O espírita sério não se
contenta em crer: ele crê porque compreende, e só pode compreender recorrendo
ao raciocínio. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno, segunda parte, capítulo I,
item 14)
Segundo Kardec, não é um
centro, um indivíduo nem um grupo de indivíduos que deve ditar as normas ou os
princípios aos adeptos do Espiritismo. Segundo o Codificador, a ORTODOXIA
ESPÍRITA somente poderia surgir do Ensino Coletivo dos Espíritos, ensino este
que deve ser concorde e unânime em todas as partes quanto ao conteúdo, não necessariamente
quanto a forma. Na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo, parte deste
livro normalmente ignorada pelos Espíritas [noviços e/ou 'antigos'], no seu
capítulo segundo, intitulada Autoridade da Doutrina dos Espíritos - Controle
Universal dos Ensinos dos Espíritos, encontramos as orientações sumarizadas sobre
o que significa e em que se apoia a Autoridade da Doutrina dos Espíritos, e,
também de maneira clara e transparente, as explicações sobre em que
circunstâncias poderíamos considerar uma informação, ou um conjunto de
informações, um princípio espírita.
Desta forma, esclarece o
codificador em A Gênese, capítulo I, item 13: [...] “Cada Espírito assim como
cada homem, NÃO POSSUINDO senão uma soma LIMITADA de conhecimentos,
INDIVIDUALMENTE, seria incapaz de tratar ex professo das inumeráveis questões
referentes ao Espiritismo; eis, igualmente, porque A DOUTRINA, para cumprir a
vontade do criador, NÃO PODERIA SER OBRA DE UM SÓ ESPÍRITO NEM DE UM SÓ MÉDIUM;
ela não poderia surgir senão da COLETIVIDADE DOS TRABALHOS CONTROLADOS UNS
PELOS OUTROS”.
Uma federação, da mesma
forma que um grupo ou um indivíduo não tem autoridade para ditar normas dentro
do Espiritismo, pois, segundo Kardec, essa autoria somente pertence à
"coletividade dos Espíritos". Essa postagem do Herculano deve ser
lida e refletida por todos os que participam do que chamamos de "movimento
espírita brasileiro", o MEB, pois ela tem por objetivo estimular a
emancipação de um movimento através da emancipação dos indivíduos que produzem
este movimento. Esta reflexão também não é um ato de condenação de uma ou da
Federação Espírita, no geral, mas, de um modelo que não se adequa à própria
proposta do Espiritismo. Primeiro porque não existe 'casa máter', pois esta
'casa' não é responsável pelo Espiritismo nem por 'coordenar' o movimento, ou
seja, ditando normas, à semelhança, mesmo que de maneira ainda distante, do
exemplo da ICAR centralizado no Vaticano. Segundo, porque, conforme expliquei
acima, por melhores que sejam as intenções de quem 'federa', elas não podem se
sobrepor à necessidade de emancipação de cada grupo e à responsabilidade que
todos devem assumir de controlar UNS AOS OUTROS os seus trabalhos. Possuindo
humildade para poder instruir quem sabe menos, e humildade para reconhecer suas
próprias limitações e, assim, poder pedir ajuda e ser instruído por membros
mais experientes e com um sólido e verdadeiro conhecimento do Espiritismo.
Conhecimento este comprovado por seu domínio teórico e sua vivência prática.
Pois a maior aberração em Espiritismo é alguém dizer que o conhece de maneira
profunda sem que ele tenha alterado eticamente sua vivência cotidiana.
Desta forma deve ser
entendida a convocação para a independência feita pelo Herculano Pires. Pois da
mesma forma que eu, enquanto indivíduo devo aprender a pensar sozinho, pois
ninguém pode nem deve decidir por mim, devido ao fato de que somente eu sou
responsável pelo que sinto, penso e faço; da mesma forma é o movimento espírita
organizado por estes mesmos indivíduos, que precisam compreender e assumir uma
postura independente para que o movimento cresça em quantidade e qualidade.
Contudo, neste libelo por independência, não se equivoque, caro leitor, a supor
que ignoramos a necessidade de fraternidade e solidariedade, para podermos
viver em harmonia com o próximo. Não. Uma coisa não exclui a outra. Ao
contrário, há que se supor que quem compreenda o Espiritismo, ao mesmo tempo em
que se emancipa, tornando-se independente, também se vincula mais e mais na
sociedade em que vive, pois, mudando o ponto de vista pelo qual observa este
mundo, compreende o seu lugar como HOMEM NO MUNDO. Lições estas, presentes de
maneira bastante clara no livro já citado: O Evangelho segundo o Espiritismo!
Sejamos independentes,
para sermos solidários. Sejamos conscientes, para sermos verdadeiramente
humildes e fraternos.
* O texto que motivou estas reflexões se encontra na imagem acima, de autoria de J. Herculano Pires.
Estávamos fazendo uma pesquisa para um documentário e eis que encontramos tão estimado valor neste espaço. Voltaremos!
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Anderson, achei seus comentários super atuais. Casam-se perfeitamente com os estudos que fazemos no C. E. Paulo de Tarso, Recife/PE. Obrigada.
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