo dos vossos pensamentos”. [2]
É justamente por este fato que quando os Espíritos encontram médiuns cujo cérebro está cheio de conhecimentos adquiridos em sua atual encarnação, e os seus arquivos mentais repletos de conhecimentos anteriores, latentes, e próprios a facilitar as comunicações, é óbvio concluir que preferirão servir-se dele, cujo processo de comunicação será mais fácil, do que servir-se de um de inteligência limitada e com conhecimentos anteriores escassos.
Nesse caso, encontram os Espíritos no cérebro do médium as palavras adequadas e que correspondem precisamente ao pensamento deles, independente dele ser intuitivo, semimecânico ou mecânico. Depreende-se daí que eles possuem maior preferência por médiuns flexíveis e experimentados. Até porque, o perispírito deles agindo sobre o de quem mediunizam, nada mais terão a fazer que impulsionar a mão para escrever, ou o centro nervoso correspondente ao órgão que deseje manipular.
Quando são obrigados a se servirem de médiuns pouco adiantados a transmissão do pensamento se torna demorada, pois precisam recorrer a formas imperfeitas de expressão, decompondo seus pensamentos e ditando palavra, por palavra, em um trabalho bastante penoso. É um trabalho semelhante ao de comunicar-se por meio de pancadas, onde indicam letra por letra até formarem as frases que traduzem o pensamento que desejam transmitir.
Recorremos neste ponto ao texto do Hermínio Miranda quando nos convida a refletir se já pensamos “em ditar um texto em inglês, por exemplo, a uma pessoa inculta, que mal fale português e que, ainda por cima, seja analfabeta”? Esta é, nestes casos, a dificuldade dos Espíritos. [7]
Essa a razão da felicidade deles quando encontram médiuns suficientemente aparelhados, “munidos de elementos mentais” que podem ser prontamente utilizados. E por este mesmo motivo explica-se a preferência por médiuns experimentados, que, além do conhecimento prático possuam os conhecimentos necessários para vestir seus pensamentos. O codificador justifica esta preferência quando diz que “se o médium não souber ler nem escrever, não dispõe nem mesmo das letras em seu cérebro. É então necessário que o Espírito lhe conduza a mão, como se faria a uma criança. Nesse caso há uma dificuldade material ainda maior a ser vencida”. [3]
Esclarecem os Espíritos, também, que embora o pensamento não seja em absoluto do médium, que o assunto não esteja presente em suas preocupações habituais, que o que eles falem não venha dele de forma alguma, o médium não deixará de exercer sua influência na forma, dando qualidades e propriedades características da sua individualidade.
Resulta de tudo o que dissemos, salvo raras exceções, que tanto do médium quanto dos meios que dispõem para transmitir o pensamento dos Espíritos, este pensamento ressente-se da imperfeição destes meios. É assim que o homem inculto ou o ex-escravo, mesmo analfabeto, poderão dizer as mais belas coisas, exprimir os mais elevados pensamentos filosóficos, científicos ou morais, falando como ex-escravo, pois, como sabemos para os Espíritos o pensamento está acima de tudo.
Dentro deste processo de captação, processamento e conversão da comunicação mediúnica, desde o pensamento do Espírito comunicante até o conhecimento do destinatário encarnado, é fácil perceber que o médium é o elo fraco da corrente.
Ressalte-se que é justamente através do mecanismo da comunicação mediúnica que perceberemos que a educação do médium não é exatamente como médium, mas como ser humano. Pois antes de ser um bom médium ele deve procurar ser uma boa pessoa. É exatamente isto o que encontramos na questão proposta por Kardec, sobre se o desenvolvimento da mediunidade anda de mãos dadas com o progresso moral do médium, ao que os Espíritos respondem:
“Não. A faculdade propriamente dita é orgânica, e portanto independente da moral. Mas já não acontece o mesmo com o seu uso, que pode ser bom ou mal, segundo as qualidades do médium”. [4]
Neste ponto observa-se a importância da influência moral do médium nas comunicações. Como ressalta Erasto, os médiuns somente atraem Espíritos da mesma natureza: se são sérios atrairão Espíritos sérios, se são levianos atrairão levianos. “Por isso é que [quando não são sérios] suas comunicações se mostram cheias de banalidades, frivolidades, idéias truncadas e, não raro, muito heterodoxas, espiriticamente falando”. [5] E quando o médium não é sério, ou é dado misticismos e superstições, um exame severo e escrupuloso se faz indispensável pelo simples fato de que em meio a coisas aproveitáveis, Espíritos hipócritas, sagazes, pseudossábios mesmo, insinuam com calculada perfídia e assustadora habilidade, fatos inventados, comentários mentirosos a fim de iludir a boa-fé daqueles que se dignam a dar-lhes atenção.
Entretanto, Erasto reafirma que “[...] onde, porém, a influência moral do médium se faz realmente sentir, é quando ele substitui, pelas que lhe são pessoais, as idéias que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir e também quando tira da sua imaginação teorias fantásticas que, de boa-fé, julga resultarem de uma comunicação intuitiva”. [6]
Este é o objetivo maior da ‘educação mediúnica’, para ajudar o médium iniciante ou não, a analisar com clareza aquilo que é seu e aquilo que é do comunicante, e, principalmente, para permitir que ele expresse com o máximo de fidelidade o pensamento alheio. Ajunto a isto, também, aquilo que afirmei no meu texto Sobre o Estudo Comparado das Comunicações dos Espíritos.
O que fica de tudo o que foi escrito, é que a responsabilidade do médium é imensa, e que, como verdadeiro intérprete dos Espíritos, seu papel não deve ser passivo, em momento algum. E é justamente pelo fato de os Espíritos possuírem somente a linguagem do pensamento, e não a articulada, por meio de palavras, que transmitem aos médiuns seus pensamentos e deixam a cargo destes vesti-los corretamente, não substituindo, os médiuns, as ideias dos Espíritos pelas suas, evitando, assim, a desnaturação da mensagem. E mesmo compreendendo que a mediunidade independe da inteligência ou condição moral, o mesmo não se dá com o seu uso, podendo ser bom ou mau, de acordo com as qualidades dos médiuns.
Até porque, nestes tempos de renovação social, a sua missão é especial: eles são como árvores que devem distribuir o alimento espiritual aos seus irmãos, e por isso multiplicam-se, permitindo que o alimento seja abundante. Ao espalhar-se por toda a parte, em todos os países e classes sociais, além de não permitirem que haja deserdados ainda provam, aos homens, que todos são chamados. [1]
Bons estudos!
Referências:
[1] Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de J. Herculano Pires, 61ª edição. São Paulo – LAKE, 2006, cap. XIX, item 10, p. 247.
[2] _____________. O Livro dos Médiuns. Tradução da 2ª edição francesa por J. Herculano Pires. São Paulo – LAKE, 2004, cap. XIX, Item 225, p. 196.
[3] Idem, ibidem. Cap. XIX, p. 198.
[4] Idem, ibidem. Cap. XX, item 226, p. 199.
[5] ______________. Revista Espírita. FEB, agosto de 1861, p. 356.
[6] Idem, ibidem. p. 357
[7] Miranda, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. 4ª Ed. São Paulo, SP – Lachâtre, 2006, Cap. XVI, p. 389.