terça-feira, 1 de abril de 2014

A EMANCIPAÇÃO INDIVIDUAL COMO REMÉDIO CONTRA A DETURPAÇÃO DOS PRINCÍPIOS ESPÍRITAS





O espírita sério não se contenta em crer: ele crê porque compreende, e só pode compreender recorrendo ao raciocínio. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno, segunda parte, capítulo I, item 14)

Segundo Kardec, não é um centro, um indivíduo nem um grupo de indivíduos que deve ditar as normas ou os princípios aos adeptos do Espiritismo. Segundo o Codificador, a ORTODOXIA ESPÍRITA somente poderia surgir do Ensino Coletivo dos Espíritos, ensino este que deve ser concorde e unânime em todas as partes quanto ao conteúdo, não necessariamente quanto a forma. Na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo, parte deste livro normalmente ignorada pelos Espíritas [noviços e/ou 'antigos'], no seu capítulo segundo, intitulada Autoridade da Doutrina dos Espíritos - Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos, encontramos as orientações sumarizadas sobre o que significa e em que se apoia a Autoridade da Doutrina dos Espíritos, e, também de maneira clara e transparente, as explicações sobre em que circunstâncias poderíamos considerar uma informação, ou um conjunto de informações, um princípio espírita.

Desta forma, esclarece o codificador em A Gênese, capítulo I, item 13: [...] “Cada Espírito assim como cada homem, NÃO POSSUINDO senão uma soma LIMITADA de conhecimentos, INDIVIDUALMENTE, seria incapaz de tratar ex professo das inumeráveis questões referentes ao Espiritismo; eis, igualmente, porque A DOUTRINA, para cumprir a vontade do criador, NÃO PODERIA SER OBRA DE UM SÓ ESPÍRITO NEM DE UM SÓ MÉDIUM; ela não poderia surgir senão da COLETIVIDADE DOS TRABALHOS CONTROLADOS UNS PELOS OUTROS”.

Uma federação, da mesma forma que um grupo ou um indivíduo não tem autoridade para ditar normas dentro do Espiritismo, pois, segundo Kardec, essa autoria somente pertence à "coletividade dos Espíritos". Essa postagem do Herculano deve ser lida e refletida por todos os que participam do que chamamos de "movimento espírita brasileiro", o MEB, pois ela tem por objetivo estimular a emancipação de um movimento através da emancipação dos indivíduos que produzem este movimento. Esta reflexão também não é um ato de condenação de uma ou da Federação Espírita, no geral, mas, de um modelo que não se adequa à própria proposta do Espiritismo. Primeiro porque não existe 'casa máter', pois esta 'casa' não é responsável pelo Espiritismo nem por 'coordenar' o movimento, ou seja, ditando normas, à semelhança, mesmo que de maneira ainda distante, do exemplo da ICAR centralizado no Vaticano. Segundo, porque, conforme expliquei acima, por melhores que sejam as intenções de quem 'federa', elas não podem se sobrepor à necessidade de emancipação de cada grupo e à responsabilidade que todos devem assumir de controlar UNS AOS OUTROS os seus trabalhos. Possuindo humildade para poder instruir quem sabe menos, e humildade para reconhecer suas próprias limitações e, assim, poder pedir ajuda e ser instruído por membros mais experientes e com um sólido e verdadeiro conhecimento do Espiritismo. Conhecimento este comprovado por seu domínio teórico e sua vivência prática. Pois a maior aberração em Espiritismo é alguém dizer que o conhece de maneira profunda sem que ele tenha alterado eticamente sua vivência cotidiana. 

Desta forma deve ser entendida a convocação para a independência feita pelo Herculano Pires. Pois da mesma forma que eu, enquanto indivíduo devo aprender a pensar sozinho, pois ninguém pode nem deve decidir por mim, devido ao fato de que somente eu sou responsável pelo que sinto, penso e faço; da mesma forma é o movimento espírita organizado por estes mesmos indivíduos, que precisam compreender e assumir uma postura independente para que o movimento cresça em quantidade e qualidade. Contudo, neste libelo por independência, não se equivoque, caro leitor, a supor que ignoramos a necessidade de fraternidade e solidariedade, para podermos viver em harmonia com o próximo. Não. Uma coisa não exclui a outra. Ao contrário, há que se supor que quem compreenda o Espiritismo, ao mesmo tempo em que se emancipa, tornando-se independente, também se vincula mais e mais na sociedade em que vive, pois, mudando o ponto de vista pelo qual observa este mundo, compreende o seu lugar como HOMEM NO MUNDO. Lições estas, presentes de maneira bastante clara no livro já citado: O Evangelho segundo o Espiritismo!

Sejamos independentes, para sermos solidários. Sejamos conscientes, para sermos verdadeiramente humildes e fraternos.

* O texto que motivou estas reflexões se encontra na imagem acima, de autoria de J. Herculano Pires.

2 comentários:

  1. Estávamos fazendo uma pesquisa para um documentário e eis que encontramos tão estimado valor neste espaço. Voltaremos!

    http://sonetosdoalemtumulo.blogspot.com.br/
    http://psicografiamusical.blogspot.com.br/

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  2. Anderson, achei seus comentários super atuais. Casam-se perfeitamente com os estudos que fazemos no C. E. Paulo de Tarso, Recife/PE. Obrigada.

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