“De maneira sistemática e contínua, vêm-se tornando comuns algumas pseudorrevelações alarmantes, substituindo as figuras mitológicas de Satanás, do Diabo, do Inferno, do Purgatório, por Dragões, Organizações Demoníacas, regiões punitivas atemorizantes, em detrimento do amor e da misericórdia de Deus que vigem em toda parte”. (Vianna de Carvalho [1])
Não é de hoje que o nosso movimento espírita se vê envolvido por pseudorrevelações de espíritos sistemáticos, presunçosos, escrevinhadores mesmo que, à conta de um palavrório técnico, com termos bem escolhidos e apoiados em palavras como Amor e Caridade, vêm se dedicando, de forma insistente, a tornar suas informações e opiniões pessoais em lei.
Contam ainda com a ajuda de médiuns imprevidentes, muitos verdadeiros desconhecedores, ao que parece, dos mais básicos conhecimentos sobre os escolhos resultantes da comunicação entre os dois mundos e, que, fascinados, sabe-se lá por que motivos se fazem intérpretes e porta-vozes destas mistificações grosseiras, que tanto mal fazem ao Espiritismo e ao movimento espírita brasileiro, e, porque não, mundial.
O Espírito Vianna de Carvalho, no trecho citado acima, faz referência direta a personagens que, de forma contínua, somos ‘forçados’ a ver publicados em livros, divulgados em artigos de seus simpatizantes e, que ironia, até presentes em eventos espíritas de grande porte, alguns tentando abordar [ou deformar] a Ciência Espírita. Que tristeza!
Ele ainda afirma que a Doutrina Espírita, “fundamentada em fatos, estudada pela razão e lógica, não admite em suas formulações esclarecedoras quaisquer tipos de superstições, que lhe tisnariam a limpidez dos conteúdos relevantes, muito menos ameaças que a imponham pelo temor, como é habitual em outros segmentos religiosos” [1].
Até porque “certamente existem personificações do Mal além das fronteiras físicas, que se comprazem em afligir as criaturas descuidadas, assim como lugares de purificação depois das fronteiras de cinza do corpo somático, todos, no entanto, transitórios, como ensaios para a aprendizagem do Bem e sua fixação nos painéis da mente e do comportamento” [1].
Vianna ainda esclarece no mesmo artigo que “da mesma forma como não se deve enganar os candidatos ao estudo espírita, a respeito das regiões celestes que os aguardam, desbordando em fantasias infantis, não é correto derrapar em ameaças em torno de fetiches, magias e soluções miraculosas para os problemas humanos” [...] [1].
Reflexões bastante oportunas não? Até porque “a simples mudança mental já proporciona ao indivíduo a conquista do equilíbrio perdido, facultando-lhe a adoção de comportamentos saudáveis que se encontram exarados em O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, verdadeiro tratado de eficiente psicoterapia ao alcance de todos que se interessam pela conquista da saúde integral e da alegria de viver” [1].
É por isso que José Herculano Pires, eminente escritor, jornalista e professor espírita, em texto introdutório inserido em A Gênese, adverte que “não é através de pretensas revelações mediúnicas de Espíritos e médiuns invigilantes e vaidosos, nem de videntes convencidos de suposta investidura missionária, [...] que se fará o progresso do Espiritismo. Por isso, os espíritas dotados de humildade suficiente para reconhecer a sua incompetência espiritual e intelectual para tanto, servem melhor à doutrina e a preservam das deturpações dos invigilantes” [2].
Semelhante conselho é dado por Kardec quando adverte que nunca será demais a prudência, quando se tratar da publicação de semelhantes escritos, pois as utopias e excentricidades que são abundantes nestes, chocam o bom senso, provocando uma impressão muito desagradável nas pessoas que se iniciam, dando uma falsa ideia do Espiritismo e de suas conseqüências, sem contar que dá armas aos adversários do Espiritismo para ridicularizá-lo.
Há entre estas publicações as que, sem serem más e sem provirem de um processo obsessivo, podem ser consideradas como imprudentes, intempestivas e inábeis.
Em conseqüência disto Herculano Pires afirma que é “muito comum este fato, que vem ocorrendo com espantosa intensidade no Brasil, em virtude da propagação da prática espírita sem o desenvolvimento paralelo do conhecimento doutrinário. Por toda parte aparecem publicações inoportunas, desviando a atenção do público dos problemas fundamentais do Espiritismo, excitando a imaginação e o orgulho de médiuns incultos que, ainda em desenvolvimento, se deixam empolgar pela vaidade pessoal, dando atenção aos elogios de companheiros menos avisados e sendo envolvidos por espíritos pseudossábios, sistemáticos, imaginosos. Todo cuidado é pouco neste terreno” [3] (Grifo nosso).
Vale ressaltar que estes Espíritos evitam os maus conselhos por saberem que seriam ignorados, de maneira que os mistificados os defendem sempre, afirmando: “pode ver que eles não dizem nada de mau”. Mas a moral é apenas um acessório, que só serve para iludir e conseguir ser aceito, pois o que mais desejam é dominar e impor as suas ideias, por mais absurdas que pareçam.
Cabe observar ainda que desde a década de 50 temos inúmeros alertas de diversos escritores espíritas, encarnados e desencarnados, sobre este fato e parece-me que o espírita brasileiro, ao invés de aceitar a existência deste problema e se apressar em corrigi-lo, prefere acreditar em um falso protecionismo espiritual, onde eles nos protegeriam de tudo, até de ter o trabalho de analisar os textos vindos do além; sem contar que cabe a nós, e não a eles, os espíritos, conforme nos ensinam passar toda e qualquer informação dos espíritos pelo crivo da razão e da lógica mais severa, no exercício da vivência espírita do dia a dia.
Até porque, “jamais a mediunidade séria estará à serviço dos espíritos zombeteiros, levianos, críticos contumazes de tudo e de todos que não anuem com as suas informações vulgares, devendo tornar-se instrumento de conforto moral e de instrução grave, trabalhando a construção de homens e de mulheres sérios que se fascinem com o Espiritismo e tornem as suas existências úteis e enobrecidas”.
E o antídoto para essa onda de pseudorrevelações é o conhecimento real, lúcido e profundo do Espiritismo. Além da conscientização de que, para que uma informação seja aceita e deixe de ser considerada mera opinião pessoal e se torne hipótese, ou mesmo um princípio, ela necessita ser legitimada pela universalidade do ensino, através de um verdadeiro consenso entre as informações dos Espíritos, por médiuns desconhecidos entre si, de forma espontânea ou mesmo provocada, através das esquecidas e ignoradas evocações, em grupos sérios, solidamente formados, e por médiuns seriamente conscientes de seus papéis como intérpretes, e não autores, das informações dos Espíritos, conforme estabeleceu o Codificador.
“Desse modo [encerra Vianna], utilizando-se da caridade como guia, da oração como instrumento de iluminação e do conhecimento como recurso de libertação, os adeptos sinceros do Espiritismo não se devem deixar influenciar pelo moderno terrorismo de natureza mediúnica, encarregado de amedrontar, quando o objetivo máximo da Doutrina é libertar os seus adeptos, a fim de os tornar felizes”.
Oportunas as palavras deste Espírito, tendo em vista de que vêm acrescentar mais peso às vozes de meros espíritas encarnados, simples mortais que tentam exercitar a atitude crítica em nosso movimento, submetendo ao cadinho da razão e da lógica todas as observações sobre os Espíritos e as suas comunicações.
Encerramos com uma mensagem do Espírito Erasto: “lembrai-vos, ainda, de que, quando uma verdade deve ser revelada à Humanidade, ela é comunicada, por assim dizer, instantaneamente, a todos os grupos sérios que possuem médiuns sérios, e não a este ou àquele, com exclusão dos outros” [4].
Ótimas reflexões e bons estudos!
Bibliografia:
[1] Carvalho, Vianna de. Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 7 de dezembro de 2009, durante o período de realização do XVII Congresso Espírita Nacional, em Calpe, Espanha e publicado em Reformador, edição de março de 2010, p. 9 -11, cujo título é Terrorismo de natureza mediúnica.
[2] Kardec, Allan. A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução de Victor Tollendal Pacheco; apresentação e notas de J. Herculano Pires. 21ª edição, São Paulo; LAKE, 2003, p. XIII.
[3] ______________. O Livro dos Médiuns. Tradução da 2ª edição francesa por J. Herculano Pires. São Paulo – LAKE, 2004, cap. XXIII, item 247, nota de rodapé, P. 222.
[4] ______________. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de J. Herculano Pires, 61ª edição. São Paulo – LAKE, 2006, cap. XXI, p. 265.
Olá amigo Anderson!!
ResponderExcluirMuito bom o texto!!
Infelizmente se tornou moda publicar livros ditos "espíritas", onde claramente nota-se desconhecimento da doutrina, chegando ate mesmo, essas "revelações" serem contrários aos ensinamentos dos Espíritos na codificação de Kardec.
Por que autoridades ou federações espíritas não alertam os seguidores, simpatizantes e principalmente iniciantes sobre essas espécies de mensagens?
Anderson, este seu artigo é excelente, tanto pelo conteúdo como pela abordagem, unindo coragem de dizer, firmeza de princípios e o foco no bom senso, com o viés de caridade que todos devemos nos ater, no campo da atividade mediúnica.
ResponderExcluirEu queria destacar algumas de suas considerações e alguns dos trechos que você colou aqui, mas acabaria repetindo todo seu artigo... rssss
Você não tem noção o quanto esse artigo vai me ajudar numa situação que ocorre no meu CE.
Parabéns, camarada. Esse artigo merece espaço maior.
Coloca ele na comunidade. Faz isso. Isso vai ajudar muita gente. E também ajudará a divulgar seu site.
Anderson, excelente texto.
ResponderExcluirParabens pelo Blog.
Olá Anderson, estive por aqui.Muito bom e mais que providencial texto.
ResponderExcluirEstarei sempre lendo por aqui, vou seguir o blog, blz?
Abraço!
Muito bom o artigo!
ResponderExcluirAcredito que Vianna de Carvalho esteja referendo-se à "médiuns" como Bacceli e Robson Pinheiro.
Fico com paulo de Tarso:
"Examinai tudo, retende o BEM."
Parabéns Anderson.
ResponderExcluirRecomendo, a todos do blog, que leiam a mensagem de Erasto no capítulo XX de O Livro dos Médiuns. Ela embasa o que foi dito pelo amigo Anderson.